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O leve saculejar de meu corpo era o único indício de que eu ainda estava viva. Consciente, mas sem ter força para sequer abrir meus olhos.

Tentei falar, em vão, nem mesmo força para isso eu tinha. Mas me contentei, eu ainda estava viva.

- Você acha que ela vai... - alguém falou, em um sussurro.

- Ela está bem. - Gruniu outra voz, aborrecida.

Eu estava tonta, mesmo de olhos fechados. As vozes eram fundas, eu mal as escutava. Não podia os identificar.

- Bem o suficiente para você nos tirar daqui com um portal ou bem o suficiente para aguentar a viagem de doze dias até Aurindn?

Um arrepio passou por meu corpo. Eles estavam falando de mim. Eu voltaria para Aurindn, onde estava minha família. O restante dela.

- Bem o suficiente para cortar sua língua e joga-la fora para que você cale essa maldita boca! - Falou o outro, aborrecido.

Mas, de alguma forma eu sabia que também havia preocupação por trás de seu tom ameaçador.

As vozes não conversaram mais, e aos poucos adormeci, vencida pelo cansaço e pela fraqueza.

《■》

Acordei com algo quente e molhado escorrendo pelos cantos de meu rosto, percebi que não eram minhas lágrimas. Alguém segurava minha cabeça com cuidado enquanto outra mão acariciava meu rosto, com ternura.

- Seja forte - Aaron sussurrou e me coração falhou.

Eu estava delirando.

- Em breve, tudo ficará bem e você estará segura, nem que eu tenha que morrer por isso.

Você morreu. Eu quis protestar, gritar, chorar.

Um toque suave foi dado sobre meus lábios. Meu corpo se aqueceu em resposta.

- Seja forte. - ele falou, não como um comando, não como um pedido.

Aquilo era uma súplica, e por mais fraca que estivesse, me agarrei aquela frase. Eu não desistiria, nunca.

《■》

Era noite quando meus olhos voltaram a se abrir. Aos poucos, pude sentir meus dons, mesmo que fracos, eles estavam lá.

Segurei as lágrimas pela breve sensação de controle que retornava a meu corpo. Tentei me sentar, mas o mundo ainda girava.

- Com calma. Você está apagada a dias.

Meu peito doeu e lágrimas encheram meus olhos, tornando minha visão mais turva, quando pude identificar Victor, agachado ao meu lado. Sem me importar com a dor de meus movimentos, o abracei, ficando de joelhos a sua frente. Victor se desequilibrou e caiu para trás - no chão de terra seca cheio de folhas -, gargalhando feliz.

O som reverberou por meu peito, as lágrimas não paravam de descer, mas dessa vez eu as acolhia de bom grado pois a alegria em mim, o alívio eram maiores que quaisquer outras coisas.

- Eu senti sua falta - Falei para Victor, entre um soluço.

Victor sorriu.

- Eu também senti a sua.

Victor se levantou, ajudando-me a me erguer. Minhas pernas bambearam mas ele estava lá para me segurar.

- Maldita Maestrya. - xinguei, baixinho.

Victor riu.

- Está tudo bem. Aaron falou que assim que você acordasse os efeitos iriam passar mais rápido.

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora