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Mais Sete vidas seriam tomadas hoje.

Não houveram discursos, não houveram despedidas.

Todos sabíamos que aquelas vidas que seriam dadas para que nosso exército chegasse em Forceu de forma rápida, seria apenas o início da matança.

Não olhei em seus olhos, sequer olhei em seus rostos. Sabia que eles me assombrariam por muitos anos se nós sobrevivermos aos eventos que se seguirão, e essas sete vidas eram um pequeno sacrifício diante da guerra que abalaria toda Wareehon.

Quando as adagas perfuraram carne, sangue e tendões e quando os soldados e reis sumiram diante de meus olhos, teletransportados para nosso destino, naquele momento eu soube, que não haveria mais volta.

Quando chegamos a planície das terras secas de Forceu, longe o suficiente para que não fossemos pegas numa batalha de imediato, mas perto o suficiente para que minha visão anpliada pudesse ver as forças sombrias se movimentando na margem da floresta, montamos acampamento.

Seguindo para a grande tenda em seu centro, a tenda de planejamento de guerra, deixei que meu corpo sentisse o peso da armadura que vestia, aquela bagunça de tecido e ferro que me protegeria de algumas garras mas também me mantia feminina, e um tanto patética para se pensar neste momento, seu peso me mantinha em alerta. Aquilo era um acampamento na borda do que seria o nosso campa de batalha.

- Essa não é a melhor estratégia! - Escutei Urick rosnar, batendo em algo.

Diminui meus passo, desejando que isso atrasasse minha chegada naquela tenda.

- E há de fato uma estratégia melhor? - Rebateu Leônidas. - Você já a usou em Batalha Urick? - Questionou. - Perdão, lembrei-me. Nenhum de nós já lutou em uma guerra de verdade. Parecido com isso, somente aquela palhaçada em Fruent armada por Andryas!

Estremeci escutando aquele nome. Entrei na tenda.

- Não importa a estratégia - Falei entrando na tenda. - Não importa a maldita estratégia. - Repiti. - O portal está se abrindo, ele tentaram a todo custo nos atrasar, segurar nossas forças, ganharem tempo.

Os reis remanescentes me encaravam agora.

- Temos que ataca-los, com força e rapidez.

- Você quer que ataquemos com todas as nossas forças de uma vez só, na primeira batalha? - Perguntou Cass, incrédulo.

- Na verdade, preciso que vocês ataquem com força total, só assim poderei fazer algo.

- E o que exatamente você pretende fazer Calyn?

Encarei Saelor.

- Por um fim em tudo isso. - Olhei para os outros quatro. - De uma vez por todas. Então não importa com qual formação suas tropas iniciarão a batalha. Eu preciso que nosso inimigo mantenha sua atenção naquele campo.

E, antes que me fizessem mais perguntas das quais eu não poderia responder, sair da tenda querendo fugir de seus olhares questionadores.

Busquei entre o emaranhado e tendas, e soldados a tenda de panos negros, a minha tenda, e segui meu caminho até lá, pé-ante-pé sobre o peso dos olhares dos soldados de vários reinos de Wareehon. Alguns sussurrava, outros até mesmo apontavam em minha direção. Mas o que doía em meu peito era quando aqueles religiosos se curvavam quando eu passava, apertei o passo, querendo fugir daquilo, - aquilo eu não podia suportar. Eu era a rainha de nada. Não merecia reverência. Entrei tão as pressas em minha tenda, que nem mesmo percebi até dar de cara com um peito forte.

Dei um passo atrás, o suficiente para ergue a cabeça e encontrar os olhos de Aaron. Desde que havia saindo daquela saleta eu não havia o visto mais.

Aaron estava pálido. Sujo e coberto de Sangue negro, pele e pelos.

Abri minha boca para lhe perguntar, como havia sido com nossa amiga, se ele estava bem, qualquer coisa.

Mas Aaron apenas pegou minha mão, me puxando, e aconchegando-me junta a seu peito.

Aquilo doeu em mim, de tamanha forma que soltei todas as lágrimas que nem ao menos sabia que estava segurando. Eu era sim forte, tentava ser mais e mais a cada dia, mas a visão de Aaron e a situação na qual nós encontrávamos, a incerteza de nosso futuro ainda mais incerto, me fez desabar.

Aaron só me contou como havia sido depois que minha lágrimas sessaram, depois de limpar o sangue preto de sua pele, e depois de arrancar-me daquela confusão de pano e metal.

O Oráculo havia cobrado um alto preço, como o esperado, e por mais que Aaron não quisesse me dizer qual preço havia pagado, me contentei quando disse que ele lutaria ao nosso lado.

A noite, pouco depois do sol se por, me entreguei. Me permitir ama-lo mais uma vez. O beijei e derramei lágrimas no ápice de nosso amor. Pois por mais que eu tentasse abafar, eu podia sentir um mal presságio, uma certeza cruel de que essa talvez fosse a última vez em que eu seria sua, e ele seria meu. A última vez em que nossos corpos se encontrariam como um e nossas almas se uniriam em amor e paixão fervente.

Entregue, eu só queria viver naquele único momento, nas carícias das mãos ásperas de Aaron sobre meu corpo, no calor de seus beijos e na paixão avassaladora de suas doces palavras. Meu coração batia, com força desenfreada em meu peito e a simples ideia de que esses poderia de fato ser nosso último momento, me fez por um breve instante fraquejar. - Mas não, eu não daria as costa ao meu destino mais uma vez. Milhares dependiam de mim, e por mais que minha alma se partisse com a ideia, eu sabia que quando o momento chegasse eu estaria sozinha.

Eu deveria enfrentar tudo sozinha, e mesmo que a incerteza de uma vitória, ou da continuidade de minha vida pairasse sobre mim, afastei os pensamentos e apenas me permiti sentir. Mais de Aaron, mais do nosso amor, mais de nós dois.

E se fosse esse o destino trágico que os Deuses ousaram escrever para mim, eu o seguiria pois até aqui, havia recebido o mais belo dos presentes.

Amar e ser amada incondicionalmente.

Eu não sabia do futuro, não sabia das peças que o destino poderia me pregar, mas a única coisa que sabia era que eu lutaria, lutaria para estar novamente um dia nos braços do homem que amava.

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora