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Havia tantos soldados sobre o relevo do campo, no qual se encontravam os reis, oficiais e os voluntários, que pareciam formigas em formação.

Mas, conforme eu me aproximava mais daqueles que estavam no comando, mais meu coração esmurrava meu peito, me deixando sem ar.

Hoje vidas seriam salvas, mas a troco de outras perdidas.

Eu tentava me confortar, dizendo a mim mesma que era preciso, que muitos outros também morreriam se sacrifícios não fossem feitos.

Mas... Eury era meu irmão, com o qual cresci e aprendi a amar.

O peso do colar que eu carregava pendurado ao pescoço era quase que angustiante agora.

"Proteger é a sua sina, Calyn."

Disse Eury quando o me deu.

Para mim, era uma maldição.

Como eu o protegeria disso?

A verdade é que, por mais poderosa que todos pensassem que eu fosse, ninguém em toda Warehoon se sentia mais impotente do que eu neste momento.

Rostos se viraram em minha direção  quando me aproximei. Mas minha atenção se foi para Andryas que sorria pra mim, como se esperasse por minha companhia, mas o verdadeiro assombro estava presente no rosto de Neferétty, logo ao seu lado.

Iguinorei, pois a poucos metros de mim estava meu irmão junto com os outros voluntários.

Meu peito doeu é um nó se apertou ainda mais em minha garganta.

Meus olhos se encheram de lágrimas quando Eury me lançou um sorriso amarelo.

- Não chore.

Só percebi que Hellviel estava ao meu lado, quando sua presença fizera meus pelos se arrepiarem.

- Se uma só lágrima sair de seus olhos, você estará dando a todos uma oportunidade irrecusável de estripar um a um os membros de sua família, se isso a tornar mais fraca.

Estremeci.

- Eu não vou chorar. - Falei, sem poder encarar seu rosto.

Meus olhos já ardiam.

- Não se preocupe, criança. - Ele suspirou. - Logo isso será a menor de suas dores.

O encarei.

Hellviel mantinha seu rosto impassível, mas seus olhos pareciam perdidos.

Eu já não sabia mais se isso era um aviso ou um conselho por algo que ele mesmo sofrera um dia.

Agora, não importava mais.

Oito servos se aproximaram dos reis segurando caixas compridas de madeira entre as mãos, e pararam a frente de cada um deles, e um a minha.

Eles se ajoelharam, como em uma suplica.

Algo se agitou dentro de mim, não pela cena, mas para o conteúdo contido dentro daquela caixa.

- Reis e rainha de Wareehon.

Falou o anciã dos servos que reconheci, do templo sagrado.

Por mais que todos estivessem concentrados, a palavra "Rainhas" me deixou tonta.

Agora, eu também tinha um título. Porém, eu era a rainha de nada.

- A Guerra é eminente, mas corações valentes não temem, pois hoje a sua Vitória será declarada. E, nem mesmo aqueles seres se sobrepõem diante do corte de suas espadas.

As caixas foram abertas, e espadas surgiram, reluzentes e afiadas. Somente uma diferente das outras.

Ela era negra como a noite, quase ônix quando a empunhei. Leve e afiada, que um só movimento era o suficiente para escuta-la cortar o ar.

- Posicionem-se.

Essa fala, não foi dita pra nós. Percebi quando uma adaga reluziu na mão esquerda de meu irmão.

Minha respiração subiu, eu não poderia ver Eury tirar sua própria vida na minha frente.

Meus dons se agitavam dentro de mim, esperando apenas um comando para serem libertos.

- Não faça isso.

A voz de Hellviel agora era só um sussurro em meus ouvidos.

Mas...

Eury subiu a adaga, para pegar impulso.

Ele faria realmente aquilo.

- E que seus sacrifícios não sejam em vão... - Continuava o ancião.

Eu podia escutar meu coração esmurrar minha caixa torácica.

- Agora, que os Deuses os recebam.

Chamas já tomavam toda as minhas mãos e subiam por toda espada ônix a qual eu segurava com força.

Porém, alguém fora mais rápido do que eu, um alvoroço se formou, guardas tomaram posições de ataque, entretanto não fora rapido o suficiente. Os voluntários enfiaram suas lâminas até alcançar seus corações e os seus corpos caírem sem vida sobre o chão. Mas quando Eury estava preste a fazer o mesmo alguém o empurrou, tomou a adaga de suas mãos e cravou em seu próprio peito.

Apenas quando seu corpo caiu sobre o chão e seu rosto se virou em minha direção pude ver seu rosto.

Lágrimas caíram furiosamente de meus olhos, como seu não apenas eu mas meus próprios dons chorassem comigo.

Eury gritava, descontrolado.

Aaron vinha em minha direção quando seu corpo desapareceu, e vários outro um a um também sumiram conforme eram levados ao nosso destino.

O sacrifício estava feito, e essa compreensão fizera o rosto de meu irmão tomar feições sombrias quando ele olhou uma última vez para mim antes de desaparecer.

Me senti tonta e a última coisa que pude ver foram os olhos petrificados e sem vida de meu pai.

Sétima Filha - Traída Onde histórias criam vida. Descubra agora