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- Não comece, Lucyn!  - Bronqueou nossa mãe.

Mas eu sabia que ela não se calaria. Esse confronto era tudo que ela queria. Suas frustrações seriam jogadas sobre mim, como se eu já não carregasse peso demais sobre os ombros.

- Não! - Revidou ela com as mãos cerradas em punhos e os dentes trincados. - Não vou me calar. - Falou, com os olhos marejados. - Vocês a recebem de braços abertos quando na verdade é tudo culpa dela!

Permaneci imóvel. Suas palavras haviam me atingido com força, mas eu não demostraria quão machucada estava.

- Nada disso é culpa de Calyn. - Falou Schrader entrando no pequeno cômodo. - Ela sequer queria ter participado do Rito. - Disse meu irmão, deixando cair sobre o chão o arco que carregava, que caiu fazendo barulho. - Ou você está tão amarga que, mal pode se lembrar com clareza dos fatos? 

Lucyn resmungou.

Eu já não prestava atenção na discussão. Schrader estava aqui, meu irmão mais novo, porém agora parecia mais velho. Dando passos rápidos em sua direção o abracei com força.

- Senti sua falta. - Falei com o rosto encostado em seu peito. Sentindo seu coração abaixo de minha bochecha.

Schrader riu.

- Até parece, Senhorita ranzinza. - Brincou, me provancando como sempre fazíamos um com o outro. - Bem, acho que teremos que arrumar-lhe outro apelido. - Seus braços me rodearam. - Senti sua falta.

Então percebi que, aquela aura reconhecedora era tudo que eu precisava neste momento. Minha família estava feliz em me ver, a maior parte dela pelo menos. Mesmo abatidos pelas mortes de Papai e Eury, eles se esforçavam em manter o clima armênio, por mim. E eu estava grata.

Eu morreria por essas pessoas. Morreria antes que algo pudesse lhes acontecer.

Schrader havia me soltado um pouco mais tarde do que deveria, não se importando que o restante de nossa família, percebessem o quão importante para ele eu era. Isso me alegrou. - Passei o dia ao lado deles, e era mais que reconfortante saber que eles estavam bem, que tudo ficaria bem. Eu me sentia completa novamente. Eles me contaram tudo o qual estavam fazendo enquanto estive fora - era assim que eles se referiam -, Schrader agora era o "olhar ponteiro" do reino, ninguém atirava tão bem com o arco-e-flecha. Gael havia atraído a atenção de alguns Lordes, mas sua própria atenção era dedicada, a maior parte do tempo, em aprender esgrima. Mamãe mencionara que Lucyn havia aprendido ler mapas, mas ela não estava mesmo presente para me dizer o porquê de seu novo fascínio por pergaminhos velhos. Pitter por sua vez estava por dentro de tudo sobre nosso inimigo, não estendi a conversa para esse rumo. Henry e Henseu viviam para pregar peças nos guardas do Palácio.

Sorri, porque era exatamente isso que crianças normais estariam fazendo.

Mais tarde, quando Mamãe e eu estávamos mais a sós, seus olhos vagaram para o lado de meu rosto, curiosos.

Desviei o olhar.

- Eu sei o que isso quer dizer. - Disse ela ao encarar minha orelha e levar a mão até a sua, para afastar os cabelos e revelar a pequena argola dourada, semelhante a minha, que atravessava a cartilagem interna de sua orelha, envolvendo-a dos dois lados. - Fico feliz que tenha mantido a tradição de minha família.

Meu rosto ardeu - Não. Entrou em combustão!

Agradeci aos Deuses quando á porta Aaron me chamou, mas isso acabou arrancando um sorriso ainda maior de mamãe.

Céus!

- Posso te roubar um pouco? - Disse Aaron quando me aproximei.

Sorri, sentindo meu rosto retroceder tons de vermelho. Eu sabia que ele tinha escutado toda conversa, pois assim que cruzamos as portas, Aaron afastou meu cabelo e deu um beijo suave em minha orelha, sobre a pequena argola.

- Gosto disso. - Disse ele, rouco.

- Não duvido que goste. - Provoquei.

《■》

- Calyn, acorde!

Dispertei em um solavanco, pois a voz que puxava-me de meus sonhos era a de minha irmã, não de Aaron.

Busque ao redor, sobressaltada, por perigo. Não havia nada.

Aaron não estava deitado ao meu lado, considerando que horas antes estava. Esse conhecimento me trouxe um mal presságio.

Encarei muita irmã. Tinha quase certeza que mamãe havia a mandado me procurar aqui, pois este não era o meu quarto, era o de Aaron.

Afinal, onde infernos ele estava?

A verdade, era que mesmo preocupada, eu estava aliviada pois não sei o que faria se minha irmã presenciasse nós dois juntos, nesta cama. O que me fez lembrar que eu ainda estava nua.

Agarrei os lençóis.

- O que foi Gael? - Falei, ao encontrar minha voz. - Aconteceu algo?

Minha irmã mais nova soluçou, colocando-me em alerta máximo.

Abraçando a si mesma, ela disse entre lágrimas e soluços:

- Eles se foram, Calyn. - Soluçou novamente. - Eles se foram e não sei se irão voltar.

Pisquei, tentando entender. Estaria ela falando de Papai e Eury? Meu peito se apertou.

- Tentei impedir Pitter, eu juro. - Continuou, quando não obteve minha resposta. - Mas ele foi mesmo assim. Disse que era preciso para manter-nos seguros.

- Gael, o que isso quer dizer? - Perguntei desesperada levantando, pouco me importando agora se estava nua.

Comecei a passar pela cabeça meu vestido fino de dormir. Apressada, sentindo nos ossos o mau presságio.

- Pitter, Aaron e Hellviel. - Falou entre mais soluços. - Foram a Floresta Negra.

Inferno.

Todos agiam pelas minhas costas, não importasse o quanto eu tentasse enfatizar a porcaria de meu poder.

- Gael, vá até mamãe e fique com ela. - Falei apressada enquanto seguia a porta.

- O que você irá fazer? - Perguntou abruptamente, antes que eu saísse.

Suspirei, cansada.

- Vou entender o que está acontecendo. - Falei, trincando os dentes. -  Vou busca-los. - Acrescentei para acalma-la. -  E, quem sabe, vou matar alguém.

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora