A semana foi tranquila, sem visitas inesperadas, novos contratos e um dos álbuns da família imperial finalizado.
Enfim pude respirar tranquilamente numa noite e aproveitei para relaxar até que chegasse a manhã.
Solto um suspiro de alívio ao entrar na sala e ver que Enzo e a mãe não estão lá. Cumprimento o fotógrafo e Ângela ao cruzarmos enquanto Suzane me guia até o camarim.
— Hoje você posa junto com a Joyce Marino.
— Quê? Aquela brasileira que tá fazendo sucesso na Europa?
— A própria.
— Preciso aprender a parar de aceitar esses seus convites, a cada sessão de fotos fico mais sem graça ao descobrir quem está aqui.
— Ela é simpática e vai ajudar na hora de arrumar a pose.
Suzane termina de falar e abre a porta do camarim. Joyce já estava sendo preparada e forcei um sorrisinho quando olhou em nossa direção.
— Bom dia, Marino. Essa é a minha enteada. A Joana de quem falei.
Joyce levanta interrompendo a maquiadora e aperto a mão que estende para me cumprimentar.
— Que prazer! A Suzy vive me falando de você, especialmente na última semana. Você quer seguir carreira de modelo?
— Na verdade eu sou fotógrafa. Isso aqui tá sendo mais como um hobby.
Ela abre um sorriso caloroso.
— Ah, sei. Pelo visto se dá muito bem nessa área de fotografia. Não me surpreende ter saído tão bem nas fotos.
Eu estava começando a gostar dela.
— Quase três anos de experiência profissional. — Respondo sentindo o sabor do orgulho na língua. — Mas eu ainda prefiro tirar fotos a ser fotografada.— Meio tímida, não? — Joyce fala olhando para minha madrasta esperando uma resposta.
Suzane dá um aceno.
— Muito. Preciso ir organizar as coisas, a Ângela chega em um minuto pra aprontar você, Joana. Vou dar uma volta na empresa, mas antes de terminar a sessão volto pra te buscar.
Assinto e ocupo a cadeira perto do balcão cheio de produtos e prendedores de cabelo, além de alguns esmaltes.
Joyce volta a sentar para deixar a maquiadora terminar o trabalho. Aos poucos, passo a arrumar a bagunça sobre o balcão começando a me incomodar enquanto Ângela não chega.
— Que tipo de fotos você faz?
Não tiro os olhos da arrumação, mesmo ao responder Joyce:
— Antes eram fotos rotineiras e de paisagens. Hoje tô mais voltada pro mercado fazendo álbuns de aniversário, casamentos, gestantes... essas coisas. Mas depois de terminar um trabalho que eu tô fazendo, pretendo voltar ao cotidiano pra expor meu trabalho.
Seu rápido silêncio me faz perceber que absorvia as palavras e pensava.
— Que legal, me chama pra primeira. Você sempre morou aqui?
Confirmo a informação. Feliz também por ela ter se interessado em ver minha exposição inicial quando acontecesse.
— Deve conhecer muita gente, não? — Sua animação parece ser impossível de abater. — Ter contatos na sua área deve ser super importante.
E era. As redes sociais facilitavam e muito, bem como uma assistente comunicativa. Sabrina botava a boca no trombone, eu trabalhava. Dupla dinâmica.
— Conhecia quando estudava, mas perdi contato com a maioria. Deveria ter mais, eu sei, mas sou um fracasso em comunicação.
De vez em quando até conversava com meus antigos colegas. Só que era aquela coisa distante, secundária.
Meus contatos se resumiam a meus pais, Sabrina e os clientes. Melancólico? Um tantinho. Porém eu estava habituada.
— Também nunca fui de sair muito. Só ultimamente tenho arriscado e até que tô gostando.
Ergo o rosto para encará-la através do espelho, cansada de falar de mim e deixar mais pessoas a par da triste biografia de Joana Bragança Medeiros.
Seus olhos fechados para permitir a maquiadora colorir as pálpebras de rosa empatam nosso contato visual.
— E você? Sempre quis ser modelo?
— Desde pequena. Eu pegava os saltos da minha mãe quando ela saía e andava pela casa o dia todo. — Me identificando por fazer o mesmo naquela faixa etária, não evito o sorriso. — Isso quando eu também não usava as jóias. Uma vez cheguei a me maquiar e foi um desastre. Quebrei um dos pós, ela enlouqueceu.
Joyce falava mexendo as mãos. Rio um pouco alto demais e Ângela chega trazendo cabides com conjuntos de biquíni e maiôs. Ela me entrega um deles e apoia os outros na arara.
— Parece que estão se dando bem, isso é bom. — Joyce murmura algo sobre se dar bem com todo mundo ao passo que Ângela ignora prosseguindo com orientações: — Joana, vá se vestir e depois volta aqui.
Obedeço e ao retornar Ângela era a única na sala. Ela gesticula para o assento à sua frente o qual ocupo.
— Fiquei sabendo que viajou.
Penso em como as notícias corriam rápido mesmo entre pessoas com as quais mal mantinha contato. É claro que aquilo era obra de Suzane.
— Sim, fui pra Pernambuco.
— Faz sentido seu bronze, o sol de lá é impiedoso. Meus bisavós eram do sertão da província, vieram pra cá porque meu bisa foi um candango e desde então essa parte da família cresce aqui.
A história facilmente me cativa e me pego desejando ouvir mais.
— Caramba, tem muito tempo. Minha mãe é de lá, veio morar aqui e voltou há pouco tempo. Sempre quis ir no sertão, acho que renderia boas fotos.
Um esboço de sorriso surge em seu rosto e ela para um pouco a fim de analisar a coloração da base antes de seguir para o próximo passo.
— Vá. — Incentiva. — Só vai se arrepender de não ter ido logo. Os avanços tecnológicos melhoraram a vida da região. Agora os efeitos da seca ficam mais evidentes na vegetação intocada e basta uma chuvinha pra deixar tudo verdinho, parece até mágica. As paisagens também são incríveis.
Faço uma nota mental de passar aquela viagem para o meu caderninho de metas quando voltasse para casa e fecho os olhos assim que Ângela espana meu rosto com um pincel.
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Princesa da Alvorada
RomanceO ano é 2047 e há 26 anos o Brasil deixou de ser uma república presidencialista para voltar ao sistema de monarquia parlamentarista, através de um plebiscito. Em pouco tempo do novo sistema de governo, um massacre acometeu a família imperial no mesm...