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Abrindo caminho entre o mar sombrio que era o exército das trevas, derrubando criatura após criatura, segui para perto da floresta, sem ousar olhar para trás. A cada golpe de minha espada combinada com movimentos de meus dons, eu chegava mais e mais perto de meu objetivo.

Que Aaron estivesse bem;

Que Pitter estivesse bem;

Que Victor estivesse bem;

Que todos estivessem bem.

Eu pedia aos Deuses em silêncio. Eu mesma não sabia se terminaria este dia com vida, mas sabia que se isso acontecer, eu não poderia viver sabendo que um deles se fora para sempre. Ao longe, eu podia ouvir os rosnados que o Oráculo dava a cada grupo de criaturas que derrotava, e pelos sete Deuses eu não sabia o que Aaron o havia proposto para que nessa batalha, estivesse ao nosso lado. Mas tinha medo, por que o Oráculo era uma criatura das sombras, talvez uma das mais fortes, e o que estava prestes a fazer poderia bani-lo com os outros, então Aaron havia prometido algo muito, mas muito importante para o Oráculo. Mais importante do que sua própria existência. Pensar nisso me causou um arrepio na base de minha coluna.

Sendo coberta pela vegetação sombria, adentei na floresta, matando e mutilando qualquer criatura que ousava cruzar meu caminho. Agora, com boa parte do exército sombrio distraído com a batalha, eu podia usar de meus dons nos domínios sombrios. Eu podia jurar sentir a floresta rosna colérica comigo a cada golpe dado por um de meus dons conjurado. Ela estava bem acordada agora, e era exatamente isso que eu precisava.

Agarrando a aqueles laços de poder dentro de mim, os puxei e soltei-os sobre a floresta, eu destruiria e queimaria folha por folha se fosse preciso para achar aquele maldito arco, aquele maldito portal. Fúria corria e eram liberadas de minha veias, a floresta gruinha a cada novo golpe de meu poder. Chamas comiam e desmatavam suas árvores e vegetações, a terra se movia a meu comando, destruindo suas caverna, mexendo o chão abaixo de meus pés.

Eu a queimaria por inteiro, destruiria cada resquício do mal ali presentes.

Até que sinto algo.

Algo como um ronronar, um chamado.

E eu sabia que dessa vez não era a floresta tentando pregar-me uma peça, ela estava colérica demais para isso.

Eu sabia em cada osso de meu corpo que aquilo era um chamado.

O portal me chamava.

Talvez para que não destruísse tudo, talvez para que de fato destruísse. Não importava, o importante era que eu estava ali e eu atenderia o seu chamado.

Segui aquela sensação, aquela voz que não falava mas me chamava tão suavemente, tão perigosamente.

Como um sussurro de um amante o portal me chamava, e eu o seguiria, deixando pelo caminho a minha própria trilha de morte e destruição. Não havia mais tempos de paz, ali não havia espaço para misericórdia. Criatura, vegetação, não importava. Todos morreriam, eu estava colocando um fim de uma vez por todas.

E quanto mais perto chegava, mais alto podia sentir o seu chamado. As trevas me queriam, me chamavam e chamavam, mais e mais alto, mais e mais rápido.

Uma trilha de morte deixada para trás a cada novo passo meu. Se eu morreria, não importava. Ela morreria comigo.

Foi então que eu o vi. Muito maior do que quando havia visto dentro da mente da criatura que capturamos, mais sombrio e imponente. O portal.

Elevado acima da terra plana, o arco de pedra negra, onix que sugava toda luz e alegria do mundo a sua volta. Em seu centro, tremulizando como água o portal se parecia com um espelho, porém rachado, quebrado. E dessa fenda uma a uma criaturas das trevas saiam. Uma mais horrenda e cruel que a outra. E, conforme mais elas saiam, mais a rachadura crescia no portal. Os pés do grande arco brilhavam e reluziam em vários tons de vermelho rubro, fazendo-me questionar, quantas pessoas inocentes, descendentes de Seraphina, haviam morrido para que aquela fenda fosse aberta.

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora