Alguém como você.

15

Ao chegar no hotel que Liliane havia comprado o biscoito, Felipe e Michael foram recebidos por uma senhora muito simpática que os recebeu com um largo sorriso:

_Boa noite, nós gostaríamos de uma informação -Michael não alongou o assunto logo tratando do que queria.

_ E qual seria essa informação?

_ Fomos informados por uma amiga que aqui vende um biscoito caseiro muito saboroso.

_ Ah sim, é os biscoitos que meu filho faz.

_ Seu filho, e podemos falar com ele?

_ Isso não é possível.

_ Podemos saber o motivo?

_ O motivo é que ele está em viagem, chegará apenas mais tarde, se quiserem esperá-lo.

_ Nós ficaremos. Pode separar dois quarto para nós?

Enquanto o esperava resolveram dar um passeio pelo lugar, era de fato muito lindo, ar puro, muito verde, um lago.
Michael adorou o lugar, e aproveitaria para fazer Felipe descansar também, pois ele era sempre tão agitado.

Já era tarde, enquanto Felipe tomava um pouco de sol, Michael ajudava dona Cilene na cozinha, foi então que Felipe notava que alguém se aproximava cauteloso. A voz que lhe falava era tão baixa que mal se dava para ouvir:

_ Desculpa, mas já nos conhecemos?

_ Nunca estive aqui, e também não enxergo, não reconheço a sua voz, então... não acho provável que nos conhecemos?

André exibia um sorriso tímido no rosto:

_ Estranho. Eu tenho certeza de já o ter conhecido, algo em você me soa familiar.

_ André meu filho, esses senhores estão aqui a tua espera.

_ Ah, então você é quem faz os biscoitos?

_ Biscoitos?

_ Esse.

Michael retirava um biscoito do bolso:

_ Ah esse - Era a vez de André dizer:

_ Com quem você aprendeu a fazer esse biscoito, eles tem o mesmo sabor que o meu noivo fazia.

_ Esse biscoito de coração, eu fiz sozinho, ninguém me ensinou.

Admirado Michael o mirava:

_ Quer dizer que simplesmente resolveu fazer e ficou com esse sabor?

_ Não exatamente, a um ano eu fiquei interessado por culinária, então comprei alguns livros de receita e comecei a fazer experiências.

_ Isso é fantástico - Michael era sincero em sua colocação _ E fazendo experiência você conseguiu fazer exatamente esse biscoito com esse sabor e esse artesanato.

_ Por algum motivo, sempre achei que alguém gostasse desse biscoito.

Ele lançou um olhar para Felipe, abaixando logo em seguida. Por um breve momento Michael percebeu o interesse de André por Felipe, e isso de alguma forma o incomodou, mas não expressou isso em palavras:   

_E você deu um nome para eles? 

Felipe perguntava de repente:

_ Eu não pensei na verdade, não pensei em dar nenhum nome. 

Não tendo descoberto nada relevante, Michael pediu uma fornada de biscoito para levar para viagem, enquanto André preparava-o, ele e Felipe resolvia dar ainda mais um passeio, na volta ambos acabavam pegando uma chuva no meio do caminho, ao voltarem para o hotel André lhes oferecia um chá quente de gengibre, e Michael mais uma vez se sentiu incomodado ao ver o interesse dele tão explícito em Felipe, André entregou a xícara de Michael e segurou a mão de Felipe para entregar-lhe a dele.
Michael deu um sorriso sem graça a ele e André reforçou:

_ Deve beber enquanto o chá ainda está quente.   

A forma como André dirigia as palavras para Felipe era diferenciada, Michael não sabia dizer o que era mas sentia algo diferente no tratamento, ele tratava Michael bem, isso era inquestionável, ele era um rapaz tímido e gentil, o tipo que transmitia paz de espírito, porém com Felipe havia um brilho no olhar, sua voz ficava mais leve, o sorriso se ampliava: 

_ Não acho que vocês devam ir com essa chuva, a estrada fica escorregadia nessa época, acho mais prudente passarem a noite  aqui e amanhã vocês vão. 

_ O que acha Felipe?

_ Tudo bem.

Antes de se recolher, Michael levou Felipe até o quarto, ensinando quantos passos ele teria que dar da cama ao banheiro e dizendo que se precisasse era só bater na parede que ele viria vê-lo no mesmo instante.
Depois de explicar  tudo foi para o quarto ao lado, no meio da noite, Felipe seguindo as coordenadas que Michael havia lhe ensinado,  abriu a porta do quarto para chamar Michael pois estava com sede, porém sentiu uma presença a lhe observar:

_ Quem está ai?

_Sou eu André.

_ Eu iria chamar o Michael para me levar para a cozinha, estou com sede.

_ Eu posso levá-lo.

_ Não vai te incomodar?

_ Não..., não.

O cheiro vindo da cozinha indicava que ele ainda estava preparando os biscoitos:

_ Ainda fazendo biscoitos?

_ Recebi uma encomenda de última hora  e precisei fazer mais uma fornada extra.

_ Quer ajuda?

André sorriu concordando, logo Felipe estava mexendo a massa com uma amassadeira.

_ Então... você apenas criou esse biscoito, sem nem ao menos se dar conta?

_ Não foi exatamente assim.

_ Como foi então?

André segurou um dos biscoitos na mão e pensativo começou a explicar:

_ Naquela época, eu queria fazer um biscoito que tivesse algum significado, fiquei pensando e de repente me surgiu a ideia, o propósito desse biscoito é simbolizar dois corações que sempre ficarão juntos, é como se a pessoa dissesse meu coração, sempre seu coração...

Felipe parou no mesmo instante, pois foi exatamente essas as palavras que Luan havia lhe dito uma vez quando ambos degustava aquela guloseima:

_ Coração com coração, nunca separados. O motivo de ter colocado esse flocos de neve em cima dos dois corações... também não sei, talvez eu apenas goste do padrão hexágono do floco de neve.

Felipe escutava estático:

_ P... é porque...

_ Porque todas as formas geométrica, o hexágono, tem estrutura mais estável e mais forte.

André erguia o olhar para focar o rosto de Felipe:

_ Como sabia disso?

_ O meu noivo... também disse a mesma coisa antes.

_ Então, onde está o seu noivo agora?

_ Ele faleceu.

_ Desculpa, eu não fazia ideia.

_ Tudo bem, não se desculpe.

Quando Felipe estava para retornar ao quarto André lhe chamava:

_ Felipe... eu já escolhi o nome para o biscoito... ele se chamará Eldevais. 

Felipe apenas sorriu, como podia ele pensar exatamente como Luan? 


Quando o dia amanheceu, Felipe e Michael despedi-se de dona Cilene e de André que sentia seu coração desolado sabendo que Felipe iria para longe, o rapaz tímido não sabia dizer o que significava mas sabia que essa despedida lhe doía, tudo o que o rapaz queria era permanecer ao lado de Felipe.   
***

Willian já esperava Felipe com uma grande novidade, foi só o tempo dele chegar, tomar um banho e os dois foram ao orfanato onde Luan havia estado antes de ser adotado.

Um diretor os recebeu, e entregou a eles uma fotografia antiga, nela dois menininhos sorriam, entre outras crianças, com certeza aqueles meninos idênticos era nada mais nada menos que Luan e Michael. Ali estava a prova de que eles eram irmãos, e gêmeos:

_ Nunca pensei que não encontraríamos os pais biológicos do Luan mas encontraríamos o seu irmão gêmeo, no final se o Luan soubesse ficaria emocionado.

_ Também acho meu amigo, também acho.

_ Willian, me diz o Luan e o Michael se parecem tanto assim?

_ São exatamente iguais. Eu gostaria que você pudesse ver por si só.

Willian respirava fundo:

_ Na verdade, você sempre esteve na lista de espera do transplante de córnea.

_ Que fila de espera?

_ Eu sei que você nunca quis que arrumássemos uma operação de transplante de córnea para você, mas eu nunca desisti, pois eu quero o melhor para você. 

_ Eu sei disso Willian.

_ O Michael ser igual ao Luan, não gera curiosidade em você, não te anima para ver por si só?

_ Willian, obrigado, eu irei pensar sobre o assunto.

Willian sorria, era a primeira vez que Felipe dizia que iria pensar no assunto, era um grande progresso.