"Talvez um dia você entenda"

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O barulho irritante do alarme me fez despertar. Sete horas da manhã. Um banho quente, uma calça jeans, uma camisa cinza, um tênis, o celular, um fone de ouvido e pronto, o meu dia já pode começar. A cama está bagunçada e vazia. As cortinas fechadas e os livros espalhados pela escrivaninha. Tudo como deveria estar...

Ou não.

- Daniel, você é um zumbi? Ou só acorda com as galinhas mesmo? - o encontrei no sofá, lendo: "Venha ver o pôr do sol” de Lygia Fagundes Teles, com uma xícara de café e o seu óculos embaçado, como sempre.

- Perdi o sono! - não desviou o olhar de seu livro.

- Ele é louco! - Me sentei ao seu lado.

- Todos os homens para você, são? - fingiu indignação.

- Ele mata ela! - contei-lhe o final e segurei a risada ao vê-lo fechando o livro e o jogando em mim.

- Eu te odeio!

- Ui nervosinho! - lhe devolvi o livro. - Quer dizer, não se sabe ao certo se ela morre. Continue lendo e chegue a sua conclusão! - peguei a sua xícara.

O café estava amargo e quente. Sinceramente? Odiei! Mas continuei ingerindo o líquido. Enquanto as pessoas normais ficam meia hora o assoprando, eu prefiro virá-lo e deixá-lo queimar.

- Os seus livros são um tanto bizarros... Nada de clichês e finais felizes. Por quê? - me questionou, já que tanto este, quanto o outro livro que ele lera outro dia, foram roubados do meu quarto.

- Não sei... Acho que o enredo monótono mostra uma realidade estranha, porém, a que todos nós estamos sujeitos a viver... Sem príncipes encantados e princesas perdidas. Apenas seres humanos, uns loucos, outros doentes! - respondi.

- Não gosto disso! Prefiro ver o mundo de outra forma! A realidade dói muito!

- Então porquê está lendo?

- Estou tentando encontrar respostas para a vida... Preciso aceitar que ela não é perfeita!

- Cuidado! Ir muito a fundo te tornas um louco perdido em meio a tantos doentes! E isso é pior do que parece!. - Ah, caro leitor, prefiro vê-lo em busca de sua princesa, distante do que é a vida de fato, do que desacreditado, como eu - Vou dar uma volta, quer ir?

- Não! Estou me sentindo cansado! - cansado? Aquela afirmação foi deveras estranha, mas decidi não me aprofundar em questionamentos.

- Tudo bem! Até mais! - me despedi, saindo para a minha caminhada.

***
"Você só precisa da luz quando está escurecendo"

O céu nublado é a minha paisagem preferida. O tenho como uma tela imensa, colorida e solitária. Ao mesmo tempo que está em branco, está preenchida.
Os meus olhos passam atentamente por todos os lugares e pessoas. Tão rotuladas ao comum, que me causa risos internos. Qual a graça de acreditar fielmente que se é normal?

Eu não sei!

Passei em uma pequena padaria e pedi um chocolate quente. Sim, hoje eu não quero capuccino... Agradeci e deixei uma gorjeta. As nuvens começaram a ficar escuras, despejando aos poucos, as suas lágrimas.

- Ótimo! - abri os braços, segurando o copo em uma mão, olhei para o céu e sorri com as primeiras gotas da chuva, molhando o meu rosto.

Tão fria. A chuva me encanta, mas essa temperatura não me agrada. Correr ou deixar molhar?

"Só sente falta da chuva, quando começa a nevar"

- Emma Swan, vá se foder! - bebi o líquido doce e quente - É só chuva!

Intensamente VadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora