Não sei aonde estou e novamente não me importo com isso. Tudo está escuro, mas a escuridão já se tornara algo comum para mim.
Escuto um som ao fundo e ao mesmo tempo a escuridão vai se dissipando diante de meus olhos.
Não tenho medo. Medo é algo do qual não me permito mais sentir.
- Você já foi mais fraca - alguém falou enquanto minha visão tentava se ajusta a repentina claridade.
- A necessidade, às vezes, fala mais alto do que a fraqueza. - respondi, assim que uma silhueta comecara a focar-se a minha frente.
- De fato - Respondeu Talick. - Mas agora você tem que abrir seus olhos, Calyn.
- Como abrir algo que está selado a muito tempo?
Ele deu de ombros. Nunca parecera mais... Disposto do que agora.
- Dê seu jeito. Nada é o que parece ser, sétima filha. Você deve encontrar aqueles em que realmente deve confiar.
- Mas...
- Nunca se esqueça de quem realmente está ao seu lado.
- Porque todos dizem isso? - perguntei, frustrada.
Talick sorriu, um sorriso do qual eu queria ter visto mais vezes.
- Por que, por mais que você saiba, minha cara. - E franziu a testa. - Você se recusa a acreditar naqueles que jamais ousariam abandonar-lhe.
- Tenho meus motivos.
- Todos temos. Mas é chegada a hora de você reconhecer seus verdadeiros aliados...
《■》
Disperto com duas batidas fortes na porta da pequena biblioteca do templo, onde eu, ainda, me encontrava depois da saída de Victor.
Não sei por quanto tempo dormi e, me pergunto se fora realmente um sonho.
- Eu não pretendia acorda-la - Saelor se aproximou de mim, a passos largos. - Vim saber se quer algo para comer.
Ele parecia usar cautela a cada frase que proferia.
- Estou sem fome.
- Mas você tem que comer ou ficará frac...
- Não diga! - falei amargurada. - Nunca mais diga essa palavra se ela for referente a mim.
Vi, diante de meus olhos, o que eu jamais pensaria em ver.
Saelor se encolheu - encolheu diante de minha fala.
- Eu não - ele engoliu em seco - Eu não pretendia te subjuga ou algo assim. Eu só...
- Saelor - O interrompi.
Ele levantou seus olhos, e encarou os meus.
- Sim?
- Quem sou eu?
Saelor piscou, desnorteado.
- Oras, não diga best...
- Quem eu sou, Saelor? - perguntei, o interrompendo novamente.
Ele egoliu em seco e minha vontade foi de gritar.
- Calyn. Calyn Cleuyck.
- Certo - Suspirei. - E em quais terras eu nasci?
Saelor franziu as sobrancelhas até um vinco formar-se em sua testa.
- Forceu.
- Quem é o rei de Forceu?
- Eu sou.
- Isso. Você é o meu rei. Por mais que eu não lhe deva mais obediência, eu sempre o respeitarei acima de tudo. Não tenha medo de mim! Isso eu não aceito - desviei meu olhar. - Não de você.
- Você está mudada. - Foi tudo o que ele disse. Como se só isso pudesse justificar seu modo de agir. - Não sei mais o que pensar.
- Então não pense - voltei-me novamente para ele e olhei em seus olhos. - Não pense se as consequências disso sejam tão... lamentáveis.
- Diz a mulher que escolheu salvar seu algoz.
- Foi uma escolha, minha escolha. Ela não diz respeito à você nem à ninguém!
- Você o ama.
- Não!
- Sim - Saelor engoliu em seco. - Desgraçado...
Ele arfou com força e deu um soco forte em uma pequena mesa que eu nem ao menos sabia que estava ali.
- Você se deitou com ele? - Perguntou, parando abruptamente a minha frente.
Fechei meus olhos e suspirei.
Saelor segurou com força nas laterais de meus braços e me sacudiu.
- Responda! Você, Calyn, teve a coragem de passar por cima das leis, das profecias, das vontades dos Deuses para se deitar com um homem que não aquele escolhido? Ousou sair do caminho traçado para o seu futuro? Ousou me trair, Calyn?
- Não.
Saelor arfou.
- Eu ousei fazer minhas próprias escolhas! - empurrei seu peito, fazendo com que soltasse seu aperto. - Ousei seguir o meu próprio caminho. E, nem você e nem ninguém farão com que eu mude isso daqui para frente!
Saelor socou a mesma mesa novamente, a fazendo se partir ao meio.
- Você é uma tola! - esbravejou aos gritos. - Inconsequente! - Se aproximou de mim. Não recuei. - Sabe ao menos o grande problema que isso irá causar? - Se aproximou mais. - Sabe das pessoas das quais isso irá ferir?
- Pelo jeito, não ferirá mais do que feriu à você, Saelor. - repliquei.
- Não, não irá. Sabe porque? - Se aproximou mais. - Por que... Maldições! - Grunhiu. - Eu a amo!
Surpresa me atingiu como um golpe de uma adaga. Fiquei surpresa quando, após tantas acusações armaguradas, Saelor simplesmente me beijou.
Não tive tempo para pensar ou sequer sentir. Eu estava petrificada.
- Bravo! Um belo espetáculo! - Urick ria aos aplausos. - Aliás, muito emocionante. - fingiu limpar uma lágrima com deboche.
Saelor ficou tenso, mas não me soltara de seus braços.
- O que será que os outros dirão sobre isso? - Cantarolou enquanto andava a nossa frente, como uma cobra rastejante.
- Talvez você fique sem língua, antes disso. - Saelor falou, entre os dentes cerrados.
Sai de seus braços. O fazendo trincar o maxilar.
Urick sorriu.
- Isso é uma ameaça?
- Não - respondi. - É um aviso. - falei firme. - Agora, diga o que veio fazer aqui sua víbora.
- Fico lisonjeado com o elogio Calyn. E, com certeza não vim lhe roubar beijos. - Disse provocativo.
- Urick... - Avisou Saelor.
- É chegada a hora.
Ao meu lado Saelor engolia em seco.
- De que? - Perguntei impaciente.
Urick sorriu, um sorriso mais maquiavélico que o normal.
- De respostas, cara Calyn.
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Sétima Filha - Traída
FantasySegundo volume da série. Calyn foi traída, enganada e apunhalada por quem se entregou de corpo e alma. Nada mais faz sentido em sua vida e a única coisa que a mantém viva é a promessa de não abandonar aqueles que precisam de sua ajuda e, sua sede p...