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Estou deitada e encaro um teto com desenhonhos perfeitos e ornamentados feitos de gesso.

Me mover causa dor e ardência em todo o meu corpo, mas ignoro tudo que me adverte pra que eu fique deitada e me sento.

Constantemente os guardas que vigiam a porta do quarto no qual me encontro, me fazem engolir quantidades excessivas de Maestrya a cada hora. Como que para se assegurar de minha fraqueza.

O veneno em minhas veias é uma presença sufocante e silenciosa.

Já fazem seis dias que não sinto o meu dom.

Nove.

Dezessete.

Trinta e dois.

Os arranhões na parede ao lado de minha cama, feitos com um prego solto, não me deixam esquecer.

A cada dia que passa me afundo mais em minha amargura, em meu luto.

Não resta mais nada dentro de mim.

A compreensão de que em breve o restante de minha família morrerá também é um sentimento que me rodeia, me preparando para a dor.

Talvez até lá eu não a sinta mais.

A porta do quarto é aberta, e sei que é chagada a hora de minha doze matinal. Como todas as outras vezes eu luto, me debato, tento a todo custo regeitar a bebida amarga e envenenada.

Em vão.

Os guardas já chegam preparados, me imobilizam em poucos segundos e logo espremem meus lábios para que eles se abram dando passagem para a bebida que desce queimando em minha garganta.

A cada nova doze, um ematoma novo surge em meu corpo fraco.

Lutar, e a dor física como consequência, são as únicas coisas que me permitem lembrar que ainda estou viva. - Mesmo que algo dentro de mim já tenha morrido a muitos dias.

Como de costume, o veneno suga, como uma praga, o restante de minhas forças.

Me pergunto se em algum momento ele não acabará de vez comigo.

Torço por isso.

Mas como em todas as vezes, meus olhos pesam e logo adormeço, não tendo força para sequer sustentar minhas pálpebras abertas.

《■》

Desperto ainda sentindo a presença sufocante em minhas veias. Não sei quantas horas se passaram, mas não me importo. A bandeja sobre o pequeno e inofensivo criado mudo ao lado da cama, é o suficiente para me mostras que já é noite.

Me levanto com um esforço grande, pego o prego e faço mais um risco na parede.

Mais um dia se passou.

Pego a bandeja e coloco sobre a cama, ignorando a dor em meus músculos pelo esforço.

Ervilhas, peixe, pão e água.

Meu estômago se contrai, mas como mesmo sem fome porque sei que se eu me recusar a comer os guardas enfiarão tudo por minha garganta, como haviam feito outras vezes.

A dor e a humilhação eram o suficiente para não querer senti-las novamente.

Depois de comer, levo a bandeja novamente pra o móvel e volto para a cama, sem poder ficar em pé por muito tempo.

Faço menção de me deitar quando a porta do quarto é aberta e alguém entra e a fecha logo em seguida.

Sinto minha cabeça latejar quando levanto o olhar e encaro Andryas.

Depois de trinta e três dias, essa é a primeira vez que o vejo e a única vontade que sinto é a de mata-lo. Não sem antes arrancar respostas de seus lábios.

Mas estou tão fraca, que apenas um movimento de minha cabeça faz tudo rodar.

Andryas da um passo em minha direção, ainda calado.

Cerro minhas mãos em punhos.

Seu olhar direcionado a mim faz com que minha pele arda em repulsa.

Pisco, devagar demais, sentindo que logo apagarei novamente.

- Você deve está se perguntando o que eu estou fazendo aqui. - Disse ele, com a voz rouca se aproximando mais um passo.

Não, não estou.

Eu o queria bem longe porque o quanto mais perto ele estava, mais eu queria mata-lo, e mais me lamentava por não poder.

Mas percebi que ele precisava daquilo. Precisava se ouvir falar. Era repulsivo e até deprimente.

- Eu vim porque preciso que você faça algo. - Disse o rei, como a víbora que se mostrara ser. - Mas antes - continuou ele -, vim esclarecer algumas coisas.

Se eu tivesse forças, teria rido. Andryas ainda parecia um rei bondoso, mas a única diferença era que agora eu conhecia o que havia por de baixa de sua mascara.

- Você é preciosa Calyn, muitos as querem, por motivos diferentes, mas não a podem ter. - Falou ele, fazendo com que bile subisse por minha garganta. - E eu encherguei o que ninguém podia ver. Todos estavam tão tentados por seu poder, tão cegos que não puderam enxergar que a nossa ruína era eminente, e em breve ela chegaria.

"Não posso dizer ao certo como, mas eu selei um trato com aquele que não pronunciamos o nome. Ele a quer, porque só o seu sangue pode liberta-lo de seu cárcere. E eu a entregarei, porque somente assim as minhas terras e o meu povo sairão  ilesos.

Traidor, traidor, traidor! - eu queria gritas aos sete ventos.

- Não me olhe assim! - Desse ele, com seu fingimento barato de tristeza. - Assim como eu, você sabe que não poderia viver o resto de sua vida fugindo e lutando. Eu apenas estou adiantando o que aconteceria uma hora ou outra.

Andryas sentou-se sobre a cama, perigosamente perto e levou sua mão a minha pele e erguel o meu queixo para que  pudesse encarar meus olhos.

Haviam nele luxúria, pura e em seu estado mais bruto.

- E, saindo ganhando com isso.

Bruscamente, afastei meu rosto de seu toque. O esforço fez com que o quarto rodasse por um breve momento.

- Mas por enquanto você está segura. - Completou se levantando da cama e caminhando até a porta. - Segura até me dar o que eu quero.

Um mal presságio me passou, e pude senti-lo em meus ossos.

- O que você quer de mim?

Perguntei, tentando transparecer o nojo que eu sentia por aquele homem. Mas as minhas palavras saíram roucas, esganiçadas e baixas devido ao longo período de tempo sem falar e a fraqueza de meu corpo.

Andryas me encarou e sorriu, um sorriso fino e cortante como uma adaga.

Fiquei incrédula quando seu olhar demonstrou algo a mais. Ele tinha um olhar contemplativo.

- O que eu quero de você, Calyn. - Falou com calma, se demorando nas palavras, saboreando aquele momento. - É um filho.

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