Nenhuma mensagem poderia ter sido mais clara

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("Eu vou fazer uma mudança de uma vez em minha vida")

Escuto o barulho dos seus saltos, a cortina deslizando pelo trilho e as janelas sendo abertas. O sol clareia o meu quarto. Estranho o fato de isso não me incomodar. Não puxo o lençol para cobrir o meu rosto, não acordo com vontade de ignorar a realidade, e anseio para vê-la acordando.

Sinto medo ao lembrar-me de que mamãe jamais entraria em meu quarto se... ah, foda-se.

Não há dor de cabeça, estresse e tudo que deveria haver. Abro os meus olhos lentamente. Sorrio. Olho para o lado e infelizmente o sonho se findaste. Não senti o seu peso sobre os meus braços mas acreditei ser por conta do álcool. Ela não faria isso. Apenas os noturnos seguem esta regra conjecturada. Mito. Todos os fazem, pois todos os somos... pelo menos uma vez em nossas vidas. Ou não.

Eu sempre fui bastante hostil em relação ao previsto, mas talvez o esperado seja o mais correto.

("Vai ser bom de verdade, vou fazer a diferença")

Minha mãe sentou-se perto da cabeceira da cama, e eu me deitei em seu colo. As suas carícias, o seu cafuné, e o seu silêncio momentâneo, eram a primeira dose do antídoto do qual irei precisar aprender a me viciar. Ou não. Não sinto, não sofro, não fujo e não me escondo. Mas no final, saberemos que a verdade é o antônimo destas palavras. Não há dor, não há alegria, não há lágrimas e muito menos sorrisos... E eu sou uma mestra na arte da mentira.

- Eu nunca quis saber o nome dela para não criar laços, mas agora que vejo que mesmo se eu soubesse, isso nunca aconteceria, me sinto a sobra de um furacão. - eu disse. - totalmente devastada.

- E por quê não aconteceria? - perguntou-me.

- Ela agiu como qualquer vadia. - eu disse - transou e se foi!

- Se fosse na casa dela, você também teria o feito? - perguntou-me.

("Vou fazer isso direito... Enquanto eu dobro a gola do meu casaco de inverno favorito")

Fiquei em silêncio, pensando. Talvez ela só estivesse confusa, sem saber se deveria acordar ao meu lado ou fugir feita uma forasteira. Mas do que? Para que? Todos sabem, todos se negam, todos covardes. E me refiro a nós... eu e ela... um singular tão plural dentro do meu ser, que transforma a minha história de "não amor" em algo assustadoramente maravilhoso.

- Você nunca escondeu a sua forma de viver, e talvez ela tenha se sentido como as outras! - minha mãe continuou.

- Se tem uma coisa que ela não se sentiu, foi como as outras. - respondi. - Mas Linda só seguiu as regras! - suspirei.

- Filha, eu não tenho uma teoria sobre as suas regras, mas eu sei que o clichê mais conveniente é de que elas existem para serem quebradas!

- Não neste caso mamãe. Não neste caso!

- E por que não?

("Este vento está soprando a minha mente)

Silêncio. Boa pergunta. Não há uma resposta, apenas a afirmação: Não neste caso, não neste caso. Eu solto uma risada estridente. Não sinto o olhar impolido de dona Cristina sobre mim, pelo contrário, suas mãos calejadas continuam me acariciando. Rio novamente. Droga. Merda. Caralho. Eu só queria aquilo que não tenho... aquilo que não sei... isso que não sinto.

- No amor não há regra. - ela disse.

- Nas minhas regras não há amor! - eu respondi.

Intensamente VadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora