Capítulo 6

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   Um dos piores sentimentos que o ser humano pode sentir é o da culpa, “ eu deveria ter feito mais.”, isso nos mata por dentro. Criamos na nossa própria mente, um loop infinito revendo nosso erros, onde a cada vez que analisamos percebemos um pequeno detalhe que poderia ter feito a diferença; onde até uma respiração feita de um jeito diferente poderia ter mudado tudo.
   Isso tortura, parece gritar na sua mente o quão inútil você foi em certo momento, o quanto você ou alguém pagou pelo seu erro. Ainda mais quando esse erro é a morte.
  Ainda me pergunto quantos sentimentos cabem dentro de uma alma humana, quantas escolhas podem definir você e seu futuro, quantas mentiras precisamos contar para começarmos a acreditar nelas; Uma vida dedicada a descobrir seus próprios segredos e a sofrer por eles.
   Somos tão falhos a ponto de acreditar fortemente e confiar em nossas próprias perspectivas. Criamos uma ilusão sobre nossas esperanças, muitas vezes confundimos os dois e é a partir daí que você fraqueja, seus medos se tornam obsessão e sua esperança se torna medo, medo de falhar e medo de não melhorar.
   Toda a minha vida eu tive esperança sobre tudo; conhecer minha mãe, viajar pelo mundo, descobrir os segredos que eu tanto desconhecia sobre mim. Mas isso agora é medo e decepção, alguém pagou a própria vida por mim, para que eu pudesse estar com meu pai. E os sentimentos que sinto são os mais variados possíveis, espero profundamente que elas me afoguem em mim mesma.
   Duas pessoas morreram por minha causa em menos de um mês, mesmo que a segunda de forma indireta, mas ainda sim por minha causa.
   O meu mundo parece me engolir, tudo o que eu sabia e tudo que eu descobri parece se alastrar dentro de mim matando cada esperança frágil que eu tinha. Uma parte de mim, tenta se convencer de que nada poderia ser feito, a outra já aceitou que eu fraquejei.
   Uma pessoa com quem eu não tinha amizade morreu para me proteger. Se meu pai não tivesse me levado lá. Se eu tivesse ajudado de alguma forma. Se a Nix não tivesse ido atrás de mim.
   Se, a palavra que leva à vários caminhos, duas letras que te faz questionar todas as possibilidades, uma pequena palavra, mas tão pesada que afunda o ser humano em seu próprio consciente.
   Faz poucos minutos desde que a Milena morreu, mas eu ainda consigo ver seu olhar de desespero, sua dor. Ela foi corajosa, morreu com meu respeito, preciso fazer jus à ela, preciso vingar sua morte de qualquer jeito. Não com mais mortes, mas com dignidade.
   Ainda não sei o que a Nix quer comigo, ela não se daria o trabalho de ir atrás de mim, a filha que ela nunca tinha procurado apenas para ter um momento de mãe e filha. Não sei em que tipo de enroscada eu me meti, mas preciso sair disso, antes que eu me afogue novamente em culpa e desespero.
   Não vou sofrer mais nenhuma perda.
   Assim que atravessamos o portal, deixamos para trás o apartamento da Milena e entramos em um lugar desconhecido. A Nix sumiu, ela não está mais aqui, apesar de ter atravessado o portal apenas alguns segundos antes do meu pai e eu.
   Logo a claridade toma conta da minha vista. Estamos em um quarto grande, Uma cama redonda grande se posiciona no centro do quarto. A parede é de pedras lisas de calcário branco, pintadas em alguns lugares de azul escuro.
   Um véu transparente e Azul marinho desce do teto, banhando as beiradas da cama. O chão está coberto por um tapete de veludo, com uma imagem central de uma lua e runas desenhadas nas bordas. No teto há um lustre de vidro, com várias mãos segurando velas gordas e grandes.
   Em um canto tem um grande espelho redondo com bordas esculpidas de ouro e uma pequena cômoda. Do lado oposta há um guarda roupa grande, com várias portas.
   As paredes estão cheias de tochas enfileiradas, e quadros antigos enfeitam o lugar. Atrás da cama, vejo uma cortina e fracos feixes de Luz da lua atravessam-na, iluminado o quarto. É simplesmente magnífico.
   — Onde estamos? – sussurro.
   Meu pai caminha até a cortina e puxa uma corda que está ao lado dela, a cortina se abre lentamente e o quarto todo é invadido pela brisa noturna. Eu Caminho até ele e vejo pela janela o quão alto estamos do chão.
   Eu diria que quase trinta metros. A minha visão se alastra pelo grande jardim que vai até um muro alto, que quase não percebo no horizonte e circudeia​ até aonde consigo acompanhar.
   Eu conheço esse jardim, as rosas azuis, os canteiros de flores, as árvores altas e os animais esculpidos em plantas, o caminho de pedras hexagonais que ligam vários pontos do jardim. O jardim da minha segunda visão.
   — Na porta do Submundo – ele finalmente responde, sussurrando, admirado tanto quanto eu. – estamos no palácio da Nix.

Nix - A dama da noite Vol.I Onde histórias criam vida. Descubra agora