Cap. 3 - Chocolates franceses, são os melhores

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Fazer a revisão de livros é um trabalho complicado, estava trabalhando em romance de trezentas páginas, as personagens eram descritas na primeira pessoa, gosto do estilo, o autor precisa estar totalmente imerso no universo que criou. A personagem feminina principal estava passando pôr um dilema amoroso, escolher entre a carreira de sucesso em outro país ou ficar ao lado do homem que ama. Se pudesse dar meu final ao livro, faria a protagonista pegar às malas o quanto antes, não acredito no amor dele por ela. Mas sou uma revisora, minha função é deixar aquela estória gramaticalmente impecável para o autor, assim ele garante seus milhões e quem sabe uma adaptação para o cinema. Para mim, resta um salário razoável, férias uma vez por ano e alguns outros benefícios. Desliguei meu computador sonhando com uma bela barra de chocolate, evitaria o corredor norte para não cruzar com o editor do livro que estou trabalhando, não estou com disposição para levar trabalho para casa hoje.

Estávamos no início da primavera, New York fica agitada nesta época do ano. Estava com calor e um pouco incomodada pela multidão que deixava o trabalho ao final da tarde. Mas não desisti do meu objetivo, passaria em uma loja da AV 49th para comprar alguns chocolates, eles são franceses e caros, mas deliciosos demais para resistir. Dobrando à 55th para entrar na 5th quase fui atropelada por um ciclista, eles cruzam a cidade com suas entregas fazendo estragos. Sempre que estou 5th Avenida imagino que poderia avistar alguma celebridade ou gravação de cinema. Os hotéis e restaurantes cheios de estrelas da área são uma atração à parte. Sentia as gotas de suor se formando em meu rosto, resisti ao impulso de limpar, não queria arruinar minha maquiagem. Todo o esforço valeria a pena, pensei como estimulo, chocolates franceses são melhores.

- Julia - chamou-me alguém assim que passei em frente ao luxuoso hotel The Peninsula.

Parei de súbito, girando em direção ao som da voz, ela era familiar e inesquecível, mas não era possível pertencer a quem imaginei. Só poderia ser o calor criando ilusões.

- Thomas - exclamei assim que o avistei, sorri de surpresa.

- Aonde vai com tanta pressa. - Ele estava parado na porta do hotel, protegido pela cobertura. - Venha até aqui, saia deste sol.

Subi os dois primeiros degraus de carpete vermelho, ele me encontrou no terceiro e estendeu a mão para mim, não hesitei em aceitar mesmo não precisando de ajuda para alcançar o quarto e último degrau.

- Que ótima surpresa, Julia. - Sua palma estava macia e quente, ainda segundo a minha mão enquanto sorria de orelha a orelha.

- Digo o mesmo, pensei que não voltaríamos a nos encontrar outra vez. - Sorri alegre, os olhos azuis dele faiscaram. - Mas o que traz você a NY?

- Trabalho, eu tive algumas reuniões de negócios durante dois dias. Hoje é minha última noite na cidade. - Lamentei internamente. - Decidi vir até o hotel para descansar, antes sair para jantar. Você está voltando do trabalho?

Desta vez ele não estava de terno e gravata. Vestia jeans de lavagem escura e camisa azul claro, com os dois primeiros botões abertos e as mangas dobradas. Seu relógio, um Cartier de pulseira de couro marrom e caixa em prata.

- Sim, mas não pude evitar o desejo pelo chocolate da Maison. - Fiquei feliz por ter decidido usar esta calça de alfaiataria, camisa de seda e essas sandálias pretas. Espero que minha maquiagem não tenha borrado.

- Talvez o destino tenha agido a nosso favor - Disse divertido, pensei o mesmo. Só neste momento voltei a notar nossas mãos uma na outra, achei rude soltar primeiro.

- Seu carro, senhor Harrison - Alertou o porteiro.

- Obrigado, Jerry. - Sempre gentil, complementando disse - Venha comigo, lhe dou uma carona, você aceita?

Última Chamada Para O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora