Olhe bem no fundo dos meus olhos

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Pov. Daniel.

Já era a décima roupa experimentada. Por mais que Emma dissesse estar boa, nada parecia o suficiente. Acabei tacando uma almofada na minha irmã. A filha da mãe se divertia com a minha insegurança. Me joguei na cama, bufando de raiva.

Tata, eu já não sei o que vestir! - eu disse frustado.

Vai nú. Dona Cora irá adorar. - ela disse divertida, deixando-me vermelho.

Nas últimas semanas ficamos mais próximos. Cora se disponibilizou a nos ajudar para convencer a minha irmã a aceitar um tratamento psicológico. Consequentemente, passamos a nos ver quase todos os dias. A sua companhia sempre me fora agradável – por assim dizer, desde a primeira vez que me dera o seu ombro amigo evitando a minha queda por completo, me permitindo o choro, mas não me deixando desolado.

Eu estou brincando. Não precisa ficar vermelho idem a um pimentão! - minha irmã continuava a zombar de mim. - Você está lindo assim. Essa roupa mais casual é o seu estilo. Vá e seja você mesmo. Se permita viver antes de sentir o sabor amargo dos seus possíveis últimos segundos. 

SuspireiEla está certa. Claro que está. Emma sabia o que dizia. Talvez eu tenha sentido tal desespero primeiro, quando peguei o resultado dos meus exames. A diferença entre nós foi a minha entrega a um fato não concretizado... Eu só percebi que ainda tinha uma vida a ser vivida quando me deparei outra vez com a sua fragilidade... Quando estava prestes a perdê-la. 

Hey, eu amo você. Nunca se esqueça disso! - eu disse ao sentir o peso das últimas lembranças quererem transbordar pelos meus olhos.

Eu também amo você. Eu sei que amo! - não pude conter a emoção. As lágrimas molharam o meu rosto. Puxei-a para um abraço apertado. - Eita! - correspondeu o gesto por um breve período. - Mas agora chega de enrolação. Acho que tu não queres deixar a Senhora Mills esperando. 

- Tens razão. Não se preocupe, cuidarei bem da sua sogra! - eu disse assim que me levantei. Emma tacou a almofada de volta dizendo "ela não é minha sogra". Imitei a sua voz num tom de deboche, adorando ver a sua reação fingindo estar brava.

- Vá-te para a casa do caralho, tato! - foi a última coisa que ouvi antes de fechar a porta.

Desci as escadas com calma, tentando controlar a minha euforia. Esfreguei as minhas mãos uma na outra, respirei fundo. Não me ative a minha volta, por tal motivo, só percebi a presença de Regina quando o meu corpo esbarrou no dela. 

Hey, calma, garoto. Minha mãe não morde! - arregalei os olhos. Como ela sabia que eu estava indo almoçar com a mãe dela? 

O amor da sua vida está no meu quarto. Fique à vontade. - mudei o foco da conversa. Acabei rindo da a expressão envergonhada da morena. 

Antes de dar mais um passo reparei nos copos que Regina tinha em mãos. Estava virando rotina o chocolate quente que elas degustação juntas. Vê-la tentando estar na vida de Emma deixava-me feliz. O meu maior desejo sempre foi ver a minha pequena (mesmo sendo mais velha, sempre fora mais baixa) se permitindo a encontrar todas as suas versões, inclusive, a do ser amor. 

***

Segui para o restaurante combinado. Entre semáforos e paradas, pensei e repensei sobre tudo. A minha mente vagou para um dia específico, depois, para a última conversa que tive com mamãe. Mas agora o meu único foco estava no almoço.

Estacione o veículo. Prestei atenção ao todo a minha volta. Na calmaria dos mais velhos, na pressa dos mais jovens, na disposição das crianças... Na minha respiração, na sutilidade dos meus passos, na brisa leve sobre a minha face. 

Intensamente VadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora