— Como foi o feriado? — Pergunto a Sabrina quando a mesma entrou no estúdio na sexta-feira. — Saiu com alguém?
— Passei o dia em casa e você?
— Saí pra caminhar, até fui no Plano Piloto e tirei algumas fotos.
— Posso ver?
— Tá na câmera que eu deixo em casa.
— Ah, poxa... já falou com sua mãe?
Assinto. Logo que eu chegara em casa na noite anterior chamei seu número e passamos horas conversando.
— Enzo vem hoje?
— Por que acha que sei quais dias ele vai vir?
— Porque é mais próxima dele do que eu.
Fazia sentido, mais do que eu queria admitir fazer.
— Não, eu não sei se ele vem hoje.
— Por que disse que não ia na capital e depois acabou indo?
— Só mudei de ideia de última hora, posso ser bem instável às vezes.
Ela arqueia as sobrancelhas.
— E tá agindo toda na defensiva, por quê?
— Por que tá me interrogando?
Cruzo os braços e a encaro em desafio.
— Não faço mais perguntas — responde levantando os braços e senta em sua cadeira.
Encaro-a até ouvir a porta ser aberta e uma brisa morna invadir o estúdio. Sorriso brotou em meus lábios quando vi Enzo de pé e lancei um último olhar na direção de Sabrina antes de entrar na minha sala.
Ouvi seus cumprimentos e depois o príncipe apareceu na porta da divisão, ele a fechou devagar e caminhou a passos calmos até mim. Enrosquei os braços no pescoço dele e beijei seus lábios o mais demorado possível.
— Como foi a missa?
— Teria sido melhor se meus pensamentos não saíssem de você.
— Você parecia mesmo pensativo naquele camarote.
Ele franze as sobrancelhas.
— Assistiu pela televisão?
— Passei lá, mas foi por pouco tempo. Tava no shopping e aproveitei pra ver a festinha.
— Ainda bem que não te vi ou teria pensado estar delirando em plena missa. — Solto uma risada e o aperto num abraço. Ele inspira o meu cabelo e se abaixa até chegar na altura do ouvido para sussurrar: — Acho que foi o melhor Dia dos Namorados da minha vida inteirinha.
Pressiono a boca levemente em seu pescoço e o sinto estremecer. Sorrio e inclino a cabeça querendo encará-lo.
— Eu também acho.
Enzo junta nossos lábios e suas mãos deslizam para debaixo da minha blusa explorando as costas. Me afasto devagar apoiando as mãos em seus braços.
— Precisamos nos controlar, mesmo aqui.
Um leve chiar sai de sua boca quando desanima. Seguro sua mão enquanto se senta e passo a andar pela sala, as mãos apoiadas na cintura.
— Sempre fico meio ansiosa antes de viajar. Não consigo parar de pensar em planejar e querer arrumar as malas.
Enzo abre um sorriso divertido.
— Ansiosa pra se ver longe de mim?
— Claro. — Brinco e dou risada quando ele faz careta. — Se eu pudesse te levaria comigo.
Incapaz de ficar longe tanto tempo na mesma sala, faço o caminho de volta. Sento em seu colo e espalmo as mãos no peitoral.
— Passo na sua casa antes de ir. Nós vamos tentar me enfiar numa mala de qualquer jeito.
Abro um sorriso largo e brinco com seu cabelo. Enzo fecha os olhos, aproveitando o cafuné.
— Sete de julho é aniversário da minha avó, isso quer dizer que vou ver Serena.
Ele volta a me encarar.
— Faça um carinho nela por mim.
— Pode deixar.
Enzo brinca com minha mão e deito a cabeça no ombro do rapaz, inspirando fundo o cheiro dele.
Por alguma sorte, ouvimos conversas do lado de fora e nos separamos antes que Sabrina enviasse uma mensagem. Ele me deu um beijo demorado antes de sair fingindo ter tido uma conversa de negócios.☆
Os outros dias pareceram com aquela sexta. O príncipe ia até o estúdio depois do trabalho e passávamos as tardes juntos. Meu humor sempre melhorava ao vê-lo cruzar a porta, não importava o quanto eu lutasse contra as expressões faciais.
E mesmo na festa junina que meu pai e Suzane organizaram na mansão, foi difícil disfarçar. Eu nem sabia que a Família Imperial compareceria, mesmo que Melissa e minha madrasta fossem muito próximas, eu sequer desconfiava.
Fui pega de surpresa ao ver o jovem cruzar o pivotante ao lado da irmã. Seus olhos varreram o lugar de imediato, mas antes que me encontrassem, corri escada acima com cuidado para não cair e fiquei escondida em meu antigo quarto.
Me estirei preguiçosa na cama, sorrindo para meu pingo de maldade. Ele passaria boa parte da noite procurando.
Eu e Sabrina tínhamos marcado de sair para beber pouco antes das dez horas. Eram quase oito e meu pai me levaria até o lugar. Eu vestia uma calça jeans rasgada, camisa quadriculada verde e bota de cano baixo preta. Até mesmo havia prendido os cabelos num par de tranças e caprichado na maquiagem. Sabrina não teria o que reclamar quando me encontrasse.
Tirei algumas fotos e voltei à festa, segurando no corrimão para não tropeçar na escada e terminar com uma entrada triunfal.
Procuro Enzo com o olhar e o encontro conversando com dois homens de cabelos grisalhos e um terceiro mais novo num canto da imensa sala. Me aproximo devagar do meu pai que conversava com a esposa e limpo a garganta. Eles se viram para me olhar ao mesmo tempo.
— Vou pra Recife dia treze.
Ele apoia as mãos na cintura, imito o movimento.
— E só avisa agora? — questiona.
— Sim. A trabalho dessa vez, tia Mari me convidou pra acompanhar ela numa cidade e aceitei.
O meu pai olha de mim para a esposa.
— Percebe, Suzane? Quando cria asas, não tem como segurar mais. Daqui a alguns anos Pedro e João farão igual. Essa daí só quer farrar e viajar agora.
Reviro os olhos. Eu o abraço, apertando sua bochecha e alterando minha voz como se estivesse falando com um bebê chorão:
— Oh meu Deus, coitadinho Joana, o velho já está morrendo de saudades da filha. — Suzane ri e retorno à voz normal. — Vovô e vovó vêm hoje?
Uma resposta de confirmação e fico satisfeita. Faço menção de virar, impedida por Suzane que toca meu braço.
— Pode me faz um favor?
Lá vem.
— Posso.
Ela dispensa papai e segura meu braço quando começamos a caminhar entre as pessoas, de vez em quando cumprimenta alguns convidados.
— Tem uma coleção nova que desenhei e preciso que pose pra divulgação. Você falou sobre a viagem e pensei se poderia fazer essas fotos por lá.
Dou de ombros.
— Pode ser, mas como vai funcionar? Você vai pra lá ou outra coisa?
— Vou te passar o endereço do nosso escritório na província e você fala com um amigo meu.
— Combinado.
— Muito obrigada. Preciso conversar com algumas pessoas qualquer dúvida me chame.
Ofereço um breve sorriso.
— Claro.
Sou deixada sozinha e escolho um salgado da bandeja sustentada pelo garçom de passagem. Num canto da sala havia uma mesa cheia de comida feita com milho e mesmo preferindo as trazidas pelos garçons, saboreei uma ou outra daquelas.
Peguei uma taça de champanhe e comecei a beber no canto observando as pessoas irem e virem. Mãos grandes e macias cobriram meus olhos e sorri tocando levemente o par. A lembrança delas passeando por meu corpo veio à mente e os pelos da nuca arrepiam um pouco.
— Enzo — adivinho e tiro suas mãos do rosto. Giro os calcanhares e me detenho a sorrir. — Não sabia que vinha.
— Eu também não sabia. — Estava explicado por que ele não comentara sobre, então. O príncipe suspira e enfia as mãos nos bolsos da calça. — Às vezes é uma tortura te ver.
— Posso dizer o mesmo. Mas comemore, a tortura não dura muito essa noite.
Havia dúvida, surpresa e expectativa no semblante quando perguntou:
— Como assim?
— Vou sair com Sabrina mais tarde.
— Aonde vão?
— Perambular pelos bares da Asa Norte, por quê?
Ele balança a cabeça e encara meus olhos.
— Cuide do seu copo, tem muita gente mal intencionada no mundo.
Rio e me seguro para não o abraçar. Contenho o impulso corporal ao apoiar uma mão em seu ombro de forma casual.
— Eu sei me cuidar, Enzo.
— Só estou preocupado com sua segurança. Não vou estar lá pra ser seu guarda-costas.
— E nem precisa, prometo que mando mensagem quando voltar.
— Obrigado.
Um senhor acompanhado de uma jovem, provavelmente sua esposa, se aproximou de nós dois e inclinou a cabeça na direção de Enzo. O rapaz devolveu o gesto.
— Boa noite, Alteza.
— Boa noite, Cardoso.
— Perdão por interromper a conversa com esta linda senhorita. — Desvio o olhar para o chão, contendo minhas caras e bocas. — O senhor sabe, faz um tempo que estou querendo uma conversa.
— Sim, eu me lembro.
Nos entreolhamos uma vez, sorrio e eles entram num diálogo sobre economia, eventos e impostos. Não percebo que a jovem estava tão perto de mim até ouvir sua respiração.
— Você conhece ele bem, né?
Eu me sobressalto e a encaro sem entender, mas logo percebo que se referia ao príncipe.
— Sim. Somos amigos.
— Você é uma sortuda, hein? Ele parece ser tão educado e é um gato, imagine quantas garotas devem sonhar estar na sua posição?
Assinto em concordância e ergo as sobrancelhas ao tomar um gole da bebida. Ah, com certeza, eu adoraria continuar naquela posição também.
Ficamos lado a lado observando a festa. De vez em quando ela comentava sobre outro convidado ou o fato de eu conhecer o príncipe ao que eu dava respostas vagas.
— Joana — ouço a voz do meu pai vindo da direita e o encontro ao lado dos meus avós.
Alargo o sorriso, vendo os três caminharem até onde espero. Abaixo um pouco para passar os braços ao redor dos idosos baixinhos.
Cristina e Mauro viviam na fazenda em Alexânia, tendo morado em Goiânia antes disso, onde criaram os três filhos. Meu pai era o do meio.
Durante minha infância, nossas visitas eram frequentes, mas elas reduziram drasticamente desde o divórcio que mudou tudo.
— Vó Cris! Que saudade.
— Eu que o diga. Por onde andou?
— Sempre pela capital, vovó. — Olho para Mauro e o aperto em outro abraço. — De você também, vô.
— Você cresceu tanto, está uma gata.
Dou risada ao ouvir aquilo e o meu pai passa o braço ao redor do ombro do meu avô.
— Nem parece aquela menina que caía de árvore e bicicleta, né pai?
— Nem lembra aquela menina.
Bato um pé no chão e cruzo os braços.
— Eu só caí uma vez da árvore, pai — rebato.
— E a vez que escorregou na lama? — minha avó entra na conversa.
— Não, vó, por favor. — Imploro juntando as mãos. — Podem parar de me difamar?
Meu pai ergue um pouco a cabeça.
— Suzy tá me chamando, depois a gente conversa.
— Ei, minha filha e aquela égua que apareceu lá em casa? — pergunta meu avô.
— Presente de um amigo. Espero que Serena não esteja incomodando. — Eles se interessaram com a palavra amigo, me apressei em mudar o foco: — Eu mandei pra lá porque sabia que seria bem cuidada e pra visitar vocês mais vezes.
— Menina esperta — elogia.
— Vó, você ainda faz aquelas comidas maravilhosas?
— Ainda tira fotos? — Sorrio com sua confirmação indireta. — E dá pra esquecer de cozinhar?
— Vou matar saudade no seu aniversário.
Ela dá um aceno e sinto o aproximar de alguém. Olho por cima do ombro e vejo Enzo parado atrás de mim sorrindo para os outros dois. Ponho-me de lado entre os três.
— Enzo, esses são meus avós Cristina e Mauro. Vô, vó... esse é meu amigo Enzo.
O príncipe cumprimenta Cristina com beijinhos na bochecha e aperta a mão de Mauro. Assisto a cena encantada com cada movimento de Enzo.
O homem aperta o ombro do príncipe e indica o rapaz com o dedo.
— Esse que deu a égua?
Esbugalho os olhos e as bochechas do jovem tingem de vermelho.
— Bem... — troco um olhar com Enzo. — É.
O meu avô exibe um sorriso simpático.
— Reconheço um amante de cavalos quando vejo um.
A mulher dá um tapinha no braço do marido, dispensando o comentário dele.
— Ah, Mauro, sua cachola só juntou as peças.
Enzo contempla a interação dos dois por um momento. Mesmo quando o olhar sábio dela crava em nós, descubro um súbito interesse no chão.
— Eu esperava que o senhor tivesse dicas de como cuidar dos animais.
O meu avô abre a boca, mas Cristina passa na frente.
— Até conversa com os bichos esse velho faz, menino.
Enzo arqueia as sobrancelhas, interessado e divertido. Os três começam a conversar sobre viver no campo e me detive em assistir.
Tanto tempo depois, olhei o relógio e vi que eram quase dez da noite. Meus avós tinham ido conversar com outros e eu estava ao lado de Enzo, aproveitando sua companhia.
— Deu a hora de ir, vou pegar minha bolsa e chamar meu pai. Até segunda.
— Até, quem sabe ainda te vejo hoje. Se não voltar muito tarde.
— É, provavelmente nem volto tarde mesmo, não queremos passar dos limites hoje.
— Amém.
Dou risada e aceno antes de me afastar para andar em direção as escadas. Não percebi que ele tinha me seguido até ouvir a porta sendo aberta logo após eu ter entrado no quarto e começado a arrumar a bolsa.
— Vou morrer se for embora sem beijo de despedida hoje.
— Dramático.
Reviro os olhos, passo os braços ao redor de seu pescoço e lhe dou um beijo rápido.
— Não pode demorar muito aqui em cima. — Eu o empurro para a porta.
— Estou indo.
Retoco o batom e mando mensagem para Sabrina antes de descer as escadas para chamar meu pai. Cruzo uma vez com Enzo e abro um sorriso discreto que me é devolvido. Me despeço dos meus avós, dos meninos e por fim, de Suzane.
Meu pai voou até a Asa Norte. Ao menos Sabrina já se encontrava no bar. A rua tinha filas e pessoas por todos os lados. Dentro dos restaurantes estava ainda mais cheio e a conversa e gritaria preenchiam qualquer lugar vazio e silencioso.
Encontrei Sabrina sentada numa mesa perto da entrada do bar. Ela estava concentrada em olhar e sorrir descaradamente para outra pessoa. Procurei o alvo e lá estava um rapaz de cabelos escuros curtos, baixo e musculoso na outra mesa.
— Claramente já tá aproveitando a noite sem mim — comento ao sentar e colocar a bolsa sobre uma cadeira vazia. — Já pediu?
— Cerveja e petisco, tudo bem pra você?
Faço careta e assinto.
— Tudo bem.
Ela leu meu rosto.
— Se quiser posso chamar o garçom pra você pedir outra bebida.
— Não precisa, acho que vou começar na cerveja e parar no energético ou refrigerante... uma não mata.
— Ótimo. — Ela vislumbra a outra mesa por um breve instante. — Em minha defesa, o cara que começou a me encarar.
— Vai ficar com ele?
— Não.
Recuo, contrariada.
— Por que não?
— Descobri hoje cedo enquanto ia pro shopping o tamanho desse mundo e posso te garantir que é um ovo.
— Fatos. — Solto uma risada e apoio a cabeça nas duas mãos. — O que aconteceu?
— Encontrei dois meninos que já fiquei, um do colégio no ônibus e outro do aplicativo no shopping. Tô com medo de aparecer um terceiro.
Rio de novo, dessa vez mais alto e olho ao redor.
— Percebemos aqui o quanto sua vida amorosa é agitada.
— Ainda bem. — Ela pisca um olho. — Se quiser aulas, dou de graça.
— Precisarei pra quando Enzo casar. Falando nisso, não me deixe definhar até a morte em casa quando isso acontecer, por favor.
— Mesmo que pudesse, não deixaria. Mas amiga, chorar por homem?
— Não é por homem, é por ele. Foi a primeira pessoa a quem eu realmente me apeguei e dói pensar em não poder ficar com ele, mesmo depois de tudo. Três meses, mas parece que nos conhecemos há uma vida... — Respiro fundo para segurar as lágrimas que ameaçam escorrer pelo meu rosto e abro um sorriso triste. — É nesse momento que eu percebo o quanto estou ferrada.
Ela coloca uma mão sobre meu ombro e sorri para me confortar.
— E eu pensei que tivesse um coração de pedra.
Rimos e o garçom chega com os petiscos e a bebida. Encho os copos americanos e tomo o primeiro gole reprimindo uma careta.
— Sinto falta do tempo que eu tinha um. — Admito devagar. — Era mais fácil lidar com tudo. Enzo destruiu todas as minhas barreiras, sem exceção.
— Eu não. É divertido te ver apaixonadinha, principalmente quando conheci a Joana paixão-zero. — Ela dá de ombros. — Sei lá, só acho que você não deve dar asa ao pensamento que nunca vai encontrar outro como ele na vida. Precisa lembrar que é capaz de amar de novo.
Ergo o copo e estudo o líquido dourado.
— Amar é uma palavra muito forte. — Principalmente para quem estava junto há semanas, apenas. Suspiro. — Parece impossível quando você pensa que algo não pode melhorar. Ele é único.
— Continuar acreditando na perfeição dele não ajuda em nada, pode acabar sofrendo uma desilusão gigante quando ele fizer algo que considera ruim.
— Da última vez que isso aconteceu, discutimos sobre aborto.
Sabrina aponta para mim.
— Está vendo? Você parecia querer atirar nele quando entrei na sala.
— Eu queria — confesso. — Ainda bem que você entrou, inclusive.
— Mas vocês estão de bem agora, quer dizer, estavam minutos depois. — Ela me indica com o copo na mão. — Algo funciona aí.
— Ele foi compreensivo. Como eu disse, único.
— Aposto que foi um trabalho das duas partes. — A jovem toca meu braço. — Vai doer, mas no seu lugar eu tornaria isso um pretexto pra aproveitar cada segundo.
Sorrio e molho a garganta com a bebida ruim.
— Pensando bem, acho que prefiro mil vezes terminar com ele por descobrir que é um babaca do que forçada.
— Pra sua sorte todo homem um dia revela esse lado — afirma e rio em concordância.
Nenhum outro ficante da Sabrina apareceu e depois do terceiro copo meu paladar não ligava para a cerveja, então jogamos bastante conversa fora. Dei o telefonema para o meu pai às duas da manhã.
Pela ligação pude perceber que a festa continuava rolando por lá. Tropecei algumas vezes enquanto ia até o carro, o álcool já começava a afetar meu equilíbrio.
— Aproveitou a noite?
Jogada no banco do passageiro, solto uma risada alta e coloco o cinto.
— Sim e você?
— Tenho aproveitado pra conversar bastante.
— Mais do que já conversa?
Sinto o carro aumentar e diminuir a velocidade, até fechei os olhos para brincar de adivinhar o caminho sem olhar.
Paramos em frente à mansão e caminho até a porta, cambaleando de leve. Abro a porta e o forró tocando me recebeu junto da conversa alta. Despenco no primeiro assento vazio que encontro, retiro as botas e as largo junto à parede.
Vejo Enzo aproximar e abro um sorriso de orelha a orelha, ele também mostra os dentes embora mais discreto.
— Você ainda tá aqui — comento. — Viu? Tomei cuidado.
— Obrigado. — Observo-o puxar uma cadeira e sentar do meu lado. — Estava querendo ir embora mas você voltou, dá pra aguentar até eles decidirem ir.
— Estou com sono.
— Vai dormir, então.
— Mas você vai ficar sozinho.
— Eu me viro... Você precisa dormir, vá.
— Obrigada, você é um amor.
Ele ri e se aproxima mais de mim, casualmente.
— Você também é um amor, Joana. Meu amor.
Pude sentir o corpo explodir em fogos de artifício e me mantive concentrada na escada e no mundo que parecia girar um pouco.
— Amanhã a gente conversa — respondo e levanto para subir até p quarto.
Como mais cedo, não demorou muito para que ele esgueirasse para dentro do meu quarto. Eu já estava deitada.
Ouvi Enzo ligar o ar-condicionado e me cobrir com o edredom, depois seus braços passaram ao meu redor por cima do cobertor e ele estava deitado, encarando meus olhos.
— Como foi no bar com a Sabrina?
— Foi legal — respondo com a voz um pouco abafada pela pressão do travesseiro na bochecha. — Só conversamos, comemos e bebemos. Voltamos mais cedo porque ninguém tava tão no clima.
— Entendi.
Ele se aproxima para beijar minha bochecha. Viro o rosto e no lugar da face, beija os lábios.
Toco seu rosto com a mão direita e Enzo sorri se aprumando mais até ter metade do corpo acima de mim. Parece lembrar de algo e separa nossas bocas estalando a língua. Solto um resmungo e tento puxá-lo de novo, mas ele se afasta.
— Estamos quebrando a regra do sem contatos físicos.
— Droga... É São João, vamos abrir uma exceção só por hoje. — Peço e coloco minha melhor cara de cachorro sem dono. — Por favor.
— Só hoje. Fique atenta ao corredor, por favor.
Assinto animada e o puxo pela camisa para fazer nossas línguas dançarem outra vez.
Ficamos ali por mais alguns minutos, até ele nos separar com certa relutância lembrando dos riscos. Depois que saiu, tomei um banho e nos meus sonhos, aquele rapaz foi o protagonista.
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Princesa da Alvorada
RomanceO ano é 2047 e há 26 anos o Brasil deixou de ser uma república presidencialista para voltar ao sistema de monarquia parlamentarista, através de um plebiscito. Em pouco tempo do novo sistema de governo, um massacre acometeu a família imperial no mesm...