Capítulo 38: Sessão com doutor Nicolas

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Durante o café da manhã, comentamos sobre o quanto nos fez bem a presença de parte de nossa família nos últimos dias e também o quanto sentiríamos falta deles. Naquela manhã de segunda-feira, ao chegar à clínica, fiquei surpresa ao ler um papel que estava em cima de minha mesa. Minhas férias! Como havia me esquecido? Teria vinte dias de folga a partir de quarta-feira! Naquela tarde, recebi uma ligação de um Hyuk muito tímido. Nem parecia que éramos amigos. Ele ligou para me pedir um favor. Com a saída de Nayra, ele ganhou mais alunos para suas aulas de piano e com isso menos tempo para organizar as coisas na escola. Como necessitava com urgência de ajuda, seria mais fácil conseguir alguém para trabalhar na administração por alguns dias do que um novo professor ou professora. Perguntou se eu conhecia alguém. Comentou que a pessoa seria remunerada. Pensei por alguns segundos. Eu conhecia. É claro que conhecia.

— Você? — É claro que ficou surpreso. — Anne, você precisa descansar, é para isso que servem as férias, né?

— Vamos fazer assim, começarei quarta-feira e, para também descansar, irei só após o almoço, o que acha? Já ajuda? Ah... Não precisa me pagar! — Ele agradeceu e desligou. Sua maluca, o que você acabou de fazer? Você precisa se acostumar a vê-lo cada vez menos!

— Tem alguém distraída aqui! — A voz do doutor Nicolas me tirou de meus pensamentos. — Está tudo bem? Vejo que as férias chegaram na hora certa!

— Sim e não! — Ele arregalou os olhos.

— Quer falar sobre isso? — Piscou para mim. Tenho alguns minutos... Venha até a minha sala, se desejar. — Após deixar o convite irresistível, entrou em sua sala. Eu amava conversar com o doutor Nicolas, mas não queria me abrir. Sabia muito bem que bastariam poucos segundos para ele descobrir que estou confusa com meus sentimentos. Mesmo sem desejar revelar o que nem eu conseguia entender, fui até a sua sala. — Ora, ora, ora, aqui está ela. Sente-se, querida. Deseja um chá, café, água...

— Não, obrigada — dei um sorriso e me acomodei em uma poltrona.

— Bom, não temos muito tempo, então conte logo o que a aflige, minha querida!

— Não é assim que as coisas funcionam — brinquei. — Preciso de tempo para me encher de coragem e...

— Anne, você está apaixonada? — Ai, como ele podia ser tão indiscreto?

— Doutor Nicolas...

— Ah, menina, quem é o felizardo? Ele já sabe disso? — Pensou por alguns segundos... — Não, ele não sabe! Você está com medo de se declarar para ele, certo?

— Não estou é... apaixonada. Estou confusa, isso sim! — As lágrimas começaram a cair. Que coisa! Enxuguei-as com os dedos. Doutor Nicolas me ofereceu sua caixinha de lenço de papel. — Obrigada — disse ao pegar um. Contei rapidamente sobre Hyuk, os avós e Sandara. Até falei sobre o lamentável encontro com o pai no Rio de Janeiro. Ele escutou tudo em silêncio.

— Anne, minha querida, tudo se resume a uma palavra: medo. Sente um medo terrível só de imaginar que Hyuk não fará mais parte de sua vida ou pelo menos não dá maneira que fez até agora: Tão presente! E também está com medo de seus sentimentos por ele. Medo de mudança. A mudança de sentimentos e tudo o que isso possa representar. — Eu não contei tudo para ele. Não tive coragem de mencionar o que aconteceu dentro do elevador e mesmo assim parecia que lia minha mente. — Alguém disse: "Não tenha medo de seus medos. Eles não estão lá para assustá-lo. Eles estão lá para que você saiba que algo vale a pena"¹. Poxa, essas palavras combinam muito com o que você está vivendo.

— Acho que é melhor eu trabalhar agora... — Levantei-me da poltrona.

— Não fuja! Ainda não terminei. Sente-se! — Apontou para a poltrona e eu o obedeci. — Ah, Anne, primeiro precisa admitir para você mesma o que sente por ele. Falar em voz alta! — Ele gesticulou. — Se expressar com sinceridade. Querida, todo esse medo que está aí dentro — apontou para o meu peito — significa que valeu a pena cada momento que você viveu com o Hyuk. É evidente que não deseja perder isso e ainda mais agora que está descobrindo um novo sentimento. Ah, minha querida, amigos que descobrem o amor é uma coisa linda! Viva isso, viva intensamente!

— Doutor Nicolas, seria egoísmo de minha parte e... é... eu não estou admitindo nada, mas se fosse isso, aí seria muito egoísmo.

— Egoísmo? Ah, querida! — bateu a mão em sua mesa, mas com suavidade. — Não permita que esses pensamentos nocivos a paralisem, Anne! — As palavras saíram com ternura. — Tenho a impressão de que você está me escondendo algo, algo importante, mas não insistirei com isso. — Ai, como ele é terrível! Não deveria ter entrado aqui. — Para terminarmos a nossa sessão de hoje... — Ele levantou-se de sua cadeira, se aproximou de mim e me aprisionou com o seu olhar. — Quando o medo de perdê-lo for maior do que o medo de revelar os seus mais profundos sentimentos, você agirá! O medo de perder Hyuk será o impulso para a ação, acredite nisso! Nomomento certo o seu coração se abrirá. — Eu meneei a cabeça. Agora você está liberada. — Quando eu estava para sair, ele concluiu com essa pérola e uma piscadela — Ah, não se esqueça de me convidar para ser o padrinho! 


¹C. JoyBell C.

Anne e HyukOnde histórias criam vida. Descubra agora