Cap. 23 - Família

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Já estava em NY, volto no sábado para DC. Recebi a boa notícia que todos os funcionários selecionados para trabalhar no projeto passaram pela sabatina do FBI, com o escritório finalizado teremos o nosso primeiro expediente na próxima segunda-feira. Nunca estive tão esperançosa a respeito de um trabalho. Minha casa permaneceu como deixei, Beth está cuidando muito bem dela. Thomas sugeriu que eu suspendesse temporariamente alguns serviços como internet e gás, mas não acho uma boa ideia. Prefiro manter o meu apartamento funcional, apenas por precaução. Sem nada na geladeira sai para comprar algumas coisas, no mesmo mercado onde Robert e eu perseguimos aquele senhor. O aroma de rolinhos de canela fresquinhos me obrigou a comprar uma dúzia, que por questões de segurança devem durar até sábado. Ganhei alguns quilos durante esse período de turbulências, quem sabe agora com a estabilidade profissional eu consiga retomar a minha rotina de corridas. Enfrentar todos aqueles aparelhos de academia, como faz Thomas três vezes por semana, não é para mim. Chegando a meu apartamento, encontrei Claire subindo às escadas, ela acabará de chegar do trabalho, aparentava estar mais magra e um pouco abatida. A convidei para entrar e tomar uma xícara de chá comigo, apesar de Beth e eu sermos amigas há mais tempo, tenho muito carinho por ela e sei que está passando por algo.

- Como vai à vida em DC? – Questionou, acomodando-se no sofá.

- Boa, com bastante realismo. – Lembrei-me de meus contratempos raivosos.

Servi-nos de chá de laranja, com uma rodela de limão e uma pitada de mel. O perfume invadiu a sala, uma mistura cítrica e reconfortante. Sentei-me na poltrona, próxima do aparador cheio de fotos.

- DC fez parte da lista de cidade que eu pretendia viver, após concluir a faculdade. Mas New York ganhou a disputa, um emprego em uma grande companhia financeira no coração pulsante do país era irrecusável. – Esta empresa, que ela ainda trabalha, foi onde conheceu Beth. – O tempo nos ensina muitas coisas, talvez DC tivesse sido a melhor opção.

- Por que diz isso, está com problemas no trabalho?

- O trabalho vai muito bem, acabo de me tornar diretora de operações da companhia. – Ela sorriu, mas não pude enxergar alegria. – O meu futuro profissional começa a ser pavimentado.

- Parabéns, que ótima notícia, Claire. – Fico feliz por ela.

- Foi o que pensei, mas acho que a promoção destruiu o meu casamento. – Ela tomou um gole chá, suspirou olhando para mim. – Beth ficou furiosa, ela não queria eu tivesse aceitado. Estávamos conversando sobre mudar para um lugar mais tranquilo e ter filhos. Mas com a minha promoção tudo mudou, eu não posso deixar NY e terei menos tempo para me dedicar a uma família.

- Eu sei, mas será que o problema é tão grave, vocês sempre resolveram as diferenças na conversa. – Sempre as vi como um exemplo de relacionamento, onde o diálogo é o fio condutor dos sentimentos.

- Não pense que estou culpando apenas Beth, sei que são como irmãs, mas ela dificulta tudo. Como posso dialogar com alguém que considera apenas o seu próprio ponto de vista, eu não tenho espaço para respirar e tentar colocar as minhas ideias em ordem. – Seu tom triste e até com uma pitada de magoa. – Estou me cansando Julia, eu a amo com todo o meu coração, mas se Beth continuar batendo na mesma tecla, não sei o que será de nós.

O problema é maior do que pensei. Beth quando quer algo não costuma desistir com facilidade, ela está disposta a ter filhos agora. Só espero que não cometa nenhuma loucura e acabe perdendo a mulher que ama no processo.

Como estava em NY, não poderia deixar de visitar Veronica, ela havia se mudado para um apartamento próximo ao meu bairro. Ela pediu pelo divórcio e estava vivendo uma nova fase, aprendendo a conviver na própria companhia. Seguramente um novo livro nascerá dessa experiência, Veronica é uma autora que se inspira na própria história.

Última Chamada Para O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora