12 ❀ bad luck in love ❀ shawn

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— É muito... incomum.

— Qual parte? A do meu pai ter conhecido o Neil Armstrong, da minha irmã ter me dado um soco que quebrou meus dois dentes da frente quando eu tinha oito anos ou eu ter vivido em um zoológico por dois dias, por que tava fugindo de casa?

— Tudo isso, quem sabe?

— Eu sei, não costumam acreditar. E se eu disser que minha mãe era modelo e desfilou pela Victoria Secrets antes mesmo de existirem as Angels?

— Eu vou dizer que é mentira.

— Pode pesquisar. Grace Scott, modelo internacional. — ela ri e logo leva a mão até a boca.
— Na verdade, não pesquisa, não. Sério, não... — ela olha pra garrafa em sua mão. — Tudo bem, tanto faz. — ela vira a última gota em sua língua. — A gente não vai se lembrar de nada amanhã, mesmo.

— O teu nome é igual o da tua mãe? — ela afirma com a cabeça e sorri. — Se a gente não vai se lembrar de nada, continua contando os segredos sórdidos da tua vida.

— Certo. Ãhm... eu perdi a virgindade com quinze anos e desde então... bom, até os dezesseis eu não transei com absolutamente ninguém. A primeira vez foi bem traumatizante e quando eu consegui de novo foi aquela noite com o teto de vidro que eu te contei, com o Ethan. — ela diz rindo, mesmo sem ter graça nenhuma.

Na verdade, na última hora ela vem rindo de tudo.

— Nisso eu acredito. O que mais?

— Pode acreditar em tudo, Shawn. — ela sorri e sinto seus dedos dos pés roçarem em minha perna.

Desde a última tentativa falha de tornarmos a noite um pouco mais íntima, nos posicionamos de frente para o outro, cada um encostado em um dos braços do sofá, e nossas pernas se acomodaram ao redor das do outro.

É uma forma bem aconchegante de ficar com uma completa estranha.

— Quero saber de mais.

— Tá bem, vamos lá. — ela joga a cabeça pra trás, pensativa e volta a me olhar. — Eu já tive um gato preto chamando Banguela, por causa daquele filme.

— Que fofa.

— Ei! — ela me repreende. — Me chame do que quiser, mas fofa é um insulto.

— Beleza. — rio.

— É sério.

— Tudo bem, Grace. Não te chamarei de fofa, mesmo que teu nome seja Grace. — abro um sorriso de canto.

— Conta alguma coisa que eu possa usar contra ti.

— Vejamos... eu tenho um costume não muito sofisticado. — ela levanta a sobrancelha esperando para que eu continue. Suspiro. — Está bem, eu... meio que fico imaginando as roupas íntimas das mulheres... modelo, cor, fecho e eu costumo estar certo. Tipo, eu levo em consideração a personalidade delas, o comportamento, a roupa que ela tá usando e eu tenho uma taxa de acerto beeeem alta.

— Gostei. Bem... — ela olha pra sua roupa e abre levemente a camisa. — Tu já viu a parte de baixo do meu biquíni e... — ela se inclina pra mim, deixando claro que está sem sutiã. — Sinto muito pela decepção.

— Algum dia eu supero. — digo apoiando o braço no encosto do sofá e rio, fazendo-a sorrir. — E tu quer me contar alguma coisa que eu possa usar contra ti?

— Eu tenho um caderno que tem absolutamente todas as coisas que tu pode usar contra mim. Mas com certeza eu nunca te deixaria ler.

— Que ótimo que tu fez eu me expor e agora não conta nada.

— Não confie nas pessoas erradas.

— Anotado. — ela sorri. — Certo, teu pai conheceu um astronauta, tua irmã é uma lutadora de boxe nata, tu já morou em um zoológico, tua mãe era modelo e tu é uma trapaceira.

— Isso mesmo.

— Sabe, eu não duvido.

— Que bom.

— Por que essa personalidade toda saiu de algum lugar e parece que tu tem varias áreas pra se espelhar. — cerro meus olhos pra ela. — Que faculdade tu tá fazendo?

— Jornalismo, por que?

— Ah, então talvez tu seja só uma boa contadora de histórias.

— Ou uma mentirosa compulsiva.

— É, isso mesmo. Mas, é tudo verdade? — ela da de ombros.

— São os pontos altos da minha vida.

***

Eu não devia estar abrindo isso.

— Tá com medo de que? Do teu pai vir aqui e esperar tomar um dos vinhos mais refinados do mundo contigo?

— Exatamente. Era esse o plano.

— Então tu não devia ter dito que tinha uma garrafa de quatrocentos dólares.

A rolha faz barulho pela pressão quando sai da garrafa.

— Não tem mais volta. — a pego me observando de cima do sofá. — Esse Meo-Camuzet será degustado, por nós dois, às — olho em meu relógio. — duas e vinte e quatro da manhã desse sábado. Me diz que tu é uma apreciadora de vinhos, Grace. Por favor.

— Eu com certeza sou uma ótima apreciadora, só não exatamente se vinhos. — sirvo duas taças sentindo seu olhar pesar sobre mim. — Tu sabia que fica muito sexy vestindo calça de moletom?

— Eu fico sexy de qualquer jeito. — lhe entrego uma das taças e volto para o sofá.

— É, nisso eu vou ter que concordar. — ela toma um gole. — Nossa, isso é bom.

— Ainda bem que tu gostou, mas depois tu vai ter que regurgitar tudo e a gente vai lacrar essa garrafa de novo.

— Tu tem medo do teu pai?

— Medo? Não. — rio nasalado. — Eu só queria um pouco de... reconhecimento, talvez. Tu tem medo do teu? — ela solta uma gargalhada estridente.

— Isso é bem irônico. — ela ri demasiadamente.

— Por quê? — já voltei a não entendê-la.

— Bom, é claro que eu não tenho medo do meu pai. Ele é um jornalista em San Diego que batalhou desde sempre pra dar as melhores condições de vida pra família dele. Ele é bem... amoroso, gentil e pacífico.

— Ah, ele é jornalista? É por isso que tu quer ser uma?

— Claro, ele é meu ídolo. — consigo notar uma certa ironia em seu tom, mas não entendo por que.

— Quem te ligou lá na igreja foi a tua irmã?

— Foi sim, como tu soube?

— Palpite. Como tu sabia que ela ia ligar naquele exato momento?

— Ela se importa bastante e liga meia-noite pra ter certeza que eu não to numa cama aleatória com um cara desconhecido e provedor de herpes genital.

— Mas ela não ligou meia-noite em ponto.

— Adivinha...

— Ah, verdade. Se tu altera o relógio de um completo estranho da igreja, por que não alteraria o da tua irmã?

— Isso mesmo.

— Parece uma boa família. Provavelmente melhor que a minha

— Ah, tu sabe... Sempre tem brigas, um querendo matar o outro e uma pitada de violência, mas no fundo todo mundo se ama.

— Queria ter uma família normal assim.

— Claro que queria.

Where Were You In The Morning ❀ Shawn Mendes ❀ Onde histórias criam vida. Descubra agora