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"Você não era forte, Calyn."

Por horas, essa foi a única parte da fala de Aaron que se repetia em minha mente, várias e várias vezes. Como as rodas de uma carroça, esse ciclo parecia nunca ter fim.

Não demorou muito para que Andryas percebesse que eu queria ficar sozinha. Ele era observador, e graças aos Deuses, sabia quando preservar palavras desnecessárias e presentear-nos com o silêncio.

Agora, sozinha em uma pequena biblioteca do templo sagrado, me pergunto se era assim que tudo realmente deveria acontecer.

O Oráculo havia previsto?

Por mais que eu me perguntasse, eu sabia que sim.

"Não pense que chegou aqui sozinha, criança."

Ela mesmo o havia confirmado.

Até aonde Aaron iria por uma causa maior?

Eu, definitivamente, não sabia.

"Nunca se esqueça de quem está realmente do seu lado..."

《■》

— Como você está?

Ainda estava perdida em meus pensamentos quando Victor entrara no cômodo.

Ergui meu olhar em sua direção, analisando o garoto a minha frente. Sua postura era rígida, havia uma rala babar em seu rosto. Mas foram seus olhos que me chamaram a atenção. — Victor tinha um olhar perdido, uma tristeza da qual não se encaixara em seu rosto e em sua personalidade, estava lá. Vizivel a tudo e a todos.

— Como você está? — perguntei calmamente.

Victor me olhou de uma maneira estranha. Aquilo era alívio? Eu não sabia dizer.

Ele, sem receio, se aproximou de mim a passos largos e puxou-me para seus braços. Nunca ouvi um coração bater tão rapido como o seu.

— Eu sabia — Sussurrou com a voz entrecortada.  — Sabia que tinha alguma coisa errada no momento em seu corpo caiu sem vida sobre o chão. No momento em que vi o olhar em pânico de Aaron. No momento em que seu corpo sumiu. Eu sabia.

Victor tremia.

— Ninguém acreditou em mim quando disse. Falaram que eu estava de luto, que não sabia o que estava dizendo... que... que...

— Eu sei. Eu entendo, Victor. — Falei para acalma-lo.

Victor se afastou abruptamente e olhou em meus olhos. Pensei que jamais sentiria algum desconforto com tal ato, mas seus olhos... havia algo diferente em seus olhos.

— Não Calyn, você não sabe. — Victor disse, com um olhar distante. — As vozes. Você não sabe delas!

Em outros tempos, eu teria dado um passo atrás diante de sua loucura, mas agora tudo é diferente. Eu sou diferente.

— Que vozes, Victor? — perguntei, sem quebrar a conexão de seus olhos com os meus.

— Aquelas que são muitas ao mesmo tempo. Que dizem coisas boas, mas que também sussurram coisas más. — Victor balançou a cabeça, desnorteado. Parecia querer lutar contra a loucura, ou seria a sanidade? — Não me olhe assim Calyn. Espero não está ficando louco, mas ouvi a sua voz entre elas também.

Engoli em seco, começando a entender.

— E o que ela dizia Victor?

— Eu não sei — ele começou a deviar seus olhos, porém segurei seu rosto. — Foi como escutar um sussurro em meio a uma ventania. Não entendi...

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora