Capítulo 6

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  Ulisses?
  Paraliso, olhando boquiaberta para o príncipe e ele persiste me encarando com aquela expressão.
  Ainda bem que eu trouxe Sabrina comigo porque ela, percebendo o momento de desconforto, anunciou o fim das fotos ali.
  — Terminamos aqui, Majestades, podem voltar às comemorações.
  Ouço a voz distante de Sabrina falar uma dúzia de vezes, mas meu contato visual com o herdeiro do trono foi quebrado. Me viro pondo uma mão trêmula sobre o estômago como se pudesse vomitar de nervosismo a qualquer momento.
  Levo a câmera comigo e começo a analisar as fotos. Observo o príncipe em cada uma e tento relembrar os acontecimentos daquela manhã.
  Isso explicava a risada estranha quando falei sobre para quem ia o dinheiro da multa. Também destrincha o fato de não saber trocar o pneu. Era alguém que tinha mesmo muuuuito dinheiro para contratar outra pessoa para fazer esse trabalho. Pasmém, ele nem precisava pedir corrida por aplicativo!
  E esse tempo todo eu me perguntando se o veria de novo. Preferia ter continuado achando que ele fora uma aparição.
  — Eu vou descansar um pouco, comer alguma coisa. Você vem? — ouço Sabrina, mas a dispenso com um acenar de mão.
  Excluo imagens que saíram tremidas ou algo do tipo querendo liberar espaço. Preferia não comer nada para evitar acabar vomitando de verdade.
  Tinha conhecido o príncipe e nem me dei conta. Onde eu estava com a cabeça naquele dia?
  — Outro dia fui no Light Way conhecer a nova etapa e encontrei algumas fotografias incríveis de uma tal de Joana Medeiros, suponho que seja você. — A voz de Ulisses, quer dizer, de Enzo chega aos meus ouvidos.
  Giro os calcanhares rapidamente para ver o aniversariante a uma distância de dois braços. Pisco rapidamente e seguro os joelhos antes de curvarem ligeiramente. Um besteirol imenso, mas eu nem conseguia pensar direito. Por que ele não fingiu desconhecimento?
  — Alteza — cumprimento. — Sim, são minhas. As fotos. As fotos são minhas.
  Abaixo o rosto querendo esconder a vergonha certamente estampada nos olhos. Ele sorri de leve e deixo que fale.
  — Passei a tarde trocando pneus quando voltei para casa naquele dia. Acho que melhorei bastante.
  Eu teria caçoado se não fosse meu estado quase anestesiado.
  — E eu fazendo as fotografias expostas no shopping.
  — Interessante... — murmura. — Julgo gente cheia de equipamento na frente da minha casa. Sempre me pergunto o que as emissoras vão falar sobre nós, mas agora sei que não são as únicas.
  De modo automático, estreito os olhos.
  — Estereotipar é feio. — Repreendo e logo volto atrás. Vai saber o que poderiam fazer comigo se soubessem como o abordei. Adeus, contratinho.
  — Todo mundo já fez ou faz diariamente, às vezes é inconsciente. — Dá de ombros. — Viu só? Agora que aprendi sobre essa possibilidade em específico posso fazer diferente.
  Gesticula indicando a mim e todas as coisas que uso para trabalhar.
  — Você tem um bom ponto. Como boa crédula, só vou acreditar na sua mudança vendo.
  Meu tempo de descanso estava indo pelo ralo durante o papo. Só que... eu queria prolongar a conversa.
  — Boa crédula?
  — Foi ironia.
  — Sei. — Houve uma pausa antes que continuasse: — Então quer dizer que é fotógrafa.
  Aponta para todo o equipamento e apenas concordo com a cabeça.
  — Bem talentosa, por sinal. Está gostando da festa? Quer uma bebida?
  Seguro a careta de contrariedade. Beber em horário de trabalho? Bem, poderia ser sem álcool... bem, garçons já serviam. Por que ele oferecia?
  Ok, o papo estava esquisito. Ok, talvez eu fosse esquisita.
  — Obrigada. Estou, tá bem divertida. — Digo mesmo sem aproveitar. — e não, minha assistente foi buscar pra mim. — Minto na súbita esperança de que vá embora.
  — Ah. Você está bonita essa noite, quase não a reconheci.
  Quer dizer que eu estava feia naquele dia?
  Forço um sorriso. Provavelmente estava todos os dias. Mas essa era uma observação que apenas a própria pessoa devia ser permitida a fazer.
  — Obrigada e você tá mais arrumado hoje, sem óculos também... não teria te reconhecido se não tivesse me encarado. — Ou olhado daquela maneira. — Fico meio distraída quando trabalho.
  — É perceptível. — Ele ri e observa a festa. — Preciso ir, bom trabalho.
  — Igualmente. Digo, aproveite a festa. — Corrijo de imediato e noto seu aceno de compreensão. Assisto-o se afastar e solto em tom mais baixo: — Feliz aniversário.
  Sento na cadeira mais próxima e Sabrina chega com dois copos d'água. Pego o que oferece e bebo tudo rapidamente.
  — O que você tem?
  — Se eu te disser que já conheci o príncipe antes e não sabia, você acredita?
  — Como assim?!
  — Lembra o rapaz que ajudei certo dia?
  Ela arregala os olhos à medida que entende aonde quero chegar.
  — Não! Mentirosa.
  — Pior que é verdade.
  Conto sobre meu encontro com o príncipe enquanto esteve em busca de água. Sabrina à beira de um surto e gargalhadas.
  Descansamos nas cadeiras quando Maísa se aproxima, endireito-me mas ela puxa um assento antes de se acomodar e falar.
  — Desculpem incomodar no horário de descanso de vocês. Preciso falar com você, Joana.
  Fico com um pouco de medo, imaginando todos os motivos para uma bronca.
  — Acredito que o trabalho que fez até agora foi ótimo, sou grata por isso. Sua Alteza veio conversar comigo solicitando um novo contrato com você.
  O que está acontecendo? Meu medo dissipa, ela não me daria uma bronca.
  — Ele pediu para que fosse ao Alvorada por uma semana fazer fotos da família. Será um presente pra Sua Majestade Imperial. Você se dispõe a fazer esse trabalho?
  Imagino que seja para a mãe.
  Pondero silenciosamente. Eu não poderia aceitar nenhum trabalho para a semana da sessão de fotos, mas o preço que pagariam devia fazer valer.
  — Aceito. Mas preciso saber qual semana e se vai ser algo muito grande pra decidir quais equipamentos levar.
  — Semana que vem e não vai ser nada grandioso.
  Relanceio Sabrina e volto para Maísa.
  — Tudo bem, preciso de algum passe pra entrar lá?
  — Um carro irá buscá-la. E sinto dizer que dessa vez será só você. Medida de segurança. Não que não confiamos na sua assistente, mas todo cuidado é pouco.
  Estranho aquilo, mas assinto de leve. Estariam eles vivendo sob uma ameaça constante desde o massacre da Casa anterior?
  — Está bem.
  — Combinado? — Assinto e ela demonstra breve animação. — Obrigada, envie um e-mail com o contrato para firmarmos.
  — Não há de quê.
  Quando se afasta, olho em direção a Sabrina que dá de ombros.

Princesa da AlvoradaOnde histórias criam vida. Descubra agora