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Os dias em Aurindn passavam como chuvas no verão. Constantes, porém rápidas.

Com o passar dos dias, todos se sentiam mais preparados, mas o medo ainda era uma presença incontestável, considerando o fato de as notícias sobre movimentos das trevas serem cada vez menos frequentes. - Parecia que, agora, nós apenas esperávamos por notícias de mais desgraças.

Entre tanto, haviam aqueles que se mantinham confiantes. Meu irmão Pitter era um deles.

- Daqui a alguns dias, serei melhor até mesmo que Leônidas! - Se gabou Pitter, após eu lhe ensinar mais sobre o nosso dom em comum.

- Acho difícil - comentou Victor que também nos acompanhava. - Ele teve uma vida inteira para isso, com um rei como professor.

Sentei-me sobre o gramado do Jardim do templo sagrado, enxugando o suor com um pano umedecido.

- Ei! - me fiz de ofendida.

Eu não era das melhores, mas ainda sim havia os ensinado alguma coisa.

Victor deu de ombros.

- Sem ofensas, é claro.

- Mas o fato é - continuou Pitter, ignorando a nossos comentários anteriores. - Não poderia ter escolhido melhor, irmã. Sinto que o fogo, é quase que indestrutível!

- A não ser que lhe joguem um balde de água! - Victor já gargalhava, antes mesmo de terminar sua frase.

Não pude deixar de sorrir.

- E, - acrescentei - Já lhe disse que não foi uma escolha minha.

Foi a vez de Pitter dar de ombros.

- Considerando o momento no qual nos encontramos... veio a calhar.

Victor se sentou ao meu lado e pude perceber a mudança repentina em seu semblante.

Não precisei perguntar, antes mesmo de formular a pergunta, Victor já sabia de sua existência.

Sim, já consigo bloquear as vozes, tal como você me ensinou.

Disse ele, sem abrir os lábios.

Há poucos dias em que começamos a treinar, mas já nos primeiros tanto eu quanto Victor descobrimos que, o compartilhamento de um mesmo dom nós permitia conversar, sem precisar falar de fato. Precisávamos apenas olhar-nos nos olhos e nossas vozes estavam lá, em nossas mentes. - Foi assustar, a princípio, ainda mais porque fora na presença de Pitter, e eu ensistia que era ele pregando-me uma peça.

Então o que lhe aflinge?

- Maldições, vocês estão fazendo de novo... - Resmungou Pitter.

Ando sentindo algo... Diferete.

- Odeio isso. É como se estivessem malucos, só se olhando e ignorando há todos...

E o que é, Victor?

- Exatamente como agora - Pitter pragurjou, e seus passos foram se distanciando.

Não parecia muito educado da nossa parte excluir meu irmão de tal maneira, mas Victor só conseguia falar diretamente sobre o dom desta maneira. Eu respeitava sua vontade, até por que fora eu que havia o condenado a isso.

Um pressentimento ruim, que cresce a cada dia... E você também sente.

De fato, eu sentia, mas não havia me convencido disto.

Eu sei.

- Senhorita?

Quebrei o contato com Victor, e olhei para o guarda, agora, em pé ao meu lado.

- hm... Perdoe-me por interrompe-los, mas tenho ordens expressas de leva-la a seus aposentos. - E então engoliu em seco. - Agora.

Não precisei de muito para perceber que algo estava errado.

- Desde que cheguei, nunca tive uma escolta.

O guarda tentou manter sua expressão impassível, mas eu vi a leve tremulação de suas pálpebras. Ele trocou o peso entre as pernas.

- Sinto muito. - Coçou a garganta. - São apenas ordens, que a senhorita também deve seguir.

Me levantei, ficando frente a frente com o guarda.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntei calmamente.

- Vamos, senhorita.

- Diga-me! - Falei com firmeza.

O guarda a minha frente engoliu em seco, mas não demostrara qualquer reação, mesmo que seus batimentos demonstrasse que seu coração estava preste a sair pela boca.

- Senhorita... - insistiu.

- Você não me da outra alternativa... - Suspirei, me sentindo cansada.

Com um movimento quase que imperceptível, o guarda posicionou sua mão no punho de sua espada.

- Por favor, senhorita. São apenas or...

- Victor.

Em menos de um minuto, Victor já estava em sua mente e a única coisa que delatava isso era, seu olhar penetrante em direção ao guarda e a postura rígida do mesmo. - E, quão rápido e fácil fora entrar, havia sido para sair, pude perceber.

- O começo de um ataque em massa a Fruent. Os reis estão reunidos. - Disse Victor, sem hesitação.

Não pensei duas vezes, eu já caminhava aos seus encontros. Deixando para trás um guarda confuso e atordoado.

- Você sabe que é loucura. - Disse Victor a tiracolo. - Eles não irão a escutar.

Ri com desgosto.

- Foi-se o tempo em que a minha voz não tinha valor. E, se eles ainda não se deram conta disso, passarão a dar a partir de hoje.

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora