Capítulo 20

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  Nem Sabrina e nem Enzo apareceram no estúdio no dia seguinte. A diferença é que a assistente tinha ao menos entrado na rede social de mensagens instantâneas e me respondido.
  Já o sumiço de Enzo foi notável. Aparentemente ele mal vinha saindo do Alvorada, nem que fosse para ir a outros países ou províncias. Mesmo sabendo que ele não responderia, mandei uma mensagem na sexta antes de ir para casa.
  Está doente?
  Até Sabrina ficou mais calada. Me perguntei se todo o silêncio era castigo por ter dado um pé na bunda de Bruno. A essa altura ele deveria estar sobrevoando a Bahia. Suspiro e mando outra mensagem.
  Devo me preocupar com esse sumiço?
  De novo, sem resposta. Abandono o celular na mesa e cruzo os braços indo até a sala de espera e encostando na porta de entrada.
  — Você tá meio pra baixo ultimamente. — Sabrina observa, sua voz nem chegava perto da alegria constante.
  — Só eu? — pergunto, arqueando as sobrancelhas.
  — Eu tô normal.
  — Não tá mesmo. — Ela dá de ombros e resolvo ceder: — Bruno me deu um colar e ia me pedir em namoro. Estraguei tudo antes que ele sequer pudesse começar.
  — Como assim estragou tudo?
  Conto o que aconteceu depois que ela nos deixou sozinhos na boate.
  — E eu amei o colar, mas não podia aceitar o pedido. Pior romper uma relação de meses do que impedir que ela comece.
  Finalizei estremecendo de leve com a ideia.
  — Que tenso.
  — Alguma notícia de Enzo?
  — Não o vejo desde quarta à noite, por quê?
  — Mando mensagens, mas ele nem on-line fi... — Recuo contrariada. — Quarta à noite a gente tava na boate.
  — Sim, ele tava lá. — Conta e franze o cenho. — Estranho né? Ele disse que não ia.
  — Não. Depois ele disse que tentaria ir. — E eu nem acreditei.
  — Sério? Não lembrava disso.
  — Foi na minha sala. — Explico. — Vi a princesa lá, mas não ele. Tem certeza que era Enzo? Não estava bêbada?
  — Eu tava sóbria! Assim que falei com você pela última vez, fui procurar o Leo e encontrei com ele.
  — Enquanto eu ainda tava na mesa?
  — Se vocês não saíram logo depois de mim, então sim. Ele perguntou por você e apontei na direção que estava, pensei que ele ia te procurar.
  — Não...
  Enzo teria me procurado aquela noite? Olho para meu celular e retorno a minha escrivaninha, digitando outra mensagem.
  Algo a ver com sua ida na boate quarta? Sabrina acabou de contar que esteve lá.
  E então ele fica on-line por cerca de quatro segundos, mas sequer visualiza as mensagens. Faço uma careta de raiva antes de enviar o último texto.
  Se não me responder agora, toco fogo no álbum da sua mãe.
  Mas eu não teria coragem de cometer tal ato e ele sabia disso, tanto que continuou em silêncio. Desisti de tentar algum contato e segui a vida.
  Fiz trabalhos em casamentos e com uma gestante. A incógnita Enzo continuou na semana após o Tiradentes e revirei as últimas mensagens em busca de indícios.
  Tinha se incomodado comigo jogando na sua cara que teria tomado atitudes acerca do noivado indesejado?
  Me senti tão sufocada dentro do estúdio que aproveitei o dia de sol da terça e saí em busca de fotos espontâneas no Planalto.
  A Esplanada tinha espaço demais para que o rapaz não esbarrasse no meu ombro, quase me derrubando com minha câmera.
  — Leva — disparo para suas costas.
  — Desculpa, não vi você.
  Reconheci a voz, a meia-volta, o sorriso e o arquear de sobrancelha. Sorrio ao perceber quem estava por trás daquele óculos e boné. Estudo os arredores e solto:
  — Ulisses? Quanto tempo não te vejo.
  O príncipe abre os braços ao lado do corpo.
  — Pensei que não ia reconhecer.
  — O que tá fazendo por aqui?
  — Itamaraty. Recebendo o presidente de Portugal... e sua filha.
  — Ah — digo apenas.
  Não procurei entender porque caminhava ali fora quando devia estar dentro.
  — Então... Sábado? — quis saber após um tempo.
  O jantar de divulgação da nova coleção da Suzane seria no próximo sábado e eu não estava nem um pouco preparada para enfrentar aquilo.
  — É. — Respondo secamente, eu ainda estava chateada por ter me ignorado por dias e quando aquilo me veio à mente acrescentei: — Lá eu te entrego as cinzas do álbum.
  Ele solta uma risada engasgada.
  — Você não fez isso.
  — Sabe que duvidar de mim é a melhor forma de me instigar mais ainda a fazer tal coisa, não sabe? — Provoco, citando uma frase que certa vez dissera. — Por que tá me evitando, Enzo?
  — Não estou te evitando.
  — Sério? Você não fala comigo desde aquela quarta.
  — Estou falando agora, não estou?
  — Você sabe a que me refiro. — Rebati, mas fiz questão de refrescar sua memória: — Anda ignorando todas as minhas mensagens.
  Os milésimos que demorou para responder podiam ser contados.
  — Eu estava ocupado.
  Dou um passo em sua direção.
  — Ocupado? Todos esses dias? Por que foi até a boate mas aparentemente desistiu de me procurar mesmo depois de Sabrina ter dito em que direção eu me encontrava?
  — Fui na missão de passar pra dizer oi, mas não quis atrapalhar a conversa com seu... amigo.
  Silêncio e ele desvia o olhar do meu para o céu azul e sem nuvens acima de nossas cabeças.
  — Isso não justifica me ignorar por quase uma semana.
  — Estou atrasado — ele murmura e sai andando.
  Mentiroso.
  — O quê? — consigo dizer em voz baixa e de cenho franzido.
  Observo-o caminhar na direção do Itamaraty.
  Minha vontade de tirar fotos evaporou totalmente após a conversa. Entrei no carro e dirigi até a casa do meu pai. Bati os pés direto para o quarto. Verifiquei as mensagens. Entre elas, uma do meu pai.
  Os últimos móveis chegaram hoje e esperei o rapaz montar. Só falta você organizar as coisas.
  Deitei na cama e fiquei olhando o teto durante minutos, procurando saber em que momento eu teria errado. Suspiro e chutando o ar, levanto para descer as escadas. A sala seguia vazia mas cruzei com Pedro ao sair da mansão.
  — Chegou cedo — comenta.
  Eu sabia que ele esperava uma resposta. Passei direto bufando a cada três passos.
  Dirigi para o prédio e a raiva começava a dissipar quando cheguei. Preenchi a cabeça com a organização do apartamento, adicionando os últimos quadros e artigos decorativos que poderia querer ou precisar.
  Ao anoitecer estava 98% pronto. Tudo que precisaria trazer após aquela noite seriam coisas que me eram úteis na mansão e só viriam com o fim da mudança. Odiei ter terminado. Os devaneios logo voltaram com tudo.
  Enzo não apareceu mais no estúdio e me envolvi na quietude. Ele disse que não queria atrapalhar minha conversa com Bruno, mas nada justificava o silêncio. A não ser que como um amigo observador, Enzo fosse contra a ideia de Bruno na minha vida – o que ainda não era motivo, visto que a vida era minha.
  Ao que parecia nosso trio de amigos resolveu se calar ao mesmo tempo. Eu e Sabrina conversamos nada além do necessário. E esse silêncio me corroeu.

Princesa da AlvoradaOnde histórias criam vida. Descubra agora