Cap. 2 - O Senhor Coração nos Olhos

1.5K 186 10
                                    

Felizmente meu laptop não sofreu danos, o que me poupou algumas centenas de dólares. Não costumava sair muito durante os dias de semana, tinha meu trabalho como revisora em uma renomada editora, em Manhattan. Além das revisões e traduções que fazia em casa, para garantir meu apartamento na Columbia Heights no Brooklyn. Meu apartamento não é dos maiores possui dois quartos, dois banheiros e uma cozinha em plano aberto com de sala estar e jantar. Seu melhor ponto é o jardim construído na parte de trás, onde os seus condôminos podem respirar um pouco da natureza enquanto degustam seu café. O valor do aluguel é salgado, mas gosto das ruas arborizadas e das facilidades que o bairro proporciona, além da total calmaria durante a noite. Posso trabalhar até o amanhecer nos finais de semana, sem ser incomodada. Por falar nisso estava precisando me distrair um pouco, Beth minha vizinha, diz que estou criando raízes nesta casa e perdendo minha juventude nestas revisões intermináveis. Tenho 31 anos, não sou tão jovem quanto ela pensa, mas talvez tenha uma pitada de razão. Meu último encontro foi há muito tempo e acho que devo ter esquecido como me portar em um deles, sem contar o sexo, talvez minha amiguinha lá em baixo deva estar prestes a se rebelar.

- Vibradores não te conquistam – Constatou Beth, sentada na banqueta da cozinha com uma taça de vinho enquanto eu preparava um sanduiche para assistirmos um filme. – Rachel foi impressionante, ela sabe fazer o jogo da conquista como ninguém. Acho que me apaixonei por ela na mesma noite que nos conhecemos. No dia seguinte estávamos trocando caricias no estacionamento do banco.

Gargalhei, ela era direta e sem filtros, não sei como ficamos amigas, sou contida e cheia de neuras. Beth é ruiva de cabelos encaracolados na altura dos ombros, baixinha e têm um nariz arrebitado e lábios finos rosados. Rachel, sua companheira, parece uma supermodelo loira, esbelta e com seios de parar o transito como diz Beth. Ambas trabalhavam como economistas em um banco, onde se conheceram, mas Beth preferiu desistir da carreira em Wall Street e lecionar matemática em um colégio local. Elas são muito diferentes, personalidades opostas, mas se amam como se não houvesse outras pessoas no mundo. Sonhava com um amor semelhante.

- Mas no momento é o que tem para mim, não tenho sorte com os homens – Servi os sanduiches em meus pratos em formato de folha. – e não vou tentar mulheres. – ela meneou a cabeça, pois eu sabia que diria isso. – Nada contra, mas gosto do sexo oposto e de suas particularidades.

- E aquele seu amigo da editora, ele é bonito e sempre olha para você com corações nos olhos – disse apanhando o prato e disparando para o sofá.

Peguei o meu prato e minha taça de vinho tinto e a segui, mais tarde arrumaria à cozinha.

- Ele é quase meu chefe agora e tem uma namorada, não pode me olhar com corações nos olhos. – Nunca tinha percebido.

- Então saia de casa, vá a um bar, danceteria ou aqueles museus chatos que tanto gosta.

Pensei em Thomas, tenho pensado nele diariamente, aquela noite no aeroporto foi uma das minhas melhores há tempos, nunca imaginei que poderia me sentir tão próxima de alguém que vi pela primeira vez. Algo nos olhos dele me inspirava confiança, além de seus outros atributos físicos quê encheram minha imaginação, e a voz inconfundível e deliciosa o bastante, para fazer uma mulher sonhar.

Seguindo o conselho de Beth, dei uma chance para o acaso, tirando o domingo livre fui a uma exposição recém-lançada no MoMa. As obras eram de um artista da Louisiana, esculturas de figuras humanas criadas com aço, madeira e tecido. Os sentimentos captados, nas expressões das obras eram crus, viscerais e aterradores. Uma delas ganhou minha atenção por mais tempo, uma figura de mulher deitada em posição fetal, com os braços presos ao corpo, seu rosto refletia uma angustia devastadora. Toda aquela dor representada de forma quase palpável, um sofrimento que já senti. O desespero da incerteza, da solidão da ânsia por afeto e compreensão. Obscuro, frio e cruel assim era o sentimento, enquanto comtemplava a obra, ele começou a se esgueirar por minha pele, arrepiando e congelando. Lagrimas chegaram aos meus olhos. Distante daquelas obras respirei aliviada, não poderia render-me àqueles sentimentos novamente, a batalha para mantê-los longe é árdua e diária, mas nunca impossível. A mostra começava a lotar, não gosto de locais com grandes aglomerações, cruzando os corredores abarrotados busquei a saída.

Última Chamada Para O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora