O fazendeiro

O fazendeiro - Capítulo 25

Versão da Isabella:

   As lágrimas embaçam minha visão enquanto olho pela janela do carro, contemplando a vasta fazenda se distanciando. Dizer aquelas palavras ao Johnny ontem dilacerou meu coração. A dor que senti ao vê-lo e imagina-lo com Olga fez-me sentir uma tola, apesar do amor que ainda sinto por ele. Decidi partir, uma decisão difícil e necessária. Passei toda a minha vida buscando amor do meu pai, não quero mais sofrer nas mãos de outro homem nesta terra.

   Não o vi desde a noite passada. Hoje cedo, Leonardo apareceu à porta do chalé para me buscar, trazendo o restante das minhas roupas. É hora de seguir em frente, mesmo que meu coração ainda esteja amarrado a este lugar e ao homem que deixei para trás.

   Algumas horas depois, o carro sacolejava pela estrada de terra enquanto nos aproximávamos da fazenda do meu pai. Um nó se formava em minha garganta ao ver a silhueta sombria da casa, que sempre representou tristeza para mim. Desde criança, maltratada por meu pai, esta casa carregava as marcas dessas memórias dolorosas.

   Ao entrar na casa, fui recebida por um silêncio opressor. O cheiro de mofo e amargura impregnava o ar, reforçando as lembranças dos anos de tormento que vivi ali. Os corredores eram estreitos e sombrios, as paredes descascadas revelando décadas de negligência.

   Caminhei pelo corredor, o chão rangendo sob meus passos, até o antigo quarto do meu pai. Entrei e encontrei a mobília coberta de poeira, um reflexo da indiferença que ele sempre demonstrou.
Conforme meus olhos percorriam o quarto, minha memória guiou-me até o local onde ele costumava esconder seu dinheiro sujo. Entre as tábuas soltas do assoalho, encontrei o compartimento secreto que conhecia desde a infância. Com mãos firmes, abri o esconderijo e me deparei com a caixa de metal enferrujada que continha sua fortuna ilícita. Ao levantar a tampa, uma mistura de emoções tomou conta de mim. Reconheci as pilhas de dinheiro envelhecido e envelopes selados contendo jóias preciosas. Com determinação, decidi usar aquela fortuna escondida para um propósito maior.

   À medida que explorava a fazenda, percebi a decadência por toda parte. Os campos que um dia poderiam ter florescido estavam agora estéreis, consumidos pela negligência e pela crueldade que meu pai infligira sobre eles. Os estábulos estavam vazios, ecoando com o silêncio que só a ausência de vida pode trazer.

   Senti uma mistura de desespero e determinação enquanto olhava ao redor. Apesar das memórias dolorosas, esta ainda era a terra que eu cresci, um lugar cheio de cicatrizes e feridas. Decidi que, de alguma forma, transformaria esse lugar, uma maneira de superar o passado sombrio e encontrar um novo começo. Era hora de romper com as correntes do passado e transformar esta fazenda em algo que finalmente pudesse chamar de lar.

  À noite, enquanto eu tentava adormecer ao som da escuridão solitária, meus pensamentos vagueavam em direção a ele. Sentia sua falta, mas também reconhecia a necessidade de me concentrar um pouco mais em mim mesma. Johnny está prestes a se tornar pai, e talvez ele próprio não compreenda completamente seus sentimentos por Olga. Imaginar os dois juntos me causa tristeza, mas tentei afastar meus pensamentos sobre isso e adormeci pensando nos nossos momentos juntos.

  Com o coração acelerado e os olhos ainda sonolentos, levantei-me da cama após uma noite mal dormida. O som de palmas ecoava do lado de fora da casa, preenchendo o ar silencioso da manhã. Alguém estava ali, mas eu não conseguia ter qualquer visão clara do intruso.Com cuidado, aproximei-me da janela e afastei as cortinas devagar. Do lado de fora, um estranho, com um sorriso enigmático nos lábios. Seus olhos, tão profundos quanto o oceano, encontraram os meus, como se também estivesse muito curioso em saber quem estava aqui.

-  Quem é você? ( perguntei, minha voz tremendo ligeiramente).

  O rapaz que de longe parecia ser muito bonito inclinou a cabeça, como se ponderasse minha pergunta por um momento antes de responder com uma voz suave e melodiosa.