Feirinha da Pavuna

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Notas: Oi! Essa é minha primeira vez postando nesse site! Essa fanfic ja foi postada e finalizada originalmente no spirit, mas algumas pessoas pediram pra eu postar aqui também então cá estou rs
A fanfic se passa no Rio de Janeiro. Eles são cariocas na fic, deixei o nome coreano pra não ter confusão e etc, mas são carioquinhas.
Espero que gostem ^^
Boa leitura!

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Irritado era pouco para o que Yoongi estava. Ele estava louco de raiva, deprimido, cansado, amassado e suado; Yoongi era a definição da derrota naquele momento, sendo espremido por trocentas pessoas dentro daquele vagão de metrô que parecia nunca parar de encher. Ele imaginou que seguiria sua viagem - porque ir para a casa de Hoseok era uma viagem - tranquilo, com os fones no ouvido enquanto ouvia o último álbum do Tiago Pethit, mas o universo tinha outros planos e entre eles constava uma senhorinha entrando num vagão de mal educados, fazendo Yoongi levantar para dar lugar, afinal, tinha recebido educação.

O universo planejou Yoongi indo de Botafogo até a Pavuna de pé em um metrô lotado; vinte e quatro estações espremido contra a parede do vagão porque as pessoas são sem educação e não levantam para idosos, mesmo quando estão no assento preferencial; vinte e quatro estações ouvindo os mais diversos assuntos, desde uma moça que falava sobre o rapaz do trabalho que ela queria pegar, até um homem com um fedor terrível saindo das axilas que falava no telefone sobre o Bolsonaro. Yoongi não merecia aquilo. Ele havia colocado até perfume para ver Hoseok, detestava usar perfume, mas o namorado gostava, então não custava nada usar de vez em quando. Deixou até de beber com os amigos no barzinho perto da faculdade para ir mais cedo pra casa do namorado, definitivamente não merecia passar por aquilo.

Mas não bastava apenas vinte e quatro estações de pé, sentindo cheiro de cecê e pisões no pé, eu disse vinte e quatro estações ouvindo um homem chamar o Bolsonaro de mito e uma moça contar todas as fantasias sexuais que ela tinha com o colega de trabalho, apenas isso não era castigo suficiente. Ao chegar na estação da Pavuna, sentindo-se um lixo, completamente esgotado e com as pernas doloridas, descobriu que a escada rolante estava quebrada. Yoongi sentiu uma súbita vontade de se jogar nos trilhos e morrer eletrocutado, mas se morrer já era triste, morrer na Pavuna era deprimente.

Yoongi subiu as escadas com uma lerdeza fora do normal, teve vontade de subir engatinhando de tão cansado que estava. Sabia que sua expressão também não deveria estar uma das melhores, pois uma garotinha que antes estava sorridente, começou a chorar ao olhar para ele, Yoongi só queria ser ela para poder chorar em público também.

Ao ver Hoseok, Yoongi já foi tirando a mochila das costas para entregá-la para o namorado, ele o fez enfrentar uma viagem de vinte e quatro estações em pé, o mínimo que podia fazer era carregar sua mochila pesada.

ㅡ Oi, mô. ㅡ Hoseok sorriu, indo abraçar Yoongi de lado, mas o mais velho praticamente jogou a mochila para ele. ㅡ "Qual foi", Yoongi? Já 'tá putinho?

ㅡ E tem como não ficar? Eu vim espremido igual uma sardinha enlatada, pisaram no meu pé e me fizeram cheirar cecê, você pode carregar minha mochila?

ㅡ Ah, e eu tenho culpa, né? ㅡ Yoongi aumentou o bico que formou nos lábios e Hoseok o segurou pelo pulso. ㅡ Vem, minha mãe 'tá te esperando pra jantar.

Palavras não eram suficientes para expressar o quanto Yoongi odiava a Pavuna. Não exatamente a Pavuna num geral, até porque Hoseok morava em São João de Meriti, mas odiava aquela obra do demônio daquela feira, a tal "feirinha da Pavuna". Yoongi odiava aquele lugar, odiava a falação, a música alta que saía dos camelôs e odiava o cheiro também. Yoongi odiava como aquele lugar vivia sempre cheio de gente, que na maioria das vezes não sabia falar com "com licença" e saíam batendo com a bolsa em quem quer que fosse. Já Hoseok adorava aquele lugar, era ali que comprava os DVD's pras festas que fazia, sempre encontrava algum conhecido ali e adorava principalmente o fato de viver cheio de gente. Yoongi chamava de amostra grátis do inferno, mas Hoseok gostava dizer que era só calor humano.

O que Yoongi não podia negar é que ali tinha uma grande variedade de produtos, claro que a maioria não vinha de fontes legais, mas aparentemente não importava. Dava pra encontrar quase de tudo ali, desde roupas à alimentos, até animais vendiam, Yoongi tinha medo de algum dia encontrar alguém vendendo órgãos ali, conseguia até imaginar os burburinhos "Lá na feirinha 'tá tendo promoção, um fígado por cinquenta reais só, dois por setenta e se comprar três, o rim sai só por vinte!".

ㅡ Por que 'tu sempre fica com essa cara de bunda quando passa aqui? ㅡ Hoseok perguntou rindo, como se já não soubesse da resposta. Ele perguntava só pra irritar, o maldito.

ㅡ Você sabe muito bem.

ㅡ Sabe o que é isso? Recalque porque o Zeca Pagodinho já cantou música que fala da feirinha, ele já cantou música sobre alguma feira em Botafogo?

ㅡ Sei lá, Hoseok. O pagodeiro aqui é você. ㅡ Hoseok riu e teve que segurar Yoongi que já ia caindo por tropeçar em um buraco. ㅡ Argh, tá vendo? É por isso que eu odeio isso aqui.

ㅡ Um dia tu ainda vai dar valor pra feirinha. ㅡ Yoongi ia rebater, mas um indivíduo enviado diretamente pelo capeta surgiu de algum buraco chamando por Hoseok, na verdade, gritando.

ㅡ Ô Hoseok, filho da puta! ㅡ Hoseok olhou para trás e logo abriu os braços rindo, abraçando o amigo.

ㅡ 'Coé, vagabundo! O que que 'tu manda? ㅡ Yoongi tentou não fazer cara de cu, porque Hoseok ficava chateado quando ele fazia cara de cu para seus amigos, mas era praticamente impossível. Eles haviam parado justamente em frente a uma barraquinha que estava tocando Henrique e Juliano, Yoongi detestava sertanejo e havia passado o último final de semana na casa de Jungkook, o que o rendeu quase trinta horas de sertanejo universitário, ele precisava desintoxicar.

Depois de quase cinco minutos de conversa, Hoseok se despediu do amigo e finalmente voltaram a andar. Já estavam quase no final daquela feira maldita, ele já conseguia ver os carros e sentir o ar puro da fumaça dos ônibus, quando Hoseok parou bruscamente batendo com a mão na testa.

ㅡ Puta merda, minha mãe pediu pra eu comprar abacaxi, esqueci mesmo.

ㅡ Não vende perto da sua casa não?

ㅡ Vender até vende, mas a coroa gosta das frutas de uma barraquinha lá perto do metrô... Vem, vamos lá rapidinho. ㅡ Yoongi ia rebater, ia pedir pra ir na frente, pois estava cansado, mas Hoseok já o puxava para dentro daquele inferno novamente e uma mulher passou batendo a bolsa com tudo nele. Yoongi não teve nem tempo de ficar com raiva da mulher, pois um "Ô filho da puta!" seguido de um "Coé, 'menó" de Hoseok invadiu seus ouvidos, juntamente com o último lançamento do Lucas Lucco.

Yoongi odiava aquela feirinha.

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