Prólogo

2.6K 93 43
                                    



O clima estava frio, e mal começara o inverno, cobertores grossos de neve reluzente cobriam as calçadas e telhados de Londres. Charlotte caminhava com dificuldade nas ruas geladas, a barriga roncava pois o que havia para o café daquela manhã, era suficiente apenas para a pequena Daisy.






— Mamãe, está tudo bem? — ergueu os olhos avelã até a mãe, enquanto andava com dificuldade.



— Sim, querida. Mamãe está bem. Não se preocupe, ok? — sua voz estava trêmula, semblante distorcido e andar desajeitado. Era óbvio que estava péssima, mas a pequena não precisava saber disso.



— Uhum. — assentiu com a cabeça, e olhou para frente.



Não haviam muitas pessoas nas ruas da parte mais pobre da cidade, afinal, não tinham dinheiro para tratar um resfriado. Charlotte torcia para que os casacos velhos de lã que ganhou da caridade fossem suficientes para esquentar sua pequena, já que os seus não a protegiam nada.



— Está quentinha? — se abaixou em frente à ela, e ajeitou a touca nos fios nanquim ondulados da menina.



— Uhum. — Lotte sorriu, e tocou o nariz de Daisy, que também sorriu. Entregou a lancheira de metal, com um desenho rústico da Sininho na frente, e beijou a testa da criança.



— Ótimo. Comporte-se, minha Menina Perdida. — a pequena riu, e quando sua mãe se levantou, ela caminhou em passos rápidos para a creche em que ficava.



Uma casa de uma chinesa que falava inglês, no subúrbio especialmente chinês da cidade, foi o que conseguiu pagar com seu salário. Levar Daisy para aquele lugar era só mais algo para a motivar à trabalhar em um lugar melhor, se esforçar nos estudos e seguir firme.

Odiava cada rosto asiático que via nas ruas. Eles só a lembravam que estava longe o bastante de seu colégio para ter que acordar às cinco da manhã, e sua filha ser a única na creche à essa hora.

Do outro lado da cidade, em uma parte pouco mais chique, Wendy acordava com seu despertador, que era nada mais que uma música serena em um despertador digital — que a incomodava, sempre foi um pouco mais clássica. Se levantou com vontade e preparou o café da manhã com prontidão, mesmo que não se sentisse tão animada esta manhã.
As crianças vieram, cada uma com cabelos exarcados, correndo com seus pijamas.



— Bom dia, querida. — Edward disse com pressa, carregando um paletó marrom com padrão xadrez sob o braço. Ao pegar um sanduíche pronto especialmente para ele e morder, deu um beijo na testa de sua esposa.



— Bom dia. Está adiantado. Algo importante hoje? — colocou as frutas nos pratos das crianças que devoravam sanduíches de pasta de amendoim e geleia.



— Quem chegar mais cedo ganha um bônus. Sei que não serei o primeiro, mas não o último. — ele riu, colocando suco de laranja em um copo de vidro, e bebendo em seguida.



— Não precisa de fazer tudo isso. Já te disse que estamos bem financeiramente, não deve se matar de trabalhar. — ele sorriu de modo sereno, e após afastar um dos fios castanho-claros do rosto de Wendy, a beijou com carinho.



— Eu gosto disso, sabe bem. — ele sorriu, e colocou o sanduíche sobre a mesa, colocou o paletó, o pegou novamente e mordeu. — Tchau, crianças.



— Tchau, pai. — Jane falou com a cara fechada e braços cruzados, e Danny, bebendo o suco em seu copinho plástico.


Wendy sorriu para seu marido, depois começou a comer. Mas algo a incomodou; sua pequena.


Lost Boys [PETER PAN]Onde histórias criam vida. Descubra agora