Pov Daniel.A postura de uma mulher impotente não dizia tudo sobre ela. As pessoas podem olha-la e não ver nada além de uma neutralidade assustadora em suas íris claras independente da situação. Emma sempre via a nossa mãe de tal forma. Posso arriscar dizer que creia na mais velha como um alguém mesquinho. Não posso dizer que era justificável os seus modos para conosco, não vou tentar justificar absolutamente nada. Dona Mary falhou como mãe e nós também falhamos como filhos no exato momento em que decidimos fugir, alegando ser importante a nossa ida para São Paulo. Todos fugimos de alguma forma e Emma voltou a fugir ao bloquear os piores momentos de nossas vidas.
A fuga sempre lhe pareceu mais propício, fazendo-a esquecer que nos somos resultados das nossas dores e das nossas conquistas. Me dói ver a minha irmã sentir pavor de se render ao passado. Mas as vezes eu só gostaria de ter a sua coragem para buscar no fundo do meu íntimo os melhores momentos – mesmo que fossem poucos – e descartar todo o resto. Às vezes eu creio em sua força, às vezes, em sua covardia... Mas eu nunca deixei de crer no meu amor pelas suas imperfeições, os seus medos, a sua postura, as suas incertezas... O meu amor pela minha tata.
Várias coisas brincavam pela minha mente, como se fora luzes piscando e jogando as lembranças de alguns sorrisos, de algumas lágrimas, de alguns abraços apertados. Enquanto Regina tentava voltar para a vida de Emma, eu as observava, encostado na porta de madeira do escritório. Quando um riso escapava de minha irmã, um afago dominava o meu coração.
A dualidade entre me perder em Emma ou em Mary, fez-se presente. Voltei a olhar a mulher impotente que a mais velha aparentava ser. Entrei no escritório, fechando a porta por trás de mim. A janela aberta nos permitiu sentir a brisa leve do vento que denunciava a chuva.
Mamãe segurava com a sua destra um copo de cristal, preenchido com um velho uísque e três pedras de gelo. O movimento circular que ela fazia causava uma reação e um mísero barulho quando os gelos se encontravam. Não me parece saboroso pelo seu gosto mas sim pela forma em que a cor do líquido mescla com todo o resto.
Sentei-me na cadeira a sua frente. O silêncio durou por um tempo considerável. Fora possível escutar as nossas respirações ou até mesmo a batida dos nossos corações. E talvez eu esteja exagerando.
Pela primeira vez em anos, acabei me permitindo a analisar cada canto do lugar. Tudo nos remetia ao nosso pai. Desde os santos até a cor da decoração. Um vazio se apossou de mim.
- Será que ele me acharia um covarde , mamãe? - eu disse, lembrando-me de quando contei a verdade sobre a minha doença para Emma. Doeu-me as suas palavras mas fora o incentivo para que eu começasse a me tratar.
- O seu pai teria se sentindo da mesma forma que a sua irmã. Se tem uma coisa que ele não suportava era ver as pessoas aceitando o fim antes dele ter chego. - Mary bebericou o uísque sem fazer nenhuma expressão. - Mas neste exato momento, estaria orgulhoso por vê-lo correr atrás do tempo perdido e estar se cuidando.
Tem coisas que o nosso subconsciente bloqueia como o fato de aceitar que uma perda é para sempre. Mas ao nos ouvir falando sobre o meu pai com palavras no tempo passado percebi que ele nunca mais estaria presente e isto fora mais doloroso do que receber vários e vários socos na boca do estômago.
Por mais egoísta que a minha irmã tenha sido nos últimos tempos, em partes, a sua coragem fora mais específica que a minha. Nesta parte ela já poderia se sentir curada... A perda lhe doeria em paz.
- Eu sempre admirei a sua força, Daniel. Nunca o via se quebrando. Pena que demorou para perceber que não havia como se quebrar pelo simples fato de nunca ter estado inteiro. - a sua voz saiu um tanto fraca. Parecia estar se culpando por algo. - Emma tinha razão quando disse "a nossa família fragmentada". Estávamos todos caídos e mesmo assim tu continuaste a tentar levantar a sua irmã. O amor de vocês é lindo. Você é uma pessoa incrível, idem a seu pai!
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Intensamente Vadia
FanfictionEmma Swan é uma jovem depressiva e com traços de bipolaridade, que depois que vivenciou uma tragédia, fechou-se para o amor. Por mais que cuide e demonstre carinho com seu irmão Daniel, nunca retribui a tão famosa frase: "eu te amo". Mal sabe ela qu...