Destino

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Ela sumiu em sua fumaça. Um choque. Parecia como se o meu corpo houvesse caído de um penhasco. Os meus olhos se abriram num estalo. O meu peito movia-se rapidamente por conta da minha respiração acelerada. Os raios de sol adentravam o meu quarto. Olhei para o lado e não vi ninguém. A cama estava bagunçada e o meu corpo despido...

Sentei-me na beirada da cama, apoiei os meus cotovelos nos meus joelhos e com a cabeça baixa tentei me lembrar de alguma coisa além do sonho - esforço inútil -. Prendi o ar por alguns segundos e o soltei. - por duas vezes respectivas. - Com a minha destra, esfreguei os meus olhos que ardiam - e eles continuam ardendo -. Naquele momento, tudo o que eu sentia era uma mistura de fraqueza e agitação. Nada, absolutamente nada foi como eu gostaria.  

Não me senti completa. Não houve o preenchimento de minha alma. Eu não sou um alguém feliz depois de uma possível noite maravilhosa de sexo. Só consigo ser uma menina perdida em seus pesadelos. Só consigo não ser nada!

Levantei-me. Uma tontura quase me fez cair - me apoiei na escrivaninha e esperei passar o mal estar -. Caminhei até a varanda, deixei os meus pensamentos soltos por si só.

Dizem que o sol é o nosso astro rei e talvez isso seja verdade - já que eu acredito fielmente neste fato. - O que vejo agrada os meus castanhos. Os seus raios queimando a minha pele, refletindo a imagem de meu olhar, numa pequena poça d'água no jardim, o deixando tão lindo e forte. Uma mentira sendo contada pela própria natureza.

E se todos souberem que sou fraca e vazia? Não há a intensidade da qual me alimento e isto é irrelevante.

Caro leitor, quando despertar, olhe para o céu e admire a mais linda estrela da manhã. E não se esqueça de aplaudir o nosso astro rei.

É, talvez ela tenha razão e o novo amanhecer venha carregado de mudanças, transformando a nossa rotina de forma lenta e gradual. E talvez eu não perceba. Ou sim, sei lá! Eu realmente não sei no que acreditar e no que temer. E por isso tudo torna-se irrelevante!

Escutei a porta de meu quarto se abrindo. Tão cedo para alguém adentrar o meu mundo - mesmo que o dia já esteja quase chegando ao fim -.

Minha mãe aproximou-se. Notei algo diferente. Talvez fosse o vestido longo, porém, de cor clara. Ou o coque alto, porém, não tão perfeito como sempre - mais bagunçado e despojado. - Ou até mesmo a sandália sem salto, que calçava.

- Vamos conversar!

- Não, dona Mary Margareth! Já tivemos essa conversa e ela não precisa ser repetida!

O silêncio se fez presente por um tempo. Os seus olhos me fitavam de forma curiosa. Havia algo diferente ali. Esperança ou culpa?

- Duas de uma vez, filha? - Estranhei aquela pergunta.

- Eu não me lembro! - dei de ombros. - Eram bonitas, pelo menos?

- Me diga você!

- Eu não sei!

- É lógico que não sabe, mas isso não te importa, não é mesmo? - sua voz estava serena demais para uma "possível" discussão. Aquilo estava me assustando.

- Exatamente! Não me importa! - silêncio. - Agora a senhora pode se retirar?

- Isso não foi o suficiente, não é mesmo? - perguntou-me parecendo conhecer as minhas confusões. - E pelo que venho notado, já não é mais prazeroso há tempos!

Silêncio.

- A senhora está enganada! A senhora não me conhece!

- Se eu estivesse, você faria questão de se lembrar! - sua naturalidade estava deveras estranha. - Se eu não a conhecesse, não saberia qual seria sua escolha entre o sexo casual e alguém para te ouvir.

Intensamente VadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora