Sonho parte 2?

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Tomo um banho demorado. Coloco um vestido de alça, curto, de cor vermelha - bem justo em meu corpo - um salto alto agulha, faço uma maquiagem leve, pesando um pouco no sombreado dos olhos, nos lábios passo um batom vermelho. Faço uma escova em meu cabelo. Me olho no espelho e me assusto ao ver um reflexo não tão vazio. Não sei dizer o que há de novo, ou o que falta do meu velho ser, apenas digo que isto é indiferente. Pego um casaco, para caso faça frio. Me olho no espelho pela última vez, assopro o ar quente no objeto, sorrio com a minha imagem se perdendo em uma "pequena nuvem" branca.

- Agora sim! Tão embaçado quanto minha alma!

Sem pressa, desço as escadas. Minha mãe está em pé, perdida em seu mundo próprio, passando os seus dedos finos sobre a marca do vinho que joguei na parede. Um olhar tão distante e frio. Eu daria tudo para saber o que se passa em seus pensamentos, mas talvez eu não suportaria. Ou sim, sei lá. Às vezes não é nada… as vezes é tudo… as vezes, é só a vida corroendo sua mente.

Ligo para um táxi. Abro a porta. Escuto sua voz me chamando, ignoro-a como sempre faço. Não é proposital. Só estou tentando evitar um interrogatório desnecessário. ... Desejo intensamente que ela não venha atrás de mim e no fundo eu sei que ela não o fará…

Não demora para que o táxi chegue. Evito reparar no senhor que está dirigindo. Peço para que me leve para a balada mais próxima. Encosto minha cabeça no vidro do automóvel, deixando-me a mercê da vida. Noto que as coisas tolas sempre me marcam de alguma maneira, mesmo que eu não as perceba. Por isso que me sinto tão perdida... A minha vida é uma tolice!

Alguns flashes do meu sonho passam como um pequeno filme em minha mente, me fazendo lembrar de temê-lo. Sorrio fraco ao me lembrar do trecho da música "Pais e filhos do Legião Urbana, que fala: Quero colo, vou fugir de casa, posso dormir aqui, com vocês? Estou com medo! Tive um pesadelo!". Isto me trouxe recordações do tempo em que era criança… do tempo em que ele estava lá para me proteger, deixando-me dormir ao seu lado quando o acordava no meio da madrugada. Felicidade era senti-lo me abraçar depois de um pesadelo... Só que agora descubro que ela é uma mera ilusão!

Ninguém pode ser ou fazer alguém feliz por completo. Sempre faltará algo e isso será o suficiente para nos derrubar. Sim, eu sei que às vezes parece que estamos sendo jogados de um precipício. - e eu rio ao pensar que minha alma tenha se viciado na queda livre. -  mas quer saber? Aproveite a paisagem, meu caro.

Sei que sou egoísta, que não me importo com nada… que apenas vou sobrevivendo, dia após dias. Mas é que em algum momento da minha humilde existência, perdi a minha sensibilidade deixando de me importar com a dor de um mero mortal, incluindo a de minha mãe... É, eu sei que isso não é verdade, mas foda-se. Fingimos ser e curtimos a noite!

Um vidro, uma mente perturbada, sonhos estranhos e um passado. Estes sim, me parecerem ser os melhores professores para me explicarem o que é a vida, me fazendo descobrir que as respostas que não procuro serão encontradas em pequenos minutos de diálogos com o meu "eu" e no final, saberei que na verdade não há nada para ser respondido! E mesmo que tudo faça sentido, nada será verdadeiramente real...

Chegamos. A música alta do local me traz de volta a realidade. Pago o taxista, pago o segurança e entro rapidamente no estabelecimento. As luzes piscando, as batidas fortes de um som qualquer, pessoas dançando de uma forma sexy - deixando claro a sua  carência e o desejo intenso por sexo -, as bebidas que logo entrarão em contato com o meu corpo, embriagando-o, me fazendo esquecer que tenho alma, me dão a certeza de que aqui é o meu melhor lugar!

Me acomodo no bar. Faço um sinal pedindo uma bebida forte. Não tardou para me servirem. Eficiente! Adoro pessoas que entendem o que quero, sem muitas palavras

Intensamente VadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora