Me guarde no bolso do seu jeans rasgado

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Mais um tiro a esmo. E com toda a sinceridade do mundo, nem eu conseguiria explicar o que acaba de suceder. Sem aviso prévio essa desconhecida entrou em minha vida, eu só não esperava que saísse da mesma forma. Ou sim. Ah, nada mais se encaixa. E a cada segundo passado, me pergunto se somos de fato, um quebra-cabeça sem a última peça... ou melhor, sem várias delas.

- Ah minha senhora, ela acha que a casa de outrem é bagunça. - Eu disse á uma velha de vestido longo e florido, que passou por mim, carregando algumas sacolas de compras de supermercado. - Chegou do nada, fez morada, tirou tudo do lugar e se foi!

-Ah minha filha, na verdade, ela nunca irá partir por completo. - ela respondeu-me e eu estranhei.

-A senhora consegue compreender o que estou falando? Tipo, eu não falei em Italiano. - a ajudei com as sacolas, a acompanhando.

- Creio que eu sou fluente na linguagem do amor. - ela disse. - É belo saber que ainda existem pessoas capazes de render-se a ele.

-Não é belo. É auto-suicida - eu disse. - Eu nunca tinha me sentido desta forma!

- E é ruim?

- Sinceramente? de todas as dores que eu já senti, a de ter o meu coração partido foi a mais doce!

- E você sabe o por que?

- Sim. Me fez lembrar que eu tenho um.

- Também - ela disse. - Sabe menina, eu estava ali - apontou para um café do outro lado da rua - Pensando na vida. Lembrando-me do meu primeiro amor, da minha primeira fuga daquilo que parecia intenso demais para mim, da primeira vez que eu parti um coração, de quando o fizeram comigo e do dia em que eu tive que fazê-lo com o meu próprio... Assim como aquela linda moça que se foi, deixando vós para trás, fez. - voltamos a andar.

-O que a senhora quer dizer com isso?

-Está doendo muito mais nela, acredite.

-Como a senhora pode ter tanta certeza?

- Quando não é recíproco os olhos não brilham, assim como os seus! - ela disse. - E se ela não se importasse, não sairia limpando as lágrimas que insistiam em cair.

- Vaidade, talvez?!

- Poderia ser qualquer coisa, menos isso! - respondeu-me. - Mas no fundo, só é o amor sendo amor!

- Sendo complicado?

- As coisas fáceis não tem valor algum na visão dos meros mortais!

-Isso só é mais um clichê da humanidade!

- Isso só é mais uma verdade presente no nosso cotidiano! - pegou as sacolas de volta - Tenha um ótimo dia, menina! - entrou em uma pequena e aparentemente humilde, casa amarela.


A senhora também! - eu falei diminuindo a voz quando vi a porta se fechando.

Continuei parada em frente daquela casa por um tempo. Reparei no vaso de flor colocado na janela de um possível quarto, no pequeno tapete na porta de entrada, nas folhas espalhadas pelo quintal, na cerca de madeira pintada de branco e na caixa de correio. Simples e acolhedora. Era essa a sensação que aquele lugar me passava. E não há como saber se em algum outro momento eu iria me ater a estes detalhes.

Segui a minha trajetória em busca de lugar nenhum, chegando até o lago.

***

Deitei-me na grama verde e úmida, fechei os meus olhos e senti a doce brisa que o vento me trazia. Chorei. Sim, eu chorei sem pudor, vergonha ou constrangimentos, e descobri que realmente não era preciso sentí-los. O motivo? eu não preciso de um, mas tu sabes que ele existe e tem nome - um nome totalmente desconhecido por mim -. Se isso é bom? eu sempre acreditei que sim, só que todos nós sabemos que não existem certezas... apenas ela desconhece essa conjuntura. E infelizmente eu adoro.

Intensamente VadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora