O voo levou o tempo esperado, chegamos ao Brasil ao entardecer. Paulo o meu padrasto, foi nos buscar no aeroporto. Todo o cansaço que eu sentia, por conta das longas horas de viajem, desapareceu assim que o avistei. Aquele sorriso é capaz de derreter toda a neve de Washington. Ele não mudou muito desde a última vez que nos vimos, a quantidade de fios brancos aumentou e poucas linhas de expressão surgiram. As vantagens de possuir pele negra, como já dizia vovó, pessoas negras quando começam a pintar o cabelo é porque temos mais de 130 anos, uma ótima tirada.
- Minha princesa, que saudades. – Falou ele em português, como senti saudades daquele sotaque mineiro delicioso.
- Oi! – Abri os braços para abraça-lo. – Eu também estava com muitas saudades, P.
Abraçamo-nos apertado, sempre me referi a ele pela letra P. Uma forma carinhosa que encontrei. Que serve tanto para Paulo, padrasto ou pai.
- Está tão linda. – Ele segurou a minha mão, olhando para mim com muita ternura. –
Meu Deus, criança, como é bom vê-la. Você nos assustou.
- Eu estou bem, graças a Deus, aos médicos e a Thomas. – Estendi minha mão para o Harrison, que observava a cena com um sorriso tímido. – P, este é Thomas Harrison, o meu namorado.
- Sr. Souza, é um prazer conhecê-lo. – Falou Thomas em belo português, apesar do sotaque.
Eles apertaram as mãos, Paulo avaliou Thomas de cima a baixo, por fim sorriu.
- Seja bem-vindo, será ótimo poder tê-lo conosco. – Paulo foi sincero.
Pegamos à estrada, o calor já começa a pegar. Thomas estava ficando corado apenas com a maresia, achei bonitinho, vamos precisar caprichar ainda mais no protetor solar. O entardecer está lindo, o contraste do por do sol com o mar é a cena mais bela do mundo.
A casa de verão da família é um sonho, algo que minha mãe idealizou desde os tempos das vacas magras, e que finalmente foi capaz de construir com os frutos de muito trabalho. Ela se orgulha muito deste lugar, sua única ressalva é que a vovó não pôde aproveitar. Cada detalhe possui o seu toque e um significado, a materialização do sonho de mulher negra, que sempre tem de lutar duas vezes mais que as outras. Minha mãe Dra. Sandra Silva de Souza, cirurgiã cardiologista, chefe do setor em um renomado hospital. Mineira, nascida em Três Corações e a mais velha de três irmãs. Que trabalhou como caixa de supermercado, vendedora de loja de moveis e babá. Para custear os gastos de uma faculdade federal medicina, sustentar a filha pequena e garantir que esta garotinha nunca passasse por privações. A minha bela mãe, que agora me aguardava diante daquela casa gigantesca, em meio ao paraíso e de braços abertos. A espera de um de abraço atrasado há dois anos, que finalmente veio. Carregado de saudade, amor e alegria. O calor dos braços dela não tem igual, sua voz em meu ouvido dizendo o quanto sente minha falta, expressando o amor incomensurável.
- Julia, minha filha querida, como é bom. – Ela me abraçou outra vez. – Como é bom sentir o seu perfume, seu calor minha menina. Tão linda, Deus, você está linda minha filha.
Mamãe não parava de mexer nos meus cachos.
- Obrigada, mãe. – Beijei a face dela, Paulo e Thomas observavam a cena. – Agora quero que conheça alguém, oficialmente. – Fiz sinal para ele se aproximar, Thomas estava bastante corado, de calor e nervoso. – Mãe, este Thomas, meu namorado.
- Sra. Souza, é um grande prazer finalmente poder ser apresentados – Thomas gastou seu português, o sotaque era muito divertido. Ele estendeu a mão para ela, que aceitou.
- O prazer é meu, Sr. Harrison. – Mamãe não precisava usar o termo senhor, mas ela é dessas. – Sinta-se à vontade em nossa casa, somos uma família simples, já aviso.
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Última Chamada Para O Amor
ChickLitSTATUS: COMPLETO Olá, leitores! Conheçam Julia Carter, uma brasileira vivendo nos EUA e buscando seu espaço no mundo. Julia, uma doutora em literatura, formada pela universidade de Yale, que trabalha como editora literária em New York. Carter é mulh...