"O Fazendeiro" (Capítulo 2)
Autora: Adriele Lima
Naquele momento, eu não conseguia articular palavra alguma. Suas palavras deveriam acalmar minha ansiedade, mas estava inundada por uma mistura complexa de emoções. Lágrimas escorriam silenciosamente enquanto ele dirigia em direção ao nosso destino desconhecido. Seguimos viagem, e ele permaneceu em silêncio, permitindo que eu desabafasse minha frustração através do choro. O sol já estava se pondo, e estávamos na estrada há quase duas horas. Parecia que essa fazenda estava localizada em algum lugar remoto, pois a jornada parecia interminável.
Então, avistei uma pequena pousada à beira da estrada. Ele olhou para mim e disse:
- Vamos parar para descansar. Ainda temos um longo caminho pela frente. Você pode tomar um banho e descansar um pouco.
Ele desceu da caminhonete e foi até a recepção para reservar dois quartos. Nesse momento, senti um alívio temporário. Pelo menos, pensei, ele não pretendia que dividíssemos o mesmo quarto, dada a entrega total do meu pai. Estava exausta e, após chorar copiosamente, estava mais tranquila. Chorar me permitiu liberar a raiva que estava guardada. Aceitei a situação, afinal, o que poderia ser pior do que a vida que eu tinha levado até então?
Ele se aproximou da caminhonete e me entregou uma chave do quarto.
- Tome, espero que esteja se sentindo melhor. Se precisar de algo, estarei no quarto ao lado. Amanhã, partiremos cedo.
Peguei a chave e desci com minha bolsa em direção ao quarto. Era simples, como era de se esperar em uma pousada à beira da estrada. No entanto, para mim, tudo parecia perfeito, especialmente porque minha cama costumava ser dura, já que meu pai fazia questão de que eu não tivesse conforto.
Após quase duas horas no chuveiro, algo que nunca havia experimentado antes, eu me senti mais leve. Parecia que havia tirado um peso enorme das costas. Lavei meu cabelo com o shampoo dos clientes, já que meu pai não me permitia gastar muita água e nem mesmo comprava produtos para mim.
Quando terminei, ouvi o som de um violão vindo de fora. Olhei pela pequena janela do quarto e vi ele sentado em um banco debaixo de uma árvore próxima à pousada, tocando e cantando. Fiquei lá admirando-o à distância. Mas, devido ao cansaço, acabei indo para a cama e apaguei.
Como de costume, acordei às 4 da manhã. Ainda estava escuro lá fora. Tomei um banho rápido e escovei os dentes antes de sair para caminhar ao redor da pousada. Estava tudo silencioso, apenas o som do vento e das árvores. Sentei-me no banco onde ele havia estado na noite anterior e fiquei admirando o nascer do sol. O sol começou a surgir, pintando o céu com cores incríveis. Era uma paisagem deslumbrante.
De repente, senti alguém se aproximando e olhei para o lado. Era ele, que se sentou ao meu lado.
- Bom dia. A paisagem é incrível, não é? (perguntou ele, enquanto se acomodava).
- Bom dia. Sim, sempre adorei ver o sol nascer. É a melhor parte do meu dia. (Respondi, com um leve sorriso).
Ele me olhou, surpreso por eu ter respondido, já que o tinha ignorado desde que nos encontramos. Ele então disse, com um tom meio irônico e um sorriso:
- Olha só, ela fala...
Depois de alguns minutos apreciando o nascer do sol, ele se levantou e me convidou para tomarmos café da manhã antes de continuarmos nossa jornada.
Sentamos em uma mesa na pequena área de alimentação da pousada. Enquanto comíamos, ele continuou me olhando com seus lindos olhos azuis. Eu me sentia constrangida, afinal, nenhum homem jamais tinha me olhado daquela forma, muito menos se aproximado de mim. As pessoas tinham medo do meu pai. Apesar de tudo, minha beleza continuava radiante. Eu tinha cabelos claros, olhos castanhos e, apesar dos maus-tratos, minha beleza ainda era visível.
Terminamos a refeição e nos preparamos para continuar na estrada.
- Espere só para ver o nascer do sol da minha varanda. Você vai gostar. (Ele disse enquanto entrávamos na caminhonete).
Eu sorri e me perdi na paisagem enquanto o vento balançava meus cabelos.
Continua no Capítulo 3.
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O fazendeiro
RomanceIsabella reside em uma modesta propriedade rural, onde convive com seu autoritário progenitor, que a submete a tratamentos cruéis desde o seu nascimento. A mãe de Isabella faleceu durante o parto, e seu pai a responsabiliza por esse trágico evento...