Querido diário... e uma foda

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Querido diário

               Querido diário

                               Querido diá…

- Ah, quer saber? Foda-se você diário! Eu não preciso seguir as regras para eternizar o fato de que o amor não é para mim. - Uma lágrima solitária brincou pela minha face. - Foda-se as regras! FODA-SE O AMOR! - Soltei um suspiro - E que eu viva a poesia que eu sou.

Me perdoe pela grosseria. Isto mesmo, dirijo-me a ti, sortudo, ou talvez, azarado leitor, que encontrará a minha história de "não" amor.

É, eu sei que a intenção era escrever um diário, mas qual a graça de tantos segredos? Se for para abraçar o clichê, prefiro começar com o famoso "era uma vez". Ou não. Melhor, apenas começarei.  Sabendo que toda estória que se inicia desta maneira - com está pequena e singela frase: “era uma vez” - já se concretizou e a minha não. Ou talvez sim, não sei! Ah, quer saber? Eu apenas começarei.  

***

As folhas secas caem lá fora, enquanto observo-as pela janela de meu apartamento. As analiso preenchendo o chão que, outrora, era vazio, mas neste momento,  inunda-se com a água doce da tempestuosa chuva que se mistura com as pesadas folhas secas. Isto soa tão poético, não acha? É, talvez eu seja só mais uma patética sonhadora, perdida entre a humanidade. Mas afinal, o que há de errado nisto?

Nada. Absolutamente nada! Mas se tiver, eu só tenho uma coisa a dizer: - FODA-SE!

Demorou para eu conseguir me desprender daquele paraíso. Infelizmente, ou felizmente - sei lá -, eu sou amante das poesias vivas e foi exatamente por isso que me perdi naqueles castanhos. Um riso frouxo me escapou. Sim, foram todos castanhos. Mesmo sendo o azul, a minha cor preferida. Azul, a cor da melancolia. Será que as pessoas possuidoras desta cor se sentem assim? Eu me sinto. Sim, os meus olhos são azuis e formam um belo contraste com os meus cachos "dourados" . Ah, uma parte tão pequena do meu corpo, carrega o peso da minha intensidade e tu tens todo direito de definir-me como irrelevante.

Automaticamente, os meus lábios se mexem e colocam em meu rosto o mais lindo sorriso que elxs puderam ver. Eu só não sei se fora sincero. Quer dizer, naquele momento foi, mas e agora? Não mais. Agora vejo com clareza, que talvez sim, o amor seja apenas um sentimento egoísta e que o "amar" é nada mais e nada menos do que um ato de vaidade, que realizamos para tentar preencher o nosso vazio e nos enganar sobre os nossos monstros. É, foi impossível segurar a gargalhada.

Idiota! É isto que sou e eu rio... Eu rio disso. Eu rio de mim. Debochada? Com certeza. Pela primeira vez, não me defino com a incerteza que eu sou e isto me soa estranhamente confuso.  

Por que diabos, eu tenho que ser essa contradição? As coisas seriam tão mais simples se eu fosse rasa . Mas não, infelizmente, insisto em ser intensa. É, eu não rio. Eu oceano de mim mesma. Eu oceano da vida e das pessoas rasas... Mentira. Eu me apaixono por ela. No fundo, meu coração sabe que não há plural, mas não sei se o dela soube interpretar-me. Outro riso frouxo me foge e agora percebo que a chuva está cedendo lugar às estrelas. Elas são tão lindas, não? Sim! Mas talvez a lua seja mais intensa e, por isso, não encontra uma companhia.

Sou uma perfeita admiradora de sua história. A história que eu decidi que seria a verdade. Quer que eu lhe conte? Não se preocupe, mais tarde, conhecerá a minha.

***
Era uma vez, em um reino tão, tão distante - sim, vou ser clichê - ou melhor, em todos os reinos tão, tão, distantes, uma rainha - uma não! A rainha, dona da porra toda - tão única e radiante. Não digo que ela era digna, porque ninguém é,  todos nós sabemos, mas digo: tão maravilhosamente pura e apaixonante que não seria possível resistir a ela. Ah, sua arte da sedução despertava inveja e desejos em seus súditos e fiéis. Cobiçada por homens e mulheres, Luna, nunca fez amor com nenhum. Decidiu que só se entregaria de alma quando o (a) merecido (a) vivesse a intensidade, assim como ela. Impossível, não? Sim. Realmente, aquele desejo não fora realizado. Em um mundo de pessoas que só querem molhar os pés, não fora possível encontrar alguém que quisesse mergulhar. E foi por isso que Luna só degustou o sabor da foda mal fodida. Não suportando tamanha indiferença dos outros, para com os seus sentimentos, a jovem, aos seus vinte e cinco anos, lançou-se ao mar. A morte fora o encontro do seu ser. Abençoada pelos deuses, que perceberam o seu diferencial, fora levada aos céus, para iluminar a noite dos "pequenos apaixonados que apenas rio". Mas para a sua felicidade, encontrou um alguém digno de sua entrega. Na calada da noite, Luna, se rende ao mar, refletindo o gosto do amor, para com as ondas…

***

Se ao seu ver, isto foi apenas um conto qualquer e intensamente brega, vos digo: Concordo plenamente, meu caro. Mas o que é o amor, se não uma ilusão mal feita, porém, idolatrada pela nossa mente?

A chuva se foi e eu também. A noite é longa e eu estou muito a fim de foder o meu corpo, sem o fazer com a minha alma.








***

As luzes piscando e girando, me levaram daquela realidade. O mundo real é muito mesquinho, mas quem não adora os seus pecados luxuosos? As bebidas que me serviam queimavam a minha garganta, aliviando-me a alma. As drogas que nem me lembro mais, roubavam-me  risos não sinceros, que soavam exageradamente altos. Sinceros? Isto é uma mentira deslavada e irrelevante!

A sinceridade é apenas uma palavra que usamos de acordo com os nossos interesses.

Virei uma dose de alguma bebida forte e fui para a pista de dança.

- A sinceridade é limitada e a humanidade, muitas vezes não existe!

Me aproximei para dançar com uma mulher loira de olhos azuis, poucos centímetros mais baixa que eu e com um corpo não muito padrão. Mas quem liga? Sua beleza mística, chamou-me a atenção. Ou não. Foda-se. O seu sorriso era deveras encantador. Mas nada que me tocasse a alma. Ela correspondeu os meus gestos e não tardou para que os nossos corpos começasse a se movimentar juntamente, de forma sensual. Não ousei perguntar o seu nome. Aquilo não tinha importância. A linda moça será só uma vadia. - Não, eu não estou a ofendendo, eu também serei vista assim, não se preocupe.  - Uma vadia que despertará em minha cama e cobrirá com os lençóis, o seu corpo nu, tomará um café e por fim, irá chamar um táxi. Por precaução, deixarei o dinheiro para a sua volta à realidade, em cima do criado mudo, para não ter que vê-la, ao acordar.

O suor escorria por nossas faces. Mais bebidas para brincar pelo meu sangue. Se um poeta tivesse  acesso aos nossos risos, poderia muito bem comprovar que a vida é uma ilusão. Quatro da manhã. O meu corpo exala luxúria. Puxei-a para um beijo. As nossas línguas brincavam em nossas bocas. As mordidas e provocações não paravam. Levei-a para um canto escuro e menos agitado. Enquanto uma de minhas mãos puxava o seu cabelo, de forma sensual, a outra acariciava a sua coxa, subindo discretamente para a sua intimidade. Era hora do convite.

- Aceitas uma foda, bem fodida? - sussurrei ao seu ouvido. - Prometo-te até dizer que te amo, se for preciso. - Mordi levemente a região, e sorri, ao ouvi-la gemer.

- Só se for para sentir minha vagina arder, por conta do prazer que me darás. - Beijou-me e saiu, caminhando para fora da balada.

Tão debochada e vadia quanto eu. O tipo de pessoa rasa, que serve só para uma noite, como eu. Tens razão, eu sou diferente. Ou não. Sei lá. Quando olhei em seus olhos, quis descobrir se azul é realmente a cor mais quente. Fiquei alguns minutos encostada na parede, pensando nas possíveis formas que eu lhe daria prazer, mas lembrei-me que isto acontece naturalmente. Gargalhei sozinha. Respirei fundo e a acompanhei. Fomos para o meu carro. O caminho foi silencioso, mas nada que me incomodasse. É exatamente assim que funciona quando a única coisa que desejas é ser uma puta na noite.

Os gestos desesperados, ressaltaram o desejo. Os nossos corpos sendo despidos rapidamente, o sofá servindo apenas para o início. Os seus primeiros gemidos me incentivaram a continuar. Abusei do momento. Desferi chupões pelo seu pescoço, descendo os beijos, marcando toda a extensão de sua pele. Apertei os seus seios, em seguida, mordi levemente e os chupei. Ao vê-la tão entregue, fui descendo as minhas carícias. Brinquei perto de sua intimidade, passando a língua pelo local. Quando comecei a chupa-la, sorri vitoriosa, ao ver o seu corpo tão entregue a mim. Vê-la agarrando os lençóis, me arrancou sorrisos e quando o seu corpo denunciou o orgasmo, notei que o meu também estava reagindo. A noite foi curta, mas espetacular. O dia amanheceu e só agora eu dormiria. Deixei os meus olhos pesados se fecharem sem se incomodar com aquela estranha se aninhando em meu corpo. Cumpri a promessa dizendo que a amava. Sim, todos querem degustar o sabor desta ilusão.

Intensamente VadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora