Capítulo 24

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  — Queda de energia. — Enzo murmura. — Espere aqui.
  Faço o que manda, olhando para todos os lados quando ele entra de novo na casa. Meus olhos já ajustando a escuridão. Minutos depois ele retorna com duas lanternas e um tecido apoiado no ombro.
  — Vamos. — Convida, me passando uma das luzes e nos afastamos da casa.
  Mais adiante, Enzo pega minha mão. O toque envia ondas de calor que sobem ao coração e abro um sorriso involuntário. Subimos a pequena colina com uma árvore afastada das demais, na parte mais alta.
  — Me ajude aqui.
  Auxilio a estender o lençol. Enzo senta e ocupo sua frente, na mesma posição, virada para ele. Coloco a luz abaixo do queixo, de forma que ilumine meu rosto.
  — À meia-noite, um homem com uma faca na mão... passando manteiga no pão.
  Ele ri e pega a lanterna da minha mão, apagando. Envoltos de novo na escuridão, demoro para decifrar suas feições sob o luar.
  — Faz tempo que não ouço essa.
  — Também. — Estudo o breu ao redor. — O que viemos fazer aqui?
  — Observar as estrelas.
  Olho para cima e faço o possível para não soltar uma exclamação. Eu achava impossível encontrar um céu daqueles na região.
  — Essa queda de energia estava nos seus planos? — Murmuro, olhando o céu com encanto.
  — Pior que não. — Ele dá um tapinha no espaço ao seu lado e diz: — Vem cá.
  Engatinho até chegar perto. O ângulo era melhor ali sem a copa da árvore ou o luar para atrapalhar a visão.
  De repente, ele levanta e estende a mão para mim.
  — Acabamos de sentar — resmungo.
  — Eu sei. Depois teremos o resto da noite pra sentar, mas agora peço que se levante. — Sacode a cabeça e corrige: — Isto é uma ordem.
  Obedeço com rapidez. Coloco-me a sua frente e bato continência.
  — Sim, senhor.
  Ele sorri com satisfação.
  — Soldada, eu ordeno que dance.
  Minha postura cai.
  — Quê?
  — Dance comigo. Na única oportunidade que tivemos, eu estava bêbado.
  — Ah. — Solto uma gargalhada ao lembrar do momento em que ele me puxou. — Sim, senhor.
  Me aproximo e levo minhas mãos ao seu pescoço como fizera mais cedo. Inicialmente suas mãos se deteram na minha cintura mas ele as levou até a lombar e puxou para perto. Balançamos nossos corpos num ritmo lento e encarando um ao outro. Franzo as sobrancelhas.
  — Fica meio difícil sem música.
  — Então cante.
  Assinto e paro de me mover para pensar numa canção.
  — Que música?
  — A que vier em sua cabeça.
  Penso e começo a fazer um ruído com a boca fechada que se assemelhasse ao toque.
  — Cante a música.
  — Você tá muito exigente — interrompo.
  — E você está enrolando demais.
  — Tudo bem. — Limpo a garganta e tomo fôlego. — Mas você tem certeza de que não quer um protetor de ouvido?
  — Tenho. — Assegura, rindo. — Apenas cante.
  — Certo, lá vai...
  Respiro fundo e começo uma música que não saía da minha cabeça. Mais uma daquelas que minha mãe ouvia várias vezes e entrou para minha lista de canções queridas.
  — That we shoot across the sky — termino e ele encosta a testa na minha. — Numa escala de ruim a péssimo, quanto foi terrível?
  Vejo a expressão de dor quando desencosta o rosto do meu.
  — Terrível é afastar a sensação de querer te beijar quando não posso.
  — Quantas vezes já sentiu isso?
  — Mais de dez só hoje. Perdi a conta de quantas desde que te conheci.
  Abro um sorriso e me afasto voltando a sentar na toalha, o cansaço já começava a me vencer. Enzo também se acomoda e me abraça de lado. Olhamos para o céu ao mesmo tempo.
  — Você sempre quebra o momento.
  — Aparentemente é um dom meu.
  — Dom? — Pergunta balançando a cabeça e risonho.
  Ele boceja e deita na toalha. Encaro o céu, tão estrelado que parecia impossível estarmos no Brasil e avisto a lua cheia, nos banhando em brilho prateado. Baixo o olhar até encontrar o dele e abro um sorriso. Me deito ao seu lado.
  — Luna. — Enzo me fita com uma pergunta no rosto. — Seria esse o nome da minha filha.
  Ele então inclina a cabeça para contemplar a lua e dá um leve aceno.
  — É lindo.
  — Eu sei que é — respondo e beijo seus lábios.
  Me aconchego no ombro do rapaz e fecho os olhos. Dou um último adeus ao céu encantador, desejando ter registrado aquele momento com uma câmera.
  Jamais poderia, mas ele se tornaria único em nossas lembranças. E isso era tudo o que importava.

Princesa da AlvoradaOnde histórias criam vida. Descubra agora