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Quando acordei pela manhã, os braços de Aaron me rodearam e me permiti saborear aquele momento.

Hoje seria um dia difícil para mim.

Todos os dias eram.

Havia se passado uma semana desde a minha chegada, todos os dias parecia que eu tinha uma batalha diferente para lutar. E, a cada novo anoitecer, eu estava esgotada e buscava apoio nos braços de Aaron. Isso era algo bom, te-lo sempre lá para afagar-me o cabelo e me dar amor, prazer. Mas também me assustava, pois vezes de mais eu me via pensando: "E se algo acontecer a ele?".

Suspirei.

Hoje, eu teria uma nova batalha para travar, havia a evitado por dias, mas eu não poderia apenas dar as costas para o que venho evitando. Minha família.

Eu os amava, sentia saudade, mas a simples lembrança de que ela estaria incompleta por minha culpa, era o suficiente para me acorvadar. Eu sequer sabia se Pitter estava vivo, não ousei pergunta por medo da resposta. Como os encararia? 

- O que se passa ai dentro? - Aaron perguntou num sussurro, ainda abraçando-me corpo, com o rosto em meu pescoço, ao perceber que eu estava disperta, presa em meus devaneios.

Eu não havia percebido que ele despertara. Então como única resposta, falei:

- Hoje verei minha família.

Ou o que restou dela.

Aaron ficou em silêncio por um tempo, me perguntei se ele teria sentido em minha única frase o emaranhado de emoções que eu estava.

Depositando um beijo suave sobre meu ombro nu, Aaron sussurrou com a voz de mil amantes:

- Seja forte, Calyn.

Bom, eu tentaria.

《■》

Barrada novamente por uma porta. Essa parte de mim, essa fraqueza sentimental me aborrecia mas de certo modo eu a entendia. Coisa demais haviam acontecido nesse ano, coisa que eu sequer pensei que um dia aconteceria. Ter o emocional abalado poderia ser compreensível, certo?

Encarei a porta, tomando coragem. Eu estava concentrada aos sons por de trás da madeira, concentrada o bastante para não perceber a aproximação de alguém.

- É só girar a maçaneta. - Disse a voz familiar.

Em um solavanco, me virei e o abracei sentindo o nó em minha garganta se afrouxar, um pouco.

- Pitter! Eu pensei que você... - Não me permitir continuar.

- Estivesse morto? - completou ele. - Foi por pouco. Mas não.

Acenti, sem deixar seus braços.

- Me prometa - Falei em um sussurro. - Me prometa que nunca mais se colocará em perigo.

O peito de Pitter subiu e desceu, forte.

- Você sabe que não posso prometer isso, Calyn.

Eu sabia, mas não queria aceitar. Já havia perdido membros demais de minha família.

Sem dizer mais nada, Pitter abriu a porta. Arfei baixinho quando cabeças em tons de preto viraram-se em minha direção. Por um instante ninguém disse nada, até que os gêmeos correram em minha direção e abraçaram minha cintura.

Meus olhos se encheram de lágrimas.

Céus, como haviam crescido!

- Calyn? - Disse mamãe depois de um minuto.

Mamãe me abraçou, tão forte entre os braços que eu estremeci quando um soluço escapou de meus lábios. Logo, senti mais um peso sobre mim e percebi que Gael também me abraçava.

- Minha menina. - sussurrou minha mãe. - Eu estava tão preocupada.

Chorei, deixando que as lágrimas desatasse o nó em minha garganta.

- Mamãe, eu sinto muito. - Solucei.

- A culpa não foi sua querida. - Disse ela, com emoção na voz.

Gael fungava em meu ombro, também emocionada.

Essa era uma dor que todos nós partilhamos.

Mamãe se afastou, o suficiente para olhar em meus olhos, Gael também me soltou sem dizer nada se afastando.

- Seu pai foi um grande homem, minha filha. - Murmurou com lágrimas nos olhos. - Seu irmão também. Ambos teimosos e de cabeças duras. - Sorriu, ainda que as lágrimas escorresem-lhe pelo rosto.

Não encontro minha voz, então apenas acenti. Eu ainda me sentia culpada.

- O que ela faz aqui?

Me virei somente para ver o rosto vermelho e irritado de minha irmã, Lucyn.

Hoje seria um dia difícil.

 

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora