Prólogo

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PORTO
Portugal

A obra estava a todo vapor, já na fase de acabamentos, os operários trabalhavam freneticamente, de um lado para outro. Mais uma antiga casa do centro histórico da cidade do Porto estava sendo adaptada para virar um moderno hotel.

- Pô, Cabeça! Eu já disse pra ti cara, tem que puxar isso com toda delicadeza, capricha na argamassa, essa parede tem que ficar lisinha, senão vai aparecer as imperfeições quando colocar o adesivo na parede.

- Falou, Doutora! Eu disse que ia fazer isso pessoalmente para não ter erro. – O rapaz baixinho respondeu em bom português brasileiro, um dos muitos imigrantes que vinham tentar a vida no além mar.

- Já te disse que não sou médica, essa mania de doutora é lá no Brasil. Se um português te ouve me chamando assim, vai querer se consultar comigo ou achar que tenho doutorado, tu sabes como aqui eles levam tudo ao pé da letra.

- Tudo bem, Dona Maria João.

- Vou aceitar essa.

Abri um sorriso e fui caminhando pelos corredores do que um dia seria um belo hotel. Ah! E o que eu estou fazendo aqui?

Prazer, sou Maria João Costa, brasileira mas bisneta de portugueses, sou Engenheira Civil e assim como muitos outros brasileiros vim me aventurar no além mar. Abri uma pequena empresa na cidade do Porto, onde emprego vários brasileiros, que assim como eu, se aventuraram fugindo da crise para cá.

Aquele com quem estava falando era o Marcelo Junior, conhecido como Cabeça, meu braço direito desde o Brasil, as primeiras obras que eu fiz ele era um simples servente, foi crescendo na profissão e hoje ele é meu Mestre de Obras, homem de confiança dentro de cada projeto que devo erguer bravamente. Por que este mundo masculino das construções exige que as mulheres sejam meio brutas para aguentar o tranco.

Eu nunca fugi do batente, aprendi o ofício com meu pai, que dizia ser mais peão de obra do que Engenheiro, e aqui estava eu seguindo o legado da família, arregaçando as mangas por que não sei apenas dar ordens. Então estava aqui, ligando eu mesma a fiação das luminárias e pendurando de forma milimétrica, com todo meu rigor exigente.

De repente ouvi aquela voz firme porém feminina da minha sócia.

- Maria! Você não falou para os caras limparem isso aqui?

- Paula, relaxa que eles estão vindo lá de cima até aqui em baixo. Por que assim que viemos fazendo o acabamento. – Falei sem tirar a atenção do meu serviço.

- Os homens estão vindo hoje ai para a fiscalização, menina! Eu não quero ter que levar carão!

Acabei de colocar a última luminária do corredor, desci as escadas e encarei uma Paula completamente nervosa. Ela era praticamente meu lado Administrativo, ela conseguia os clientes e o dinheiro, eu fazia a mágica acontecer.

- O CABEÇA! – Gritei na esperança que ele me escutasse.

- Sim Doutora? - O rapaz meteu a cara no início do corredor perguntando. Revirei os olhos, perdendo as esperanças de consertar.

- Larga aquela parede, amanhã continuamos, ajuda o pessoal a terminar a limpeza. – Me virei para minha sócia perguntando. – Quanto tempo temos?

- Uma hora estourando. – Paula me disse aflita.

- Quarenta e cinco minutos, Cabeça! – Implorei juntando as mãos em um gesto desesperado.

- Pra já! Fechou!

O rapaz sumiu rapidamente, olhei para a minha amiga com um sorriso. Retirei o capacete branco de Engenheira da cabeça, limpei o suor da testa, e voltei a colocá-lo novamente.

It's a man's world || CR7Onde histórias criam vida. Descubra agora