Me abraçar é o suficiente

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Depois de um longo caminho, onde a minha alma parecia apenas habitar uma matéria inerte, enquanto o meu cérebro sabia o seu destino, cheguei em casa. Minha mãe estava na sala. A ignorei.

Subi as pressas a escada.

Só me dei conta de que estava em seu quarto, quando me deitei ao seu lado, o envolvendo em meus braços. Daniel tinha em suas mãos um porta retrato com minha foto.
Quando ele me olhou, notei que os seus olhos estavam vermelhos. Algo não está certo, eu sinto isso, mas não sei como me aproximar... Como ajudá-lo. E talvez isso não seja possível.

- Eu devia ter me tornado igual a você!

- Dá trabalho ser igual a mim, tato! - respondi, falando baixinho, como se o contasse um segredo. - As vezes dói demais!

- Mas tenho a certeza de que não tanto quanto amar! - engoli em seco. - A dois anos atrás, quando me apaixonei pela Stephanie, acreditei que tudo o que eu fazia era o suficiente para lhe provar do meu amor... Mas, acho que não foi o bastante! - a sua voz estava falha, como se tentasse segurar o choro.

- Nunca é!

- Por mais que o tempo tenha se passado e ela tenha feito o que fez, eu não consigo odiá-la! - enxuguei as suas lágrimas que começaram a cair.

- Você é a melhor pessoa que eu conheço! É bom, puro, adorável! E eu não entendo o porquê dela ter sumido da sua vida!

- Eu também não entendia!

- Agora entende? O que mudou?

- Eu descobri o que ela tanto escondia…  Compreendi o seu medo, o seu desespero depois daquela noite… Pena que ela não me conhecia para saber que isso jamais diminuiria o meu amor… É, talvez seja tarde demais!

- Tato, se você não a odeia, não é tarde… Na verdade, nunca é!

- Talvez eu seja uma exceção para o "nunca"! - se acomodou em meu peito e eu o abracei mais forte - Eu tenho medo, tata!

- De nunca mais vê-la?

- Não… Sobre o amor, eu já estou conformado. Somos uma linda história que encontrou o seu final e que infelizmente me marcou… - respirou fundo - Eu tenho medo de perder você, tata!

- Não diga isso. Não use o termo "infelizmente", tato. Vocês viveram muitas coisas boas juntos. Mas, pensem: vocês eram dois adolescentes imaturos. De fato, não tinha como dar certo! - respirei fundo - E sobre mim… Você nunca vai me perder. Mesmo que eu nunca saiba te ajudar, eu estarei sempre aqui.

- Me abraçar é o suficiente para me ajudar!

Ficamos ali abraçados por um bom tempo. Me sinto tão inútil. Um ser indiferente, idiota e mesquinho. - Sim, eu sei que já o disse repetidas vezes, mas é que essa é a mais pura verdade - Não consigo nem dizer que o amo. Talvez isso ajudasse em alguma coisa, mas não seria verdadeiro e eu posso ser tudo, menos mentirosa.

Eu sempre odiei pessoas hipócritas que agarram a ideia do bom ator, fingindo ser sincero, dizendo aquelas palavras bonitas criadas pelo seu ego. Que gostam de se preencherem com a dor do outro, sentindo-se importantes ao ver uma frase vazia colocando um sorriso no rosto de alguém. Será que se elas soubessem o quão nocivo é este veneno continuariam ingerindo-o e aplicando-o?

Quando decidi ser vadia, aprendi muitas coisas. Entre elas, a ser egoísta sem ferir os sentimentos de alguém. Ou não, sei lá! Só sei que assim, descobri a melhor maneira de alimentar a minha alma faminta por atenção. Ou não!

É, tudo isto pode ser irrelevante, mas eu não arriscaria magoar o meu irmão com uma frase tosca que não seria dita com a intensidade necessária para torná-la bela! Para torná-la o antídoto de toda a sua dor!

Intensamente VadiaOnde histórias criam vida. Descubra agora