10 ❀ the church ❀ shawn

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— O quê? Igreja? — ela puxa seu cabelo em um rabo de cavalo e o prende com um elástico que estava em seu pulso.

— Sim! Pra ouvir os sinos. — ela corre até a esquina e eu a sigo.

— Já passou da meia-noite.

— Eu atrasei o relógio deles. — ela sorri satisfeita e aponta para a torre branca entre as árvores — Quatorze minutos.

— Cacete. Eu to aqui a dois anos e nem sabia que tinha uma igreja e tu...

— Em uma semana, invadi o lugar e alterei o relógio do carinha que trabalha lá. Sabe, algumas igrejas não se dão ao trabalho de badalar o sino nem antes das missas, mas essa dai tem uma pessoa que vem aí só pra isso. Toda noite.

— Mas por que?

— E eu lá vou saber dessas coisas de igreja? — ela da de ombros e segue andando.

— Não, não. Mas por que tu alterou o horário? — corrijo.

— Ah... eu só... — ela mantém seu olhar reto. — É uma forma a mais de atrasa-los. — ela ri de forma nervosa.

— Atrasa-los? Como assim?

— Essa fé toda, mantém todo mundo no mesmo lugar. Esse tipo de coisa só faz com que a gente espere por tudo ao invés de buscar por nós mesmos.

— Tu tem alguma coisa contra a igreja? Ou algo do tipo?

— Não, eu só... Esperança nunca é bom, Shawn. A realidade é dura e bruta e a gente tem que lidar com ela alguma hora. — diz seca. — E as vezes, nem Deus — ela aponta pra igreja, que agora já está a nossa frente — é capaz de nos livrar dela.

— Mas tem esse negócio de amenizar as coisas.

— Tu é religioso, Shawn? — ela me encara.

— Não, mas eu acho que entendo eles se entregarem a algo e...

— Shh! Meia-noite e quatorze. — ela se senta no meio fio e ouve o badalar com os olhos fechados. — Só mais um pouco.

— Mais um pouco e o que? — me sento ao seu lado, tentando entender tudo aquilo.

— Mais um pouco e isso. — ela aponta pra bolsa e imediatamente seu celular começa a tocar e ela o pega, levantando-o a sua frente.

— Atende!

— Deixa tocar mais uma vez e... Alô. — ela leva o aparelho até seu ouvido e se levanta. — Espera um pouco... Shawn — se direciona pra mim com a voz um pouco rouca. —, eu só vou falar rapidinho aqui e já te dou atenção, eu... só... só um minuto.

— Tudo bem, eu espero.

***

Depois de longos quatro minutos — que mais pareceram quarenta. —, Vai-Se-Foder volta até mim com uma expressão muito menos depressiva.

— O que tu acha da gente assaltar algum lugar e roubar bebidas? — pergunta virando sua garrafa, que não cai nenhuma gota de dentro.

— Ah, pode ser. — rio e me levanto.

— Tem uma ótima loja de conveniência no posto da esquina e o caixa da noite é o filho da dona. Um lerdo, e se tu quiser, é só eu abrir um pouco dessa... — ela começa a desabotoar a camisa.

— Espera aí, espera aí. — seguro sua mão, sobre seus peitos. — Tu tá falando sério?

— Ué, por que não?

— Por que é um crime, talvez?

— Uma garrafa de vodka não faz falta a ninguém.

Ela me olha e abre um sorriso de canto que apenas me obriga a concordar.

Where Were You In The Morning ❀ Shawn Mendes ❀ Onde histórias criam vida. Descubra agora