Capítulo 12

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Diferente do que eu pensei, o fim de semana foi igual todos os outros. Nenhuma aproximação com meu pai. Depois de toda aquela preocupação dele na sexta, imaginei que seria mais presente. Porém, só o vi no sábado à noite e escutei sua voz no corredor conversando com outra pessoa...uma mulher, para ser mais exata. E não era a Vânia.

Não sei mais o que é dormir direito, tenho pesadelo sempre que fecho os olhos. Mas não conto para ninguém.
Passei todo fim de semana ansiosa para hoje, vou finalmente ver o professor Ruan. Ele sempre aparece nos meus pesadelos, sempre me abraçando e é assim que eu acordo.
Chego na escola um pouco atrasada, como na maioria das vezes.

- Bom dia, Isa. Atrasada, de novo. - o professor Ruan me cumprimenta sorrindo.

- Não é um bom dia. - falo fria.

- Problemas? - ele pergunta. Não respondo e vou para meu lugar. Percebo que ele me observa por alguns segundos, mas logo começa a sua aula.

Dez minutos antes de acabar a aula do professor Ruan, ele pede os cadernos para dá o visto na atividade. Sou a última a entregar meu caderno e, quando pego de volta, vejo algo escrito no canto superior direito da folha. Sento no meu lugar e leio o recado do professor Ruan.

"Me encontra na biblioteca durante o intervalo"

Espero ansiosa para o intervalo e, assim que o sinal toca, vou calmamente para a biblioteca.
Ao entrar, vejo que a bibliotecária não está.

- Ela foi ao banheiro, deve demorar um pouco. - ouço a voz do professor Ruan e o olho sentado em uma mesa.

- O que quer comigo? - pergunto seca e me aproximo dele.

- Quero saber o que está acontecendo. - diz - Você está estranha, Isabella. Sei que tem algo te atormentando e quero que me diga o que é.

- Isso não lhe interessa. - falo grossa.

- Já entendi que não quer me falar nada. - ele suspira - Eu tentei, pelo menos.

- Como conhece o Rogério? - pergunto e ele me olha - A relação de vocês não é apenas de patrão e empregado.

- Nos conhecemos à muito tempo. - ele diz.

- Não foi isso que eu perguntei. - ele sorri de lado.

- Devia perguntar ao seu pai. - o professor Ruan fala.

- Se essa é a minha única opção, prefiro não saber. - me aproximo de uma das estantes e escolho um livro.

- Gosta de ler? - professor Ruan questiona.

- É uma maneira de fugir um pouco da realidade. - falo sentando e abro o livro começando a ler o mesmo.

- Uma maneira de não enfrentar seus problemas? - paro de ler e olho para o professor Ruan.

- Talvez... - falo depois de um tempo. O professor Ruan abre um caderninho que tinha e escreve algo.

- Olha... - arranca a folha e coloca na mesa perto de mim - Quando quiser conversar com alguém ou precisar de ajuda, pode me ligar. - vejo um número de telefone escrito no papel.

- Não vou precisar. - falo.

- Talvez... - ele sorri - Eu tenho que ir, mas depois conversamos mais. - ele levanta e beija a minha testa saindo da biblioteca em seguida.

Observo ele atravessar a porta e, quando não posso mais vê-lo, desvio meu olhar para o papel que contém seu número em cima da mesa. Pego o mesmo e o observo por algum tempo. Guardo no bolso da calça e volto a ler meu livro.

- Isabella. - ouço alguém me chamar e vejo a porteira da escola me olhando - O diretor quer falar com você. Imediatamente. - ela diz e sai da biblioteca.

Suspiro irritada e vou até a sala do meu pai. Bato na porta e ele grita para que eu entre. Faço isso e sento na cadeira à sua frente.

- Por que me chamou aqui? - pergunto sem ânimo nenhum enquanto o observo.

- A polícia ligou. - ele diz, parecia irritado.

- E o que eu tenho a ver com isso? - pergunto querendo sair logo dessa sala.

- Eles querem falar com você, Isabella. Disseram que se você não comparecer hoje à tarde na delegacia, já mandaram um intimação para minha casa. - ele termina de falar e me encara esperando que eu fale algo.

- Era apenas isso? - pergunto.

- Você não vai me dizer nada? Não vai explicar o que está acontecendo? - ele altera um pouco a voz.

- Você se importa? - levanto uma das sobrancelhas.

- Me fala logo o que você fez, Isabella. - praticamente, grita.

- Não sou obrigada. - falo o desafiando.

- Sai da minha frente. - fala um pouco mais baixo.

- Até mais, Rogério. - levanto.

- SOME DAQUI, ISABELLA. - ele grita.

Sorrio de lado e saio da sala dando de cara com o professor Ruan.

- Ele está com raiva? - pergunta.

- Quando se trata de mim, ele sempre está com raiva. Não é novidade. - falo indiferente.

- Vou falar com ele. - diz o professor entrando na sala. Vou até o banheiro e, depois de averiguar que não tem ninguém, bloqueio a porta com o banco que havia ali. Passo alguns minutos me encarando no espelho.

"O que eu fiz para o meu pai?" - essa é a pergunta que não sai da minha cabeça.

Suspiro cansada e sento no chão do banheiro. Sinto meu celular vibrar e vejo que é uma mensagem do meu pai. Meu coração acelera no mesmo instante.

Mensagem on...

Vou à delegacia com vc hj, me espera em casa.

Não quero a sua companhia. Posso fazer isso sozinha.

Vc não tem escolha, Isabella. Vc é menor de idade, eu sou o seu pai.

Vc não se importa comigo, Rogério. Não entendo porque está fingindo o contrário.

Realmente, conversar com vc é muito difícil. Até por mensagem.

Me deixa em paz, então.

Nos encontramos hj à tarde, em casa. Estou ansioso para saber o que vc aprontou e decidi qual o seu castigo. Não pense que ficará impune.

Mensagem off...

Não respondo mais. Olho a foto de perfil do Whatsapp do meu pai, ainda não tinha visto. Ele e uma mulher... Com certeza, a que ele leva para casa algumas noites. Os dois sorriam. Isso me dá nos nervos.
Jogo meu celular e ele acerta o espelho, o mesmo se quebra enquanto meu celular cai no chão. Alguns casos de vidros se espalham pelo banheiro.

Suspiro irritada. Preciso me acalmar.
Pego meu celular é vejo que apenas rachou a tela, nada demais. Olho o espelho quebrado e ouço o sinal tocar anunciando o fim do intervalo. Saio do banheiro e vou para minha sala como se nada tivesse acontecido.

A Filha do DiretorOnde histórias criam vida. Descubra agora