Ela

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O grande portão um tanto enferrujado do velho cemitério das Rosas; uma cruz enorme de madeira  (não tente imaginar o tamanho) logo na primeira entrada, as covas espalhadas por todo o seu extenso território, as lápides com as tintas fracas (algumas trincadas e sem nomes), a pequena capela com um crucifixo na parede amarela; descascada, o cheiro de vela derretida… Tudo isso me soa assustadoramente sedutor. Mas o que importa continua firme em uma de minhas mãos. Sim, me refiro a caixinha preta.

 
- Quem sabe a minha cura não seja: Uma noite de sexo depravado neste lugar exótico, linda! - a sua falta de espanto me pegou de sobressalto.

- Que pena que ainda é dia! - Respondeu-me. Acabamos gargalhando desta idiotice.

Não que não me cativa essa ideia. Muito pelo contrário. Se transar é o meu remédio e é neste maldito lugar que está a minha cura, quem sabe eu não deva unir o útil ao agradável, não concorda? Definitivamente não. Sim, eu sei que o máximo que conseguiria é ser presa por atentado ao pudor… ou não. Sei lá. Isso ainda existe?

Não adianta. Mesmo que eu fuja, a minha alma encontra uma maneira de voltar a sua promiscuidade. Acredito agora, que isso seja parte de mim. Ou não.

Sucedeu que o meu corpo continuava imóvel perto do portão, analisando cada mísero detalhe daquele lugar… mas não se assuste se eu lhe disser que nada era de fato, como pensei.

Na verdade; as lápides estão pintadas, vejo flores espalhadas para cada ente querido que partiu deixando alguém, há um lindo jardim florido e a capela não está em estado deplorável. A grama verde é bela.

Minha respiração se altera, ficando deveras pesada. As minhas mãos gelam mais do que o normal, os meus olhos começam a lacrimejar e o meu nervosismo até então desconhecido por mim, vem a tona.

- E-eu não consigo! - Confessei, segurando o choro.

- Consegue sim! Você é forte o bastante para ir até lá e dizer que ele mora em seu coração! - Linda segura em minha destra e novamente sinto os seus dedos se entrelaçando nos meus.

- E se não for o suficiente? - não consigo disfarçar a vontade de chorar. - Eu não vou conseguir dizer aquilo! E talvez as coisas não sejam tão simples como pensei!

- Tem coisas que não precisam ser ditas, apenas sentidas e pode ter certeza de que ele, aonde quer que esteja, sente! - os nossos olhares estavam perdidos no horizonte (inexistente) a nossa frente. - E independente de qualquer coisa, eu estou com você!

- O-okay!

Espero que quando os nossos mundos se encontrarem por completo, a vida ganhe algum sentido... Só que infelizmente isso nunca acontecerá... Emma Nolan Swan será eternamente vadia e ela… Ah!…

A vida é doce, meu caro... Até a página dois. A morte é a calmaria… A calmaria mais tempestuosa que venho degustando por longos árduos anos. E nada é capaz de me provar o contrário. Mas se alguém consegui-lo, o problema será outro. O que isso significa? Eu não sei, apenas entramos no cemitério.

Não muito longe do fim, não tão perto do começo, é lá que estava a sua lápide… é lá que eu estava presa por tanto tempo. Não meu caro, não os digo no sentido literal. Mas eu nunca mais fui a mesma, desde aquela manhã chuvosa do mês de outubro...

Me assustei ao se deparar com umas rosas brancas tão vivas. "Mary Margareth". O remorso não habita apenas em mim. Irrelevante. Tento  ser indiferente a qualquer coisa ao meu redor. Não consigo. Dói demais. Dói como eu nunca imaginei. É mais intenso do que tudo que tenho saboreado. Os meus olhos ardem, às lágrimas começam a cair. Respiro fundo. Ajoelho-me e linda também o faz. Tento começar, inutilmente. Ele estava ali na minha frente, eu pude sentir (não se assuste), mas o que isso realmente significava? Me senti um náufrago deixado ao relento da imensidão do universo. Me lembrei de Linda… tão perto. A vida e a ilusão.

Intensamente VadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora