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Eu sabia que era um sonho, no instante em que a Figura sadia de Talick apareceu a minha frente com um sorriso em seus labios.

Estávamos em um bosque, em pleno Outono. Folhas marrons e alaranjadas caiam das árvores, carregadas por uma leve brisa, enquanto caminhávamos lado a lado.

- Está chegando a hora, Calyn. - Falou ele, sereno.

Uma pontada de dor ardeu em meu peito.

Eu sabia, sabia que estava perto do fim, não importava mais qual fim.

Levantei os olhos e encarei o rei do Dom do ar e me perguntei se os mortos saberiam o que se passa no mundo dos vivos. Me perguntei se ele sabia sobre Neféretty. Logo abafei esse pensamento.

Talick sorriu amarelo.

- Isso também terá um fim.

Suspirei, derrotada.

- Algum concelho? - Perguntei vencida por fim. Se isto era um sonho, um mundo de escolhas difíceis ainda me aguardava, ficar presa ao passado não me ajudaria em nada.

- Na hora, você saberá o que fazer.

Ah, claro.

Pelo jeito nem mesmo após a morte os reis paravam de falar em enigmas.

Talick riu. O som encheu todo local de vida.

Engoli em seco.

- Agora, acorde Calyn.

<<•>>

Após meu sobro com Talick, havia passado o resto da madrugada disperta. Não conseguia pregar meus olhos por mais que ao meu lado um Aaron sereno respirava devagar e tranquilamente.

Como ele conseguia?

Mas a verdade é que, se eu fosse esperta também descansaria, pois nenhum de nós estava preparado o suficiente para o decorrer do que viria.

Quando havia falado no dia anterior que era a hora de atacar, levada pela emoção e horror das imagens vistas na mente daquela criatura, eu estava convicta de que algo deveria ser feito antes que fosse tarde de mais.

Mas a realidade era que eu temia essa hora, a hora de verdadeiramente agir, pois não sabia se sebreviveria a isso. Entretanto convencia a mim constantemente que morrer por algo que acreditasse, por alguém que amava, seria a melhor formar de partir.

E se esse fosse o jeito de reencontrar a morte que me dissera uma vez que viria me busca quando eu a chamasse, que assim seja. Eu não fugiria deste destino.

Amanheceu, e só me dei conta disso quando mãos suavez passaram por meu corpo, me causando arrepios. Não falei nada, Aaron sabia e me conhecia o suficiente para conhecer os meu temores. Me permitindo esquecer por algumas horas, me entreguei mais uma vez a sua carícias e que fazia minha pele, corpo e alma arderem.

<<•>>

Mais tarde, após pedir mais uma vez que Pitter conferisse os corredores, encarei os homens em quem mais confiava.

E precisava contar para eles, aquilo que havia reprimido para que nem mesmo Victor visse em meus pensamentos o que eu havia visto na mente da criatura.

- Esse suspense está me matarde, Calyn. - Pitter resmungou, ao tomar seu lugar a frente das portas da pequena saleta a qual nós reunirmos.

Engoli em seco.

- Eu não lhes mostrei toda verdade. - Falei, recebendo olhares questionadores em resposta.

- Que verdade, Calyn? - Aaron perguntou, olhando em meus olhos, questionando o que eu havia escondido dele.

Dele, que mais conhecia a mim do que eu mesma pudesse conhecer.

Suspirei.

- Quando estava na mento do Sombra, eu vi... Sentir algo a mais. Suprimi o pensamento para que Victor não contasse aos rei.

Mais olhares confusos me encararam.

- A verdade é que sim, o portal está se abrindo. Mas por enquanto, apenas o suficiente para mais criaturas sombrias passarem.

- Por enquanto. - Repitiu Victor, para enfatizar aquilo que todos temiam.

Troquei meu peso entre os pés.

- Eu sei, eu sinto que posso fechar o portal antes que ele se abra por completo, isso se chegar perto o sufici...

- Não. - Falou Aaron me interrompendo.

- Não estou pedindo autorização Aaron. Estou pedindo ajuda. - Falei com firmeza. - Os Titãs não podem voltar. Seraphina conseguiu derrota-los uma vez. Mas eu não sou nem metade da Mulher que Seraphina foi.

- Você é mais - falou meu amado, dando um passo em minha direção.

- Você pensa que sou - Argumentei. - Mas a verdade é que mesmo sentindo todo esse poder correr em minha veias, eu tenho medo. Medo de que esse seja o fim. Eu senti a convicção da vitória nos pensamentos daquela criatura. Senti como se essa fosse uma guerra ganha para eles e eu não posso deixar isso acontecer!

Silêncio se fez, até Pitter quebra-lo.

- E como você pretende chegar até o portal, jamais visto por um mortal.

Engoli em seco.

- Preciso voltar a floresta negra.

- Bem no centro das forças inimigas? - Perguntou Aaron, com desdém.

- Sim.

Ouvi meu amado praguejar baixinho. Deixei que ele se expressasse pois sabia que entendia que eu não mudaria de ideia.

- O plano é: Marcharemos com os reis e seus exércitos, e no momento certo, no momento em que as forças sombrias estiverem inertes na batalha, eu irei atrás do portal.

- Não haverá batalha, nos não teremos chance alguma no momento em que você nos deixar.

- E é exatamente aí que você entra. - Aaron me olhou confuso. - Nós temos uma amiga em comum.

- Definitivamente não. Nem pelos sete infernos!

- Aaron...

- Nós não temos escolha. - Falou Pitter, tirando as palavras de minha boca. - Estou dentro.

Assenti para meu irmão, orgulhosa. Mesmo que uma parte de mim ainda quisesse o proteger o mal que se seguiria, eu sabia que precisava de sua ajuda. Pitter, assim como Victor, possuía parte de meu dom, eu não sabia como o havia entre a ele mas precisaria de todo esse poder na batalha que decidiria o nosso futuro.

- Quando chegar a hora eu preciso que vocês me deixem ir. - Falei, olhando um por um. - Muitos vão morrer, mas muitos mais morrerão se eu não fizer nada.

- Já que estar tudo decidido. - Falou Aaron, com o olhar sombrio. - Irei fazer uma proposta para nossa amiga.

Sem se despedir, Aaron deixou a sala.

Não o impedi. Eu sabia que sua chateação era somente por seu sentimento de proteção vindo a tona. - Mas Aaron havia feito muito para que eu me tornasse forte, então dessa vez eu não deixaria que a fraqueza dele colocasse tudo a perder.

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora