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Convencer Michael foi mais difícil que Felipe imaginava, ele estava irredutível em sua decisão, mas ele acabou concordando em voltar ao trabalho.

Felipe não contou a Michael as mentiras de Kennedy, nem que Vanessa havia lhe entregue o pen-drive, seria mais fácil para ele não ver o namorado como um crápula, mesmo que essa fosse a melhor definição que poderia classificá-lo.

Willian os acompanhariam até certo ponto na volta para casa depois seguiria caminho diferente da casa de Felipe, por isso Michael dirigiria o resto do caminho, entretanto em um cruzamento acabou se envolvendo em uma confusão, um rapaz enfurecido batia no capô do carro mandando ele descer, Felipe pediu que ele não fosse, mas Michael acabou descendo, sem nem ao menos dizer uma palavra o rapaz lhe golpeava fazendo Michael ir ao chão, mesmo tentando dialogar o rapaz queria briga, obrigando assim a Felipe sair do carro, transtornado o outro homem estava com um taco de beisebol em sua mão e ameaçava acertar a cabeça de Felipe que não teria nenhuma chance de reação, vendo que isso aconteceria Michael entrou em sua frente sendo golpeado perdendo os sentidos, em meio a confusão Felipe gritava pedindo por ajuda, o rapaz acabava fugindo assustado pensando ter matado Michael que estava desacordado:

_ Por favor me ajude, por favor chamem uma ambulância.

Em meia hora os dois já estavam no hospital, por sorte a pancada não havia acertado em cheio ou ele teria corrido o risco de um traumatismo craniano, mas ainda assim Michael precisava ficar em observação.
Quando acordou quem estava no quarto com ele era Willian, Michael logo pensou em Felipe, será que ele estaria machucado?

_ Cadê o Felipe, Willian, ele está machucado?

_ Não se preocupe, Felipe está bem, ele está na sala de espera.

Michael levantou-se sob protesto de Willian:

_ Ele está bem Michael, é você quem está precisando de cuidados.

_ Eu preciso vê-lo Willian. Eu preciso.

_ Tudo bem... eu desisto vocês dois são dois teimosos.

Michael encontrou Felipe sentado em uma das cadeiras na sala de espera, ele estava sozinho, seu rosto entre as mãos:

_ Felipe..

_ Ele levantou-se abraçando Michael com firmeza, as lágrimas:

_ Perdão, eu não pude te proteger, me desculpe Michael, me desculpe. Eu estava lá eu tinha que te proteger e eu não fui capaz, eu fui inútil, eu falhei miseravelmente, me perdoa, por favor me perdoa?

Michael sabia que aquele choro não era apenas por ele, havia muito sofrimento, muita dor, muita culpa naquelas palavras, sabia que era um tumultuado de sentimento que mesclavam o presente com o passado, era o choro preso de dois anos pelo Luan que se misturava ao que tinha acontecido e por isso Michael retribuía aquele abraço ainda mais forte:

_ Tudo bem Felipe, está tudo bem, não se martirize assim eu estou bem.

Sem conseguir segurar o impulso Felipe o beijou, um beijo lento que se tornava sofrego ao mesmo tempo, Michael se permitiu ser beijado mas o beijo foi interrompido com a chegada de Willian que ainda tentou sair sem que os dois percebesse mais em vã tentativa:

_ Desculpa Felipe, me desculpa. Michael.

_ Não Willian, eu quem tenho que pedir desculpas ao Michael.

Michael permanecia em silêncio.
***


Michael só foi liberado dois dias depois para ir para casa, Felipe e Willian foram buscá-lo, mesmo ali no carro com cuidado porém ao mesmo tempo animado Willian dava a notícia de que o Felipe seria o próximo da lista na doação de córnea, Michael não escondeu a sua alegria a essa informação enquanto Felipe permaneceu inquieto:

_ Poxa Felipe, eu esperava uma reação diferente dessa cara, já fazem dois anos, agora você tem a chance, vai mesmo deixar escapar?


Willian deixava o sorriso em seu rosto desfalecer no mesmo instante vendo a expressão no rosto do rapaz.
Michael apenas fez um gesto dizendo que se responsabilizaria para tentar convencê-lo e Willian se calou.

Já sozinhos Michael pediu para falar com Felipe, ele estava em seu quarto:

_ Entre Michael.

_ Antes de falar o que eu vim fazer aqui, eu quero te agradecer Felipe.

_ Agradecer?

_ Sim, eu sei que tudo o que você faz é pensando nos outros, uma vez eu disse que tive uma impressão errada a seu respeito no começo, mas com o passar dos tempos eu percebi o quanto eu me enganei, Felipe você é uma pessoa incrível, você ama as pessoas que estão ao seu redor, Willian, Thalia, seus pais, até a Vanessa - Michael sorria _ tenho certeza de que o Luan te amou muito, por que qualquer pessoa no mundo se sentira lisonjeado por ter alguém como você do lado, e eu tenho certeza Felipe que não deve ter sido fácil para você superar a perda e ainda não é, foi uma perda bastante triste para você, mas o seu sofrimento é o sofrimento de todos os que te amam, eu tenho certeza de que o Luan seria o primeiro a te incentivar a curar os seus olhos, por que se ele te amava de verdade ele não iria querer te ver na escuridão. Bem... era só isso o que eu queria dizer.

Quando Michael virou as costa para sair, Felipe o segurou pela mão:

_ Você vai ficar comigo no hospital, o primeiro rosto que eu quero ver é o seu, será que eu posso te ver?

Michael eufórico abraçou Felipe:

_ É sério você vai operar?

_ Irei.

_ Posso mandar o Willian vir para irmos, tem certeza de que não vai desistir?

_ Tenho Michael, tenho certeza, eu não irei desistir.

Um pouco mais tarde Felipe passava por uma bateria de exames para verificar se estava apto para operar, enquanto estavam no hospital Michael recebia uma ligação:

_ Alô quem é? _ Sério mesmo que legal, vou, vou sim te encontrar, só não poderá ser agora, pois estou no hospital... 

... Ah não, não, não estou doente, é o Felipe, ele quem está fazendo um exame.
Tudo bem, nos vemos depois.

_ Quem era?

_ O André, ele está aqui na cidade, e marcamos para ele me ensinar a fazer os biscoitos para você.

_ Além de enfermeiro o nosso Michael agora vai aprender a fazer biscoito? - brincava Willian.

_ Gosto de variar as minhas aptidão Willian.

_ Convide-o para ensinar lá em casa.

_ Tem certeza, não irá te atrapalhar. Aprender a fazer biscoitos deve fazer bagunça.

_ Convide-o.

Michael ligava para André na mesma hora combinando de se encontrarem naquele mesmo dia, o levando para a casa de Felipe, logo que ele chegou ele parou diante da entrada, observando atentamente o lugar:

_ Algum problema André?

_ Não, ... você já teve a sensação de conhecer um lugar sem nunca ter vindo nele?

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