Última Chamada Para O Amor

Cap. 28 - A Esmeralda

Voltei ao trabalho, pegando leve de inicio, não quero ter de me ausentar novamente. Algumas coisas não saíram como eu esperava, foi necessário convocar uma reunião com a equipe. Estava com trabalho acumulado, mas tirei minha pausa para o almoço. Aproveitando para ligar para Thomas, fizemos uma rápida chamada de vídeo. Ele ainda está muito mexido com tudo que aconteceu, às vezes acorda no meio da noite com a respiração acelerada. Certamente a cena do acidente invadiu seu sono, o abraço apertado e digo que estou bem. Claire pediu um tempo para Beth, ela deixou o apartamento de ambas e foi para um hotel. Beth lidou de maneira madura, apesar de estar muito magoada e com medo. Foi a melhor decisão, ficar separadas e dar espaço para que os sentimentos de acertem. Convidei Beth para passar o natal conosco, mas ela prefere seguir os planos e ir visitar os pais. Eles são idosos, apesar de não concordarem com as escolhas da filha necessitam de atenção. Sofia virá para DC, assim como John e Victoria. Este será o primeiro jantar de natal totalmente organizado por mim, é difícil acreditar que há quase um ano achava esta uma ideia estapafúrdia. Thomas está cuidando de nossa viagem para o Brasil, agora com tudo tão próximo começo a sentir ansiedade. Minha mãe descobriu a nossa diferença de idade, após conversarem durante o meu período no hospital, ela decidiu pesquisar quem é Thomas Harrison. Não foi necessário muito, o meu Instagram está recheado de fotos nossas. Dra. Sandra começou a fazer suposições e colocar em dúvida as intenções de Thomas, não será nada fácil lidar com ela. Evitei argumentar e discutir pelo telefone, pois acabaria desistindo da viagem.

Decorava a sala quando Thomas chegou, o seu semblante fechado. Achei estranho, ele estava bastante animado e sorridente pela manhã. Ele deixou as chaves no aparador e veio em minha direção, deu-me um beijo e um longo abraço. Seu corpo estava gelado, as noites estão cada vez mais frias.

- Acho que um Papai Noel vomitou aqui. – Disse afastando os enfeites que deixei espalhados no sofá.

- Ainda estou me decidindo, depois guardo tudo no depósito. – Estava em dúvida entre dourado, vermelho ou azul, para a cor tema. – Você parece estressado, o que aconteceu?

Thomas tirou a gravata e abriu os primeiros botões da camisa.

- Snaider esteve no escritório hoje. – Seu tom sério. Deixei os enfeites de lado voltando minha atenção para ele. – A polícia de NY alega que um erro no sistema comprometeu a investigação do acidente. Mas na verdade, alguém apagou as imagens das câmeras de segurança do banco de dados da delegacia.

- O quê? – Disse surpresa.

- Sim, eu também não pude acreditar, mas Snaider tem certeza. Alguém de dentro da unidade apagou as imagens. Ele está fazendo o possível para descobrir o responsável, mas é difícil arrancar algo de policiais.

Sentei-me ao lado dele, um enfeite espetou o meu traseiro, acho que era uma pequena estrela dourada.

- Mas porque fariam isso, foi apenas um acidente, não é mesmo?

O olhar dele foi alarmante, senti como se algo gelado e assustador se esgueirassem por minha espinha.

- A primeira vista, o carro avançou o sinal vermelho, a atingiu e depois continuou rodando em alta velocidade. – O olhar dele se fixou no hematoma arroxeado em meu braço. – Não me atendei a ele, estava preocupado com você. – Ainda é visível o quanto é difícil para ele falar do ocorrido. – Mas o detetive colheu depoimentos, eles sabem o modelo e a cor do automóvel. Infelizmente não foi possível identificar a placa e o condutor, os vidros estavam cobertos por película escura.

- Snaider acha que não foi acidente. – Afirmei o que estava estampado na face dele. – E você começa a dar razão a ele.

- É a explicação mais plausível. – Seu olhar preocupado. – Julia, por questões de segurança, você terá um guarda-costas e um motorista.

- Não. – Saltei do sofá. – Tudo isso é ridículo, não preciso de segurança e nada parecido. Sei que tudo está muito confuso, mas não vou sair por aí escoltada. Eu não terei a minha liberdade cerceada.

Fiquei agitada, odeio a ideia de ser escoltada, não sou uma daquelas celebridades.

- Sabe que respeito sua liberdade prezo por ela, mas existe a possibilidade de alguém estar querendo machucar você. – Ele ficou em pé, atrás de mim. – Eu não posso deixa-la correr outro risco, Julia.

- Eu entendo Thomas, mas não mudarei a minha rotina por conta de uma especulação. – Dei um passa para trás, recostando contra o corpo dele. – Sem motorista, sem guarda-costas.

- Não concordo com a sua escolha, o seu bem-estar e segurança são minhas prioridades, mas vou respeitá-la. – Seus braços me envolveram, um abraço seguro e carinhoso. – Apenas lhe peço que tenha cuidado, por favor, meu amor.

Fechei os olhos, quem poderia querer me machucar.

Não consegui pregar os olhos durante a noite, todos aqueles fatos estavam criando teorias assustadoras em minha mente, por que alguém teria o trabalho de apagar imagens de dentro dos arquivos da polícia. Por que cometer um crime para encobrir outro, quem estava dirigindo aquele maldito carro.

Encontrei-me com Alisa em seu gabinete, a nossa reunião foi marcada para finalizar o processo que dará inicio a implantação do projeto. Felizmente no próximo ano ele estará funcionando a todo vapor.

- Fico feliz que esteja recuperada, foi um susto terrível. – Disse ela quando fomos tomar um chá.

- Eu ainda estou processando tudo. – Não menti.

- O baile anual do partido será na terceira semana de Janeiro, você recebeu os convites?

Felizmente ela mudou de assunto, quero deixar as teorias de lado por alguns instantes.

- Sim, Thomas e eu estaremos lá. – Sorri.

Thomas recebeu outros dez convites semelhantes, no mundo da política ter um homem de negócios no porte do Harrison como aliado é um trunfo.

Usei o período livre da tarde para revirar lojas em busca de presentes para minha a família e outras coisas necessárias para viajem. Eu preciso de biquínis novos, mas não consegui encontrar nada digno do verão do meu Brasil, transferi a missão para minha irmã, só espero que ela acerte o meu número. Não me recordo da última vez que usei um. Talvez tenha sido há alguns anos, quando eu estava saindo com aquele advogado. Nós fomos para Malibu, curtir um final de semana. Que acabou terminando de forma abrupta, quando descobri que ele tinha uma namorada e aproveitou que ela estava fora para viajar comigo. O apanhei conversando com ela ao sair do banho, me senti péssima. Voltei para NY na hora, a partir daquele momento jurei para mim mesma que nunca mais aceitaria menos do que mereço.

Parei no cruzamento, o sinal estava fechado para pedestres, um casal de idosos estava cerca de alguns centímetros atrás de mim. Minhas mãos carregadas de sacolas. Olhava os carros passando, em velocidade média, a brisa estava mais fria que a daquela noite em NY, mas a sensação de estar novamente naquele momento me preencheu. Respirei fundo, fechando os olhos, as imagens passaram rapidamente, como um filme sendo adiantado. O som dos carros, a brisa e as vozes das pessoas a minha volta. Não me fixei em nada, deixando a mente conduzir o instante, permitindo que ela me mostrasse o que estava oculto. Aos poucos as imagens começaram a fazer sentido, passando lentamente. Permitindo-me voltar naquele instante escuro. Eu estava atravessando a rua novamente, na faixa, olhos no restaurante, mas de repente um som desviou a minha atenção para a direita. Olhei, por uma fração de segundos pude ver o motorista que me atingiu, mas não o seu rosto. Suas mãos no volante, dedos e um anel. Um anel no dedo indicador, esmeralda.

- Moça você está se sentindo bem?

A voz da senhora tirou-me da lembrança, ela desapareceu como fumaça.

- Sim, eu estou ótima. – Respondi de olhos abertos.

Foi pouco, mas fui capaz de recordar de algo.

Thomas ficou um pouco cético de início, mas acabou se convencendo que minha visão foi uma lembrança, algo que minha mente bloqueou em meio a tanta confusão. Ele informou ao advogado, quem sabe mais alguém tenha visto.

Um anel de esmeralda pode ser a chave do mistério, ou apenas mais alguma peça deste quebra-cabeça.