---20--

1.3K 195 18
                                    

Um ato de desespero e como a última esperança para Fruent.

Foi decidido então, que uma multidão seria convocada a praça da cidade novamente, e o povo decidiria. Eles dariam o veredito final.

Mas o pior ainda estava por vir. Eu, dentre todos, deveria portar as más notícias.

Não somente a praça mas como todas as ruas e buracos da cidade sagrada de Aurindn estava abarrotados de pessoas. - Um sensação estranha de reconhecimento daquele cenário me tomou, fazendo com que bile subisse por minha garganta.

- Calyn, está na hora. - Pitter avisou.

Engolindo em seco, subi os degraus do altar erguido para acomodar todos os reis e ao nosso redor fileiras e mais fileiras de guardas.

Como se os próprios reis não pudessem se defender sozinhos. Como se a vida deles valessem menos do que aqueles que portavam uma coroa sobre a cabeça. - Então percebi que eu odiava a realeza mas acima de tudo, eu odiava a coroa acima da minha cabeça, que mesmo não estando lá de fato, mas que eu podia muito bem sentir.

Enfim encarei a multidão. Homens, mulheres, crianças, jovens, anciãos... Todos olhavam para mim questionadores. Mas também haviam olhares familiares, como o de minha família, servos do templos e até mesmo soldados de Forceu.

Puxei o ar, e falei com o coração.

- Meu nome é Calyn Cleuyck, a um tempo atrás eu não era nada mais do que uma simples moradora de Forceu.

Silêncio. Puro e quase que expresso.

- Até ser beijada, pelos sete dons.

Murmuros baixos.

- Mas hoje venho a vocês como uma filha de Wareehon, como igual, pedir ajudar.

Dessa vez, as vozes começaram a crescer. O povo estava agitado.

- Não é mais segredo que uma fenda no portal trouxera as criaturas sombrias as nossas terras. - Engoli em seco. - Reinos inteiros já sucumbiram e mais reinos sucumbirão sem que atitudes sejam tomadas.

- O que você quer de nós? - alguém gritou em meio a multidão.

Tentei achar o dono da tal indagação, não não o achei.

- Fruent corre perigo e inocentes morreram sem a nossa ajuda. Venho pedir vidas. Nós precisamos de cinco voluntários para salvar muitos outros.

- Para morrer por eles ? - indagou a voz novamente.

E, com ela vinheram muitas outras.

- O que ganharemos com isso?

- Fruent nunca fez nada por nós!

- Deixem que morrão!

- Eu irei! - Alguém gritou entre a multidão.

Um espaço entre o emaranhado de pessoas mostrou um homem, magro e alto. Não pude ver muito bem sua expressão e não quis aguçar minha visão. Seria apenas mais um corpo para me assombrar. - Mas, mesmo assim, não pude deixar de sentir um aperto em meu peito.

- Eu também irei.

Dessa vez foi uma garota, não muito mais velha do que eu. Ela estava mais próxima, tão perto que pude enxergar uma lágrima escorrer pela pele morena de rei rosto.

- Eu Também.

Um Ancião, talvez não muito perto do fim.

Para mim, sua vida não valia menos por isso.

Respirei fundo, sem saber o que fazer ou falar.

Devia agradecer? Devia chorar? Eu não sabia mais.

- E eu.

Um outro homem, na flor da idade. Não analisei muito os detalhes de seu rosto além das olheiras profundas e olhos vermelhos, como se tivesse chorado por dias.

Eu já não sentia mais as minhas pernas, nao sabia mais de isso era realmente certo. Meu coração palpitava, eu tinha vontade de gritar, parar com toda aquela loucura.

Por um momento, olhei para atrás, para aqueles cujo as coroas reluziam em suas cabeças, e passando os olhos por cada um deles não destaquei nada de diferente em seus olhares além de determinação. Até mesmo nos olhos de Andryas que encarava aqueles voluntários assim como os outros, seus olhos continham o mesmo sentimento.

Porém, uma pessoa continha horror, pena, raiva e até mesmo ternura em seu olhar. Refletindo o que eu mesma sentia naquele momento.

Minhas veias pareciam querer saltar sobre minha pele. - Puxei o ar com força quando Aaron deu um passo em minha direção.

Não suportei seu olhar, virei-me novamente para a multidão.

- Este dia ficará para sempre gravado, não apenas em nossa memórias. Pois hoje os Deus testemunham e eles se lembraram sempre - segurei um soluço -, de cada um de vocês.

Minha voz saira rouca com o choro contido, mas eu precisava falar, precisava dá mais a aqueles que nos presentearam com muito mais do que podíamos exigir.

Faltava somente um agora, mas ninguém parecia querer se pronunciar.

Eu entendia, sabia que era demais. Estávamos pedindo que dessem aquilo que por direito era somente deles.

Suas próprias vidas.

Mas por outro lado, muito além de minhas lamentações, eu sabia. - Sabia que aquelas vidas ajudariam a salvar muitas e muitas outras das quais sem essa ajuda, não teriam escolha alguma.

Silêncio. - O silêncio era quase que enlouquecedor.

Até que, mas próximo do que eu queria ver alguém, deu um passo a frente.

Meu mudo perdeu o chão naquele exato momento.

- Eu vou. - Disse meu irmão Eiry.

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora