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Minha cabeça ainda girava quando abri meus olhos novamente. Aos poucos as lembranças foram voltando e as palavras de Andryas se solidificavam em minha mente.

Um filho.

Se eu tivesse forças, teria gargalhado.

Eu morreria, antes de me deitar com um homem como ele. Morreria se tivesse que conceber um filho a um rei ambicioso. O destino ao qual eu havia me esquivado um dia havia retornado, e eu morreria antes que ele se concretizasse.

Com dificuldade, e deixando que alguns suspiros sôfregos escapassem de meus lábios, me sentei.

- Finalmente você acordou.

Com um solavanco proporcionado pelo susto, minha cabeça se choca contra a cabeceira da cama, o mundo gira.

Quando meus olhos se focam na figueira a minha frente, mal posso impedir de meu queixo cair.

- Néferetty, como chegou até aqui? - pergunto, preocupada. Olhando para todos os lados a procura de uma possível rota de fuga.

Néferetty ri, e só então percebo que eu havia sido traída por mais alguém.

Trinco meu maxilar.

- Oh querida. Não me olhe assim! - Ela piscou, fingindo magoa. - Agora eu penso por dois, lembra? - a rainha acariciou sua barriga já grande com a gestação. - Não poderia recusar uma chance de verdade a meu filho. 

Engoli em seco, eu estava vazia. Todos a qual já confiei um dia haviam me traído.

- Porque? - Perguntei. Era a única coisa que eu precisava saber.

Os lábios vermelhos de Néferetty se curvaram, revelando seus dentes brancos.

- Não seja boba Calyn, sei que essa coisa deve estar comento seu cérebro aos poucos, mas ainda há uma garota esperta ai. - Ela ri. - Talvez um pouco destruída e deprimida, mas está aí em algum lugar.

Sua humilhação não surtiu efeito sobre mim. Eu já havia sido humilhada o suficiente antes de sua chegada.

Seus olhos predatórios não me deixaram. E, enfim percebi que ela se deleitava com minha situação precária. Ergui o queixo, encarando seus olhos.

- Porque? - Repeti a pergunta.

Néferetty retirou seus olhos, entediada com minha falta de raciocínio lógico.

Não me importei, até mesmo pensar doía agora.

- Poder, afinal não se trata sempre sobre isso? - Ela sorriu. - O poder nos cega até não restar nada se não a ânsia por mais. - Néferetty se aproxima da cama. - Eu já havia conseguido o que queria. - Ela põem a mão sobre a barriga. - Quando você tomou o trabalho de se livrar de meu marido, fiquei imensamente agradecida, afinal, foram dois coelhos com uma cajadada só. - Ela se sentou ao meu lado em minha cama, perto demais. - Foi só questão de tempo até Andryas perceber que precisava de um aliado - A rainha ergueu uma de suas sobrancelhas. - Quem melhor do que uma mulher viúva e desamparada com um filho pela frente? - Ela sussurrou.

Horror me antigiu quando diante de meus olhos a mascara doce de Néferetty voltou. Me senti enjoada.

- Você amava Talick.

Néferetty gargalhou diante de minha fala.

- Não. Eu amava o poder que ele me dava e agora, amo o dom que ele me deixou.

- Você é uma víbora. - Falei com desgosto. - Talick não merecia isso.

- Talvez não. - Ela deu de ombros. - Mas agora tenho que me livrar de outra pedra em meu caminho.

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora