É uma noite longa

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- S-sim! - Respondi sem olhá-la, tentando controlar essas malditas sensações.

- Okay! - Respondeu e sentou-se no lugar de Daniel. - Hum, é bom! - bebeu o chocolate quente que ainda tinha na taça.

- Ei, isto é do meu irmão! - Só então olhei a estranha.

Senti o meu coração disparar. Meu Deus, que mulher incrivelmente linda! Maravilhosa. Ah, qualquer palavra é nada, para descrever tamanha beleza. Desculpe-me, caro leitor, eu ainda estou hipnotizada com aquele sorriso largo, aquela pele branca e com o seu cabelo preto, levemente cacheado, um pouco curto. Como eu disse, não há palavras para descrevê-la e eu até ousaria chamá-la de deusa.

- Escolheu bem! - Bebeu mais um pouco do líquido e falou, tirando-me do transe.

Por conta do líquido, o seu batom borrou. Ah, aquele batom vermelho contornou perfeitamente aqueles lábios grossos, ressaltando aquela pequena cicatriz extremamente sexy no canto superior. Delicadamente, limpei o canto de seus lábios e ela sorriu em resposta. As minhas mãos ainda tremiam. Só então percebi que ela foi a única pessoa que, quando ousou se aproximar, não se assustou e muito menos fragilizou-me.

- P-por quê? - questionei, buscando pela primeira vez, aqueles olhos castanhos carregados de uma intensidade desconhecida por mim.

- Você disse que estava bem! - respondeu, simplesmente.

- Mas você sabia que eu não estava! Ou melhor, que não estou! - minha voz se alterou, mas eu não gritei de propósito.

- O ser humano é engraçado: odeia ser diminuído, mas se assusta quando não o subestimam.

Deixei o silêncio se fazer presente. Aos poucos, senti meu corpo se acalmar. Uma emoção tão presente na minha vida, pela primeira vez, se fez diferente. Não desviei o meu olhar e outra vez, ela sorriu, abaixando levemente a cabeça, desviando o olhar. Jamais me esquecerei dos seus gestos tão delicados. Quando ela brincou com a taça, reparei em suas unhas, não muito grandes, bem desenhadas, pintadas na cor preta. Perfeitas! Olhei para a sua roupa: uma calça jeans justa e um casaco cobrindo quase todo o seu corpo. Consegui evitar alguns pensamentos.  Um sorriso de canto se formou em meu rosto. O meu estômago reagiu internamente. Era algo inusitado para mim. Será que essas são as famosas borboletas? Senti minha boca seca e eu não saberia dizer se era por conta dessa confusão que eu sou, ou por causa dela. O silêncio estava durando muito e foi preciso quebrá-lo.

- Aposto um chocolate quente, que, com toda certeza do mundo, estou com cara de idiota! - Balancei a cabeça, negativamente.

- Ragazza, cioccolata calda, per favore! Questa signora pagherà! (Moça, um chocolate quente, por favor! Que está  mulher irá pagar) - e logo a garçonete a serviu. - Você não está com cara de idiota! - bebeu um pouco do meu capuccino.

- Ei, este é meu!

- Eu sei... Gosto de novos sabores.

Obrigada! - devolveu-me a bebida - Mas, continuando, você está com cara de boba, é diferente!    

Essa ousadia e naturalidade com a qual ela age, é simplesmente surreal. É como se fossemos íntimas. É, parece exagero, mas em um mundo de relações líquidas, um contato maior com um estranho - algo que deveria ser normal - se torna assustadoramente bizarro. Não zombe de mim meu caro, talvez, tu iria reagir da mesma forma. Não, eu não estou exagerando no meu fascínio e muito menos no meu susto.

- Vamos? - Meu irmão me tirou dos meus devaneios. - Mamãe disse que temos que chegar para o jantar! - Só tive tempo de colocar o dinheiro no balcão, antes dele me puxar para fora do estabelecimento.

Intensamente VadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora