Sarau

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Hoseok estava na merda.

Algumas semanas atrás, tinha dito que precisava ir para Xerém porque sua tia-avó estava com intoxicação alimentar enquanto sua prima dava a luz sozinha no outro quarto, deixando então seu outro primo de apenas seis anos sozinho no meio de tanta confusão e Hoseok - numa família com sete tios e tias e vinte primos - era o único parente que estava livre, sendo obrigado a faltar o sarau literário que os amigos da faculdade de Yoongi organizaram. Mas comprovando que não dava pra mentir pra mentiroso, Yoongi descobriu que Hoseok estava na verdade em um evento no Arpoador chamado Rebolation in Rio, dançando axé todo serelepe num palco improvisado. Hoseok nem suspeitava que o namorado estava escondido atrás de um food-truck e ficou sabendo apenas quando Yoongi o obrigou a faltar um pagode para lhe acompanhar em um sarau em Ipanema.

Hoseok até tentou chamar mais pessoas, mas nenhum de seus amigos estavam livres, pois a maioria estava indo pro pagode. Não era como se Hoseok não gostasse de poesia, ele gostava duma parada mais profunda e tal, mas acontece que aquele dia ele só queria se acabar no litrão e descer um churrasquinho, fora que o círculo de amigos de Yoongi era complicado.

Sabe aquele pessoal hipster que você só vê no facebook posando com cara de fome pras fotos e se vê pessoalmente, estão sempre emburrados? A famosa galera do lacre que posta textão vinte e quatro horas por dia com hashtag militei, cujos comentários são quase sempre "arrasou migx!!!" "pisa menos, eu te imploro" "lacrou muito" "que pisão na família tradicional brasileira"? Esses eram os amigos de Yoongi. Às vezes Hoseok parava pra pensar e se achava um pouco injusto, porque mesmo não gostando, Yoongi ia aos pagodes e churrascos onde seus amigos farofeiros estavam, mas ele mesmo não aguentava muito tempo com a galera do lacre.

Tipo, se for pra aguentar alguém falando de política enquanto bebe cerveja que seja Namjoon, que sabe a hora de parar. Hoseok lembrava de um dia ter olhado a lista de amigos de Yoongi no facebook durante a época das eleições e todos, literalmente todos, os amigos dele estavam com figurinha de "eu fecho com o Freixo" na foto do perfil, inclusive Yoongi. Hoseok tinha opinião sobre política, mas a mesa do bar era sagrada demais parceiro, nesse momentos o partido dele era o PT: Partido Tega. Você não a ofende iniciando discussão sobre qual político é melhor quando 'tá nela, porque nenhum deles presta.

Hoseok até tentou argumentar, tentou explicar que faria qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, pra não ter que ir, mas não adiantou nada. Yoongi estava firme na ideia de levá-lo para essa tortura, mesmo que Hoseok se sentisse mais deslocado do que um vegetariano ateu numa feijoada pra São Jorge.

ㅡ Mô, seus amigos nem gostam de mim... Aquele Zeca lá, ele me olha torto pra caralho toda vez que vou na tua faculdade. ㅡ Yoongi estava se arrumando, mas Hoseok continuava sentado na cama do namorado com a toalha enrolada na cintura, talvez se fingisse um desmaio não teria que ir...

ㅡ Você chamou ele de cover do lenhador da Federal, tipo, a noite toda! Ainda ficou perguntando pelo japonês da federal... Nem eu gostaria de você se estivesse no lugar dele. ㅡ Hoseok deu de ombros, o cara realmente parecia o tal policial lá, ele só quis dar uma quebrada no gelo! Não tinha culpa se o cara não tinha senso de humor.

ㅡ Mô, eu faço um arquivo com várias fotos do meu junior pra você... Mando quantos nudes você quiser...

ㅡ Pra que eu iria querer fotos do seu pênis se posso ver pessoalmente, Hoseok? E nem tudo gira ao redor de sexo. ㅡ Hoseok riu. Ouvir isso logo de Yoongi, logo do homem que mandava mensagem durante a aula falando absurdos sobre pênis e cus - os pênis e cus deles, pra ser mais específico - era uma surpresa. ㅡ E se veste logo caralho!

Hoseok tentou de tudo, mas não teve jeito. Era sexta-feira e ele estava indo pra Zona Sul ver um pessoal estranho cantar e recitar poesia, o pior é saber que dificilmente encontraria um conhecido ali, todas as pessoas que ele gostaria de passar as próximas horas conversando estavam no pagode. Estava sendo um pouco preconceituoso talvez, mas é que realmente não tinha paciência pra carioca metido a paulista. Claro que não trataria ninguém mal, afinal tinha noção das coisas e conseguia controlar sua cara de cu, mas com certeza iria precisar duma boa cachaça e Zeca Pagodinho no último volume quando saíssem dali.

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