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A noite estava fria enquanto eu cavalgava as cegas na escuridão. Nem mesmo a suave luz amanteigada da lua cheia, era capaz de sobrepujar as folhas escuras das árvores corpulentas da Floresta Negra.

A Floresta estava incrivelmente silenciosa. E, ter ciência desse fato só me deixara mais alerta.

Perigo. - Havia perigo por perto, e era uma ameaça tão grande que nem mesmo a Floresta fazia sons.

Deixando minha égua, segui a pé. Dessa forma seria mais silenciosa e discreta.

Então procurei, horas a fio. Vez ou outra eu podia jurar sentir meus Dons ferverem sobre minhas veias, implorando para serem libertos, mas os mantive trancados. Uma única fagulha e eu seria descoberta, por tudo e por todos ao meu redor, afinal, até mesmo a própria floresta tentara me matar uma vez.

Conforme horas se passavam, a aflição ia crescendo dentro de mim. Logo me vi pensando se tudo isso era somente uma armadilha, se de algum modo eu estava fazendo justamente aquilo que nosso inimigo queria. Afinal, eu estava em seu território, se não prestasse atenção o suficiente, poderia simplesmente tropeçar no Portal proibido. - Também comecei a me perguntar se havia chegado tarde, mas esse pensamento eu não deixe se aflorar.

E, justo quando estava decidida a parar de questionar a mim mesma, ouvi um barulho. Não muito alto, mas o suficiente para que eu pudesse distinguir o lado do qual ele veio. Segui, pedindo aos nossos deuses antigos para que não estivesse indo direto a cova dos leões.

Escondido atrás de uma vegetação estava alguém, me aproximei, tensa e cuidadosamente. Até renhocer a figura agaixada e escondida. Dei um último passo em sua direção e abaixei-me rapidamente, trampando sua boca para que minha chegada não o assustasse.

- Pitter sou eu!

Seus olhos, antes arregalados, diminuiram. Então eu o soltei e amaldiçoei-me por isso, pois a ponta afiada de uma adaga foi posicionada em meu pescoço.

- Prove - falou ele.

Pisquei, confusa.

- Prove que você é a Calyn. - Insistiu, em quanto eu ainda estava tentando processar.

Maldições. Eu não queria nem imaginar os horrores que ele deve ter passado aqui. Essa floresta podia ser bem traiçoeira.

- Pitter. - Engoli em seco. - Não posso, olha aonde estamos!

Isso não o convenceu, pois sua adaga ficou mais firme em meu pescoço. Eu já podia sentir sua ponta rasgando minha pele.

Exasperada, pensei em algo mas qualquer coisa que pudesse lhe dizer o deixaria mais desconfiado, pois até eu sabia que aqui nenhum de nossos pensamentos estavam a salvos.

Então, implorando internamente para que desse certo, puxei aquela pequena linha que entreligava o dom de Inclandecin com o meu. Pitter possuía uma pequena parte dele também, graças a mim, portanto desejei que ele sentisse aquele leve puxão. Mesmo sabendo que do outro lado de Wareehon, Leônidas também o sentiria e talvez isso entregasse-o a mensagem errada.

Pitter piscou, atônito, e só então pude soltar o ar que estava segurando. Ele afastou a adaga.

Suspirei.

- Desculpe por isso. - Meu irmão sussurrou. - Coisas estranhas aconteceram aqui.

Eu não duvidava.

- Onde está Aaron? - Perguntei, pouco importando se havia demonstrado minha ansiedade por sua resposta.

Eu estava grata por ter encontrado Pitter, mas não era somente meu irmão que eu vim buscar.

- Encontramos a Criatura. - Disse ele sombrio. - Iremos atrai-lá para nossa armadilha.

Pitter apontou para algo além da vegetação em que nós dois estávamos escondidos. Havia um buraco e uma rede. Não fiquei impressionada.

- Aquilo? - Contestei.

Ignorando meu questionamento, Pitter continuou:

- Aaron irá atrai-lá até o ponto desejado. - Fez uma pausa para que eu pudesse absorver sua frase. Percebi então, que Pitter não estava tão alheio a Aaron e eu. - Hellviel a colocará para dormir com algum tipo esquisito de poção que arrumou por aí. - Meu irmão enrugou a testa. - Infernos, aquele velho me dá mais medo do que a criatura.

A mim também, quis dizer, mas antes que as palavras pudessem escapar-me os lábios, escutamos um grande rugido. Algo monstruoso e primitivo.

- Ai vem eles.

Não demorou muito para que a figura musculoso e agora soada de Aaron despontasse dentre a vegetação sombria. Ele estava correndo, tão focado que tive que piscar para me concentrar. - Aaron veio em nossa direção, ainda fugindo da criatura cheia de garras e dentes que vinha logo atrás.  - Meu dons entraram em um alvoroço tão grande em minha veias que eu quase podia sentir dor por não os liberarem. - Quando Aaron já estava próximo o suficiente, ele saltou sob o buraco, e como esperado a criatura atrás não teve tanta inteligência para repetir o movimento. Ela havia caído na armadilha.

Pisquei.

De fato, havia dado certo.

Dez metros á nossa frente, Aaron soltou um suspiro ofegante e se apoiou nos joelhos, recuesperando o fôlego. Pitter e eu saímos de nosso esconderijo. Quando Aaron me viu, um misto de desaprovação e compreensão passaram por seus olhos, mas mal tive tempo de dar-lhe uma bronca pela omissão. Garras que mais pareciam tentáculos agarraram em suas pernas e começaram o arrastar para dentro do buraco.

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora