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Na solidão de sua casa, Kennedy vivenciava em sua mente tudo o que acontecera durante aquelas últimas semanas, o término com Michael, o fracasso da reunião, o confronto com Felipe, e com uma garrafa de conhaque um copo na mão ele afogava suas mágoas na bebida, mas seus pensamentos estavam tão longe que ele acabava deixando o copo cair ao chão, ao pegar os cacos de vidro acabava fazendo um corte fundo em seu dedo. Desiludido ele resolvia ir a farmácia para comprar um remédio antitetânico, encontrando as mesmas vitaminas que vira Vanessa tomar:

_ Com licença posso ver aquele?

O atendente lhe passava então as vitaminas:

_ Obrigado, esse serve para que?

_ Esse são vitaminas nutrientes para mulheres grávidas. Tem muita vitamina para a mãe e o bebê.

_ Grávidas?
***

Michael estava se preparando para dormir quando Felipe lhe ligava para confirmar o encontro que teriam no dia seguinte, no dia seguinte pela manhã ele também teria um encontro com André, portanto o seu dia estava com a agenda cheia, e como combinado ele levantou cedo e foi ao encontro de André, tomaram café juntos, conversaram e depois almoçaram juntos. 

Depois do almoço, Michael convidou o rapaz para ir para sua casa conhecer a sua mãe, André não hesitou nem por um instante em aceitar, porém ao levantar-se acabou sentindo-se tonto e desmaiou no meio do restaurante. 

Levado ao hospital o médico informava:

_ O seu estado é estável, não sabemos o que tem feito o seu coração reagir dessa maneira, mas em todo caso uma pessoa transplantada é sempre mais perigoso por causa da rejeição, depois do soro você poderá ir para casa, mas lembre-se tem que ter mais cuidado e tentar descansar o máximo possível. 

_ Obrigado doutor, serei mais cuidadoso.

André já se sentia bem melhor, mas deixava Michael deveras preocupado:

_ André, eu ouvi o seu pai dizer que o seu coração era fraco, mas eu não imaginei que fosse tanto assim. Não imaginei que fosse algo sério. Por que não me disse que fez um transplante de coração?

_ Eu não quero que se preocupem comigo, eu estou bem.

Michael segurava a mão de André:

_ Somos amigos, e amigos se preocupam. 

André ficava olhando para Michael demoradamente então perguntava:

_ Michael, você acredita em memória celular?

_ Memória celular? _ Sim! Quando eu estava na escola de enfermagem eu li algo a respeito. 

_ E o que acha sobre isso?

_ Embora não tenha sido provado pela medicina, houveram alguns caso, é por isso que as pessoas falam em memória celular.

_ Você acredita que existe?

_ Talvez. Além de que existem muitas coisas, que a ciência não podem provar. 

André ficava pensando se deveria dizer ou não que acreditava que as memórias de Luan estavam em sua cabeça porque o seu coração estava batendo em seu peito, mas na hora em que abria a boca para falar o telefone de Michael começava a tocar:

_ Alô!

_ Estou te esperando no lugar marcado. 

Michael olhava o relógio:

_ Algo errado?

_ Não, não se preocupe.

_ Acho que deve ir ao seu encontro.

_ André, tudo bem, eu esperarei até que o soro acabe. 

_ Obrigado. 

Como prometido Michael ficou com André até que ele recebesse alta, e seu pai o viria buscar, Michael atrasado entrou em um táxi no exato momento em que Kennedy chegava, ele havia marcado um encontro com Vanessa na frente do hospital

_ Porque quis me encontrar aqui.

Vanessa confusa olhava para o prédio hospitalar:

_ Vamos conversar lá dentro.

Kennedy arrastava a moça para dentro a segurando pela mão:

_ Me solta - Vanessa puxava a mão em vã tentativa.

_ Temos uma consulta marcada com o doutor Rafael - informava Kennedy a recepcionista:

_ O que pensa que está fazendo?

_ Você está grávida não está?

Vanessa se recusava a responder, ele então retirava o frasco de vitamina do bolso mostrando-a:

_Isso é para mulheres grávidas não é?

_ Então me trouxe aqui para confirmar as suas suspeitas?

_ Essa criança não deveria existir Vanessa. Essa criança foi um acidente, nós não esperávamos que isso acontecesse, ele será um fardo para você. Você não precisa assumir essa responsabilidade. 

Indignada a moça o olhava:

_ Você está sugerindo que eu... Porque está fazendo isso?

_ Se fossemos amantes, eu ficaria muito feliz com a chegada desse bebê, mas não é o caso. É só um acidente que não esperávamos. Dar a luz a uma criança quando não teremos um futuro não é algo feliz, não será algo bom para você. Não se esqueça que tem alguém no seu coração, você terá que enfrentá-lo no futuro, embora o corpo seja seu, e eu não tenha o poder de interferir, mas essa criança, eu tenho responsabilidade por ela, e o dever de passar isso com você, você pode me culpar por tudo isso, sou o único que decidiu privar essa criança da sua vida, não você... Não se preocupe, o médico que eu marquei é especialista em ginecologia. 

A moça ainda o olhava pensativa:

_ É muito famoso.

_ Isso é um problema meu, e eu já decidi que vou dar a luz a essa criança. Eu cuidarei dessa criança sozinha, você não tem que tomar nenhuma decisão por mim. 

Ela se levantava saindo, deixando Kennedy ali parado a olhando se afastar. 

Se fosse algumas semanas atrás essa seria a melhor notícia, afinal ele tinha esperança de conquistar Vanessa, mas com a possibilidade de perder Michael fez ele entender o quanto ele era importante, aquela criança simbolizava a confirmação de sua traição, e se ele tinha esperança de reconquistar o rapaz ela estaria perdida para todo o sempre com essa gravidez, e ele também sabia que Vanessa nutria um amor platônico por Felipe Richter, ou seja sempre Felipe estava em seu caminho, atrapalhando a sua vida. 

O ódio só aumentava a cada dia que passava, Vanessa e agora Michael envolvidos com o grande rival.

As oportunidades  que sempre almejou se esvaindo por entre seus dedos, tendo um único culpado por todos os seus problemas, Kennedy não perdoava a humilhação, o desprezo, o término do namoro e culpava Felipe Richter por todos os males que lhe sucediam durante os últimos dias. 

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