14 ❀ runaway ❀ alison

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Já é quase cinco da manhã e eu tenho quase certeza de que ele já pegou no sono.

Sua mão está pesada sobre meu quadril e mesmo que ele esteja tocando — sem querer. — em um dos meus pontos estratégicos, eu estou tensa demais para acorda-lo pra mais um round. Eu preciso sair daqui antes de acabar me rendendo.

Lentamente tiro sua mão e ele se mexe. Eu me paraliso e espero um pouco para continuar a minha fuga. Consigo sair da cama e começo a juntas minhas coisas.

Seguro as duas únicas peças que me pertencem e o observo. Eu sou mesmo uma filha da puta.

Me xingo mentalmente por não ter pego uma blusa. Eu estou a pé e com certeza não vou sair por aí só com uma saída de banho, biquíni e short.

Cambridge pode ser até que seguro, mas são quase cinco da manhã e o Shawn parece ser rico demais pra se importar se eu roubar uma peça de roupa.

Pego sua camisa no chão, mas desisto dela quando avisto a camiseta que ele usava junto a calça de moletom. Parece ser mais confortável e... — a seguro em minhas mãos. — tem mais o cheiro dele do que a que eu estava usando.

Porra, Alison. Deixa de ser esquisita.

A visto e saio dali rapidamente. Pego minha bolsa, dou uma última conferida na minha cara no espelho do banheiro, à frente do quarto de Shawn e passo pela porta.

É, ainda bem que porta de rico não range.

***

Entrar nos dormitórios do campus de madrugada não é muito fácil. Quer dizer, não tem horário para estar dormindo, é óbvio, mas os olhares de Cindy, a segurança da noite são bem julgadores.

Passo por ela dando meu melhor sorriso e cominho pelos corredores até meu quarto. Paro e me escondo em uma das "esquinas" quando avisto alguém sair sorrateiramente pela minha porta. Um cara, alto e loiro. Certo, é a transa da Tina.

Ele olha para os lados e anda para o caminho oposto da saída convencional, por que isso sim não é legal. Também não é exatamente proibido, mas a dica é evitar levar garotos para dentro do campus.

Entro no quarto assim que ele sai de vista e minha colega de quarto se assusta.

— Isso que dá não trancar a porta. — ela está vestindo sua camisola.

— Ali! Porra, que susto garota. — ela para um pouco, pensa e me encara. — Onde tu tava? Meu Deus, meu Deus, meu Deus. Me desculpa. — ela corre até mim e me abraça. — Eu não achava que fosse levar tanto tempo depois de eu ter te ligado. Mesmo! Como eu posso te recompensar?

— Acho que ficando quieta já presta. — ela enruga o nariz e eu sorrio, lhe abraçando de volta. — Como foi a noite?

— Tu tá cheirando a álcool. — reviro os olhos e ela passa os dedos sob meus olhos, provavelmente tirando a maquiagem. — Essa festa foi uma loucura.

— O cara que tava aqui era de lá? — ela assente sorrindo e pega a minha toalha de banho atrás dela. — Um daqueles nojentos da Kappa Tau Gama?

— Eles não são nojentos. — ela diz virando só o rosto pra mim.

— Ah, então foi um deles, né safada. — rio e ela cora, virando o rosto de volta para o móvel de madeira escuro.

— É, mas esse tava mais pra um Deus grego. — ela vem até mim e me entrega o tecido branco.

— Nem me diga... — desvio o olhar e só agora ela nota o que estou vestindo.

— Espera um pouco... tu...?

— Sim, eu transei hoje. — pego minha necessair ao lado da minha cama.

— Eu achava que nessa virada de dia tu te privava de tudo que tu gosta e como teu esporte favorito é transar, não achei que...

— É, Tina. Eu fui contra as minhas próprias regras. E não pense que eu não percebi que a luz está desligada. — digo seca, em direção à saída do quarto, mas ela não se ofende, por que já está acostumada.

— Era mais fácil desligar do que explicar. — ela diz alto assim que fecho a porta.

Então, deixa eu te contextualizar.

Tiffany Portman — mais conhecida e obrigatoriamente chamada por Tina. —, é minha melhor amiga de infância, praticamente uma irmã. Da parte boa da infância.

A única pessoa que realmente me conhece e que graças a Deus também veio pra Harvard. Ela é bem mais inteligente e bonita que eu. Tem trezentos metros de altura e um humor invejável.

Ela é boa com as palavras e sábia demais. — o que geralmente me irrita. — Costumo considera-la minha consciência, e sem ela eu provavelmente já estaria morta, metida em uma clínica de drogados ou em um manicômio, quem sabe?

Volto ao quarto, depois de um longo banho quente. O banheiro é comunitário, então o conselho é acordar bem cedo, ou nesse caso, tomar durante a madrugada.

Tina já está dormindo quando entro e aproveito pra fazer o mesmo. Quando estou quase pregando os olhos, ouço-a se movimentar.

— Tu tá bem? — ela sussurra.

— To sim, já passou muitos anos.

— Se tu quiser a gente vai no cemitério amanhã cedo.

— Não precisa. Eu to bem, sério.

— Desculpa ter te convencido a ir na festa e mais desculpas ainda por ter te deixando sozinha.

— Tá tudo bem, Tina. A gente tá na faculdade agora, tu não precisa mais tomar conta de mim. — ela liga o abajur e pego meu controle, mudando os LEDs que iluminam todo o quarto pra cor vermelha.

— Tá bem, desculpa. — ela desliga a luz amarela e eu desligo a minha. — Mas não pensa que eu não percebi que tu mudou o horário do meu celular, de novo

Tá, isso é algo bem específico meu e só essa garota do meu lado sabe de todos os significados.

Basicamente, eu tive uma infância traumática e essa não é a primeira vez que dividimos o quarto.

Por longos anos eu tive problemas pra me comunicar, então certa vez, uma psicóloga me deu uma luz de LED portátil que mudava de cor e uma tabelinha com o significado de cada uma delas. Eu, minha mãe e minha irmã as memorizamos e a partir daí eu consegui me abrir um pouco mais. Com cores ao invés de palavras.

Pode parecer infantil — talvez até seja. —, mas eu não consegui largar esse costume. E a luz vermelha que eu liguei agora a pouco é a cor mais quente, ou seja, ela varia de paixão à raiva, então Tina teve certeza de que devia desligar o abajur.

Where Were You In The Morning ❀ Shawn Mendes ❀ Onde histórias criam vida. Descubra agora